who i am: antiga
Já chegou o homem novo, aquele
por Whit-
man anunciado, embora
sujeito a insuspeitos
refrões financeiros. Basta
que um fale
conhecemo-los todos, todos
igualmente superficiais,
trazem na lapela o sinal
emblemático da sua pobreza
de espírito. Outros trazem mais
a regra da indiferença
e nós, as mulheres, cobrimo-nos
com as pinturas da guerra
declarada ao sucesso
do homem novo. Moderno
como um fogo cáustico, tudo
devora, a Natureza
e as próprias raízes, tudo
sobrevoa cego de apenas ver
em diferido.
Nós ouvimos o real uivar
prisioneiro da sombra, o mapa distor-
cido, a cartografia desta doença
planetária que murcha e desagrega
o cérebro à lareira, no bramido
à vida pondo fim. Desapareceu
dos lábios a doce palavra
«companheiro», somente
a beiça voraz escancara dentes
dourados, rupestres, as presas
do bom hálito do homem novo.
Tanto faz ficares connosco, porque
partir é onde ilusionistas
e agências nos transportam, só
a cortês nesga do rio nos leva:
ásperas, pedra-pomes. Desgraça,
demais confiámos o corpo à margem
calma, aos risonhos bebedouros, - insinuavam:
pejados de alma, mas alma, alma,
é coisa para antigos
livros poéticos.
Paulo da Costa Domingos in OUVIMOS O REAL
Paulo da Costa Domingos - Carmina (1971 - 1994)
Antígona (1995)