som eterno
Das coisas visíveis não se deve dizer «mais nada».
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
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Das coisas visíveis não se deve dizer «mais nada».
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
if it doesn't come bursting out of you
in spite of everything,
don't do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don't do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don't do it.
if you're doing it for money or
fame,
don't do it.
if you're doing it because you want
women in your bed,
don't do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don't do it.
if it's hard work just thinking about doing it,
don't do it.
if you're trying to write like somebody
else,
forget about it.
if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.
if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you're not ready.
don't be like so many writers,
don't be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don't be dull and boring and
pretentious, don't be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don't add to that.
don't do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don't do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don't do it.
when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.
there is no other way.
and there never was.
Charles Bukowski - "so you want to be a writer?"
Vagueio de casa em casa como os frades da Idade Média que enganavam as raparigas e as mulheres casadas com contas e baladas. Sou um viajante, um bufarinheiro, pagando com uma caução a hospitalidade que me oferecem; sou um convidado fácil de agradar; alguém que ora dorme no melhor quarto da casa, na cama de dossel, ora passa a noite no estábulo, deitado num molho de feno. Não me importo com as pulgas, o mesmo se passando com o toque da seda. Tenho uma percepção demasiado clara da perenidade da vida e das tentações que a caracterizam para impor proibições. Apesar de tudo, não sou tão tolerante como vos pareço
Virginia Woolf – As Ondas (1931)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Durante e após a II Guerra Mundial, muitos cientistas sociais se perguntaram como fora possível que nações inteiras seguissem líderes não democráticos, com programas de ação de extermínio de outros povos. Foi para responder a esta pergunta que um grupo de investigadores da Universidade de Berkeley concebeu um plano de investigação que começara a ser delineado por Theodor Adorno ainda na Alemanha. A hipótese de partida era a de que os motivos económicos não teriam desempenhado na ascensão do nazismo o papel determinante que na altura (e ainda hoje) se lhes atribui. Para a equipa de Adorno, seria importante explorar o papel do pensamento preconceituoso e autoritário [...] os mesmos autores mostraram que o etnocentrismo estava associado ao conservadorismo e ao autoritarismo, e este a atitudes sociais como a punição forte das pessoas consideradas desviantes, a desconfiança em relação à ciência e a visão do mundo como um lugar perigoso.
Jorge Vala – Racismo, Hoje, Portugal em Contexto Europeu (2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Jorge Vala (2021)
Várias pessoas com quem contactei (algumas já falecidas), falaram-me desses momentos, inesquecíveis para quem os viveu. Como Henri Zvi Deutsch, jovem adolescente na altura, que me contou que os pais, fugidos da Alemanha, nem papéis tinham - com eles apenas traziam fé e esperança. Zvi Deutsch mencionou-me o tipo de vistos que vários autores consideram como únicos na história da diplomacia mundial e que o cônsul de Bordéus terá produzido às centenas. Tratava-se de um simples pedaço de papel onde Aristides (ou talvez um dos seus filhos) escrevia o seguinte texto: «O governo português pede às autoridades francesas e espanholas que deixem passar o portador, ou portadores, deste visto de trânsito temporário. Trata-se de um refugiado, ou refugiados, do conflito armado a decorrer na Europa, a caminho de Portugal.»
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
É difícil imaginar o estado de espírito de Aristides quando se apercebeu de que não conseguiria salvar todos os refugiados que por ele esperavam. A imagem do cônsul português a passar freneticamente vistos na rua em Bayonne, ou a acelerar rumo à fronteira para abrir ele próprio a cancela antes que lá chegasse a ordem que dava os seus vistos como nulos, foi aproveitada pelos instigadores do seu processo disciplinar para sugerir "ato de loucura" de um "homem perturbado por trágicas circunstâncias". Mas nós, a sua família, sabemos que era compaixão e o sentido de justiça que o moviam, e a vontade de "desobedecer até ao fim" para conseguir salvar o máximo de vidas possível. Mesmo que isso lhe custasse o resto da carreira.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
Bordéus, que em tempos de paz tinha cerca de 200 mil habitantes, até 15 de junho iria contar com mais de um milhão de habitantes. Como acolhê-los, onde se refugiariam eles?
