inacessível corpo em outro corpo vivo
As pernas são o grito
no rosto no vento A língua
contra a língua
ou antes as duas línguas que a destroem
Vertigem dos limites
contra a vertigem
[...]
Ancas intermináveis Flancos
que trucidam quando oscilam
António Ramos Rosa in FRAGMENTOS: FIGURA - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
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essa paixão árida que não canta
mas vibra seca no papel incerta
Quem detém os olhos? Quem vê o curso
do vento nas palavras?
E as flechas que por vezes se desfazem?
[...]
Tudo o que o poema faz desfaz
Mas sustenta a ferida
nas margens mais distantes
da distância
na insensata esperança
no abismo
Tu beijas aqui a dança e o desastre
António Ramos Rosa in O INCERTO EXACTO - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
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Calcando o solo, colado ao vento,
ardo de secura, a fronte aberta
para a chama da terra.
António Ramos Rosa in ESPLENDOR CALCINADO - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
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(...)
quando a atracção natural
reunisse os corpos apesar da dúvida.
Lembrar-te-ás da força dos dias de cegueira
dias de puro instinto, tudo
o mais esquecerás. O vento
contra. O aparente cansaço
que nos atira um ao encontro do outro.
(...)
Paulo da Costa Domingos in CAMPO DE TÍLIAS
Paulo da Costa Domingos – Carmina (1971-1994) Antígona (1995)
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um homem de qualidade nunca tem que responder pelas suas opiniões,
mas sim pelos seus actos.
Álvaro Guerra – Razões de Coração (1991) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)
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A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande.
Roger Bussy-Rabutin
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e a suspensão de asas negras dos invasores celestes precipita até se confundir com o pesado voo dos néscios e cagantes pombos citadinos
Italo Calvino - Palomar (1983)
Planeta DeAgostini (2001)
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Numa casa onde um coração é duro não há sempre um vento agreste?
Oscar Wilde – O Menino-Estrela (1891) Ilustração: Luís Henriques
Oficina dos Sonhos - Clássicos - Porto Editora (2008)
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Eu perdi a vez de ser simples,
perdi a vez feliz de ignorar,
perdi a sábia ignorância,
perdi a graça de não saber.
Deixei passar a vez de ir na corrente
e de ser como toda a gente
às carambolas da sorte.
Eu perdi a vez de ser analfabeto,
esse segredo para não ser doutor
e para não saber também
o que as letras sabem
do mundo e de mim.
(...) ser ignorante não dói
não dói tanto como não ignorar!
Eu deixei passar a vez de ir na onda
e de ter o entendimento repartido pelos mais,
começaram por ensinar-me as letras
e as letras acabaram por dar comigo
e eu vi-me então diante de mim
despegado da onda e da corrente
diferente de toda a gente
independente da multidão.
José de Almada Negreiros, SEGUNDA MANHÃ in AS QUATRO MANHÃS Poemas Escolhidos José de Almada Negreiros - Assírio & Alvim | Porto Editora 2016
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Resta-nos ser mareantes e marear (...) Em «nós»
Maria Gabriela Llansol - O Começo de Um Livro É Precioso Assírio & Alvim (outubro 2003)
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Somos a fachada de uma coisa morta E a vida como que a bater à nossa porta
Quando formos velhos Se um dia formos velhos Quem irá querer saber quem tinha razão De olhos na falésia Espera pelo vento Ele dá-te a direcção
Ninguém é quem queria ser Eu queria ser ninguém
A idade é oca e não pode ser motivo Estás a ver o mundo feito um velho arquivo
Eu caminho e canto pela estrada fora E o que era mentira pode ser verdade agora Se o cifrão sustenta a química da vida Porque tens ainda medo de morrer Faltará dinheiro Faltará cultura Faltará procura dentro do teu ser
Ninguém é quem queria ser Eu queria ser ninguém
Diz-me se ainda esperas encontrar o sentido Mesmo sendo avesso a vê-lo em ti vestido Não tens de olhar sem gosto Nem de gostar sem ver
Ninguém é quem queria ser Ninguém é quem queria ser Eu queria ser ninguém
Manuel Cruz - Ninguém É Quem Queria Ser