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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

payback period

09.12.21

Se hoje EUA e China lutam pelo papel de potência mundial, numa corrida tecnológica e espacial, há pouco mais de um século eram os britânicos que governavam as ondas, mantendo sob o seu jugo mais de 400 milhões de pessoas, então equivalente a mais de 20% da população mundial [...]

“Império não acabou quando os britânicos fizeram as malas” “Os sinos do templo, eles dizem, volta soldado inglês”, entoou distraidamente o então ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, dentro do pagode de Shwedagon, o mais sagrado templo budista de Rangun, no Myanmar, em 2017.

Tratava-se da Estrada para Mandalay (1892), um nostálgico poema de Rudyard Kipling sobre um antigo soldado inglês, e as saudades que tinha de uma rapariga birmanesa que beijara. “Provavelmente não é uma boa ideia”, avisou o embaixador britânico ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros, perante as câmaras do Channel 4, calando-o. É que, no que toca ao período colonial, muitos birmaneses recordam sobretudo os massacres cometidos pelos britânicos, suprimindo sucessivas rebeliões.

No entanto, nem sempre a memória se mantém tão viva e o sentimento anticolonial tão forte, salienta Deana Heath. Por um lado, “para garantir que os crimes coloniais ficavam por punir, os britânicos usaram táticas que iam da destruição de documentos a colocar outros num arquivo secreto no Reino Unido, que o Governo britânico só admitiu que existia em 2011”, lembra a historiadora.

Por outro lado, “as ligações culturais entre o Reino Unido e as suas antigas colónias são muito profundas. O que tem sido ajudado pelo facto de as lideranças nacionalistas, os grupos que receberam o poder dos britânicos, serem maioritariamente falantes de inglês e terem uma educação ocidental”, explica. Aliás, para muitos autores, a literatura inglesa foi usada com “máscara de conquista”, uma maneira de “afastar a atenção da brutal natureza do controlo colonial”, reflete. “Este é um exemplo de porque é que o império não acabou quando os britânicos fizeram as malas e partiram” [...]

Outros legados coloniais são menos óbvios, como a generalização da perseguição a pessoas LGBT+. Ao contrário do que se costuma imaginar, não era norma em todos os territórios colonizados antes da chegada dos britânicos. Na Índia, por exemplo, as hijra – hoje chamar-lhes-íamos mulheres trans – tinham um papel respeitado em certas culturas do subcontinente, funcionando quase como sacerdotisas. Mas tudo desapareceu com a introdução da moral Vitoriana, “os britânicos exportaram as suas normas de género por todo o mundo, tornaram-nas lei, porque o género era crucial para o projeto colonial”, explica Heath. “Era, em parte, por outras palavras, a chamada missão ‘civilizadora’ britânica”.

in https://ionline.sapo.pt/artigo/755188/reino-unido-o-que-sobra-do-imperio-brit-nico-?seccao=Mundo_i

 

 

certeiro

09.12.20

A seguir foram almoçar, e a lindíssima Lena ficou no meio dos dois, Variações à esquerda, Marco Paulo à direita. Um cantor recém-chegado e o artista consagrado e famosíssimo. Mas as pessoas, sobretudo as senhoras e as miúdas que entravam, iam direitas ao António a pedir-lhe autógrafos, e não olhavam para mais nada nem para mais ninguém:

- Ele era de tal maneira flashante que tudo o resto se apagava. Durante o almoço, o Marco quis mostrar que estava um bocadinho ciumento e sentido, mas na boa, porque é uma excelente pessoa. A brincar disse, António, qualquer dia ainda ponho uma bomba no teu carro! Uma cena de puto. E o António só lhe diz, mas qual carro? e desarmou-o completamente. Passados uns segundos, o Marco, que sentiu que se calhar tinha ido um bocadinho longe de mais, responde: Ó António, eu amo-te. Foi tão bonito. O António não falava muito, mas tinha um humor tão subtil, era terrivelmente certeiro, e ainda por cima não tinha mesmo carro, nem guiava, nem queria saber disso, gostava era de andar a pé. 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)

Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

 

ou se imagina ou se lava as mãos

27.11.20

Chegaram a Bordéus mesmo no fim de setembro, na altura exata em que se desenrolavam os tristes célebres Acordos de Munique (29 e 30 de setembro de 1938), no âmbito dos quais os representantes de França e de Inglaterra acabariam por ceder periogosamente às pressões da Itália de Mussolini e, sobretudo, da Alemanha de Hitler, deixando que este último anexasse o território dos sudetas, na Checoslováquia. Não só não apaziguaram Hitler e o Reich, como, pelo contrário, lhe deram mais força e convicção para os seus avanços [...] E todos estavam muito longe de imaginar as consequências. O Anschluss, que anexou a Áustria à Alemanha, tinha sido consumado em março desse ano, e a Noite de Cristal iria acontecer daí a dois meses. Essa noite marcaria o início da ofensiva aberta contra os judeus, aos quais já tinham sido retirados os direitos cívicos, e que já estavam afastados da vida económica na Alemanha e nos territórios anexados [...]

Em Portugal, o governo e as autoridades que, claro, iam acompanhando os acontecimentos apesar da distância, iam definindo uma espécie de orientação no sentido de "afastar" possíveis problemas que certas "categorias de pessoas" pudessem vir a causar, em função dos interesses de Salazar e do regime. Assim, em outubro de 1938 (11 meses antes da declaração de guerra), Salazar introduz novas restrições aos vistos para judeus que quisessem entrar no nosso país, exigindo-lhes que adquirissem vistos de turismo por períodos de 30 dias, se precisassem de entrar no nosso território. Uma forma de limitar o acesso a Portugal e de travar assim eventuais planos de "certas pessoas". Surgiu, então, a célebre Circular 10, de outubro de 1938, que seria progressivamente endurecida por outras, até 11 de novembro de 1939, já em plena Segunda Guerra Mundial, com a Circular 14, e sob forte controlo da polícia política portuguesa, a então PVDE (a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado). 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

 

bien que debe consumarse

22.09.20

A quienes leyendo este libro sepan sacar la consecuencia recta.

 

El matar no es legado de ninguna bandería. La vida es bien que debe consumarse. 

 

 

Antonio Portero Soro – Signo de vida (1999)

J.A. Ferrer-Sama y J. Ramírez, Editores Asociados (1999)

 

 

piss oas

12.02.18

- Idiotas - disse Jorg, enquanto desciam as escadas - , desperdiçam a vida com disparates e atravancam a minha. 

- Oh, Jorg - suspirou Arlene. - Não gostas mesmo de pessoas, pois não?

Jorg ergueu a sobrancelha, não lhe respondeu. A resposta de Arlene aos seus sentimentos em relação às massas era sempre a mesma; como se o facto de não gostar de pessoas revelasse um defeito imperdoável da alma. Mas ela era uma foda excelente e era agradável tê