Em 1940, as pessoas não tinham máquinas fotográficas como hoje. Se não há registos de imagem suficientes desses dias negros, há, no entanto, uma gravura que ilustra melhor que tudo o que foi a entrada em Bordéus, em meados de junho de 1940, pela Pont de Pierre. Essa visão catastrófica ficou, sem dúvida, gravada nas mentes de Aristides e Angelina, tal como ficou gravada na mente do pintor e gravador Charles Philippe, o artista que a celebrizou dois anos mais tarde numa gravura que faz parte dos Arquivos Municipais de Bordéus [...] e das janelas do consulado de Portugal viam-se facilmente os autocarros, as ambulâncias, as centenas de automóveis particulares e os milhares de pessoas "engarrafados" nesta entrada de Bordéus, à mercê de um eventual ataque aéreo.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
L’exode juin 1940
Charles Philippe
E ele era uma figura apaixonante no deserto desta cidade tão provinciana na época, com uma meia de cada cor, os roupões, o fato-macaco, os sapatos diferentes, o visual tão criativo e tão fantástico.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Na conversa que Aristides teve com Angelina e com os filhos José António, Pedro Nuno e Isabel (e Jules d'Août, seu genro) invocou vários argumentos espirituais e históricos, que já foram citados por vários autores. Tentarei recriar um deles, que me foi dito e repetido muitas vezes pelos meus familiares e por outras pessoas que o conheceram bem: «Estes refugiados são filhos de Deus, vítimas inocentes de uma guerra monstruosa que os foi tirar a suas casas, e se não fizermos nada por eles, poderão morrer debaixo de bombas, ou de fome, ou serem assassinados pelo invasor. A nossa obrigação e dever, como pessoas crentes em Deus, é ajudá-los, tal como faria o Bom Samaritano. A Circular 14 é injusta e não tem em conta os terríveis sofrimentos causados a todas estas pessoas. Foi redigida numa secretaria em Lisboa, longe desta realidade, sob influência de um polícia que apenas pensa na sua carreira e bem-estar.
Vou desobedecer frontalmente a esta Circular a partir de hoje, e fazer tudo quanto puder para ajudar o maior número de refugiados. Conto com a vossa total colaboração para dar vistos gratuitos a todos quantos pudermos. A vossa mãe, com quem já falei, dá-me todo o seu apoio, e está disposta a também prestar ajuda e a cuidar das pessoas que tenham mais necessidade de atenção. Estou consciente de que perderei o meu trabalho, e a vossa vida vai alterar-se. Tudo vai ser mais difícil para nós, mas também tenho a confiança de que Deus não nos abandonará. Ao fazermos o bem a estes refugiados é ao próprio Cristo que o faremos e não seremos esquecidos - um dia poderemos ganhar o céu.
Por outro lado, este gesto redentor é-lhes devido pelo sofrimentos causados nos séculos XV e XVI pela lei da expulsão dos judeus de 1496 e pelo estabelecimento da Inquisição em Portugal. Esta é uma oportunidade para o nosso país reparar um erro histórico e corrigir os erros do seu passado.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
in https://ocastendo.blogs.sapo.pt/31-de-marco-de-1821-fim-da-inquisicao-2063948
in https://ncultura.pt/inquisicao-medo-tortura-fogueiras/2/
Se não formos capazes de ver, não seremos capazes de ler - na literatura, como na vida, não é possível ler sem ser lido.
Carla da Silva Pereira
Charles Bukowski – Correios (1971)
Antígona (2015)
A Parábola dos Cegos (1568)
Pieter Bruegel, o Velho
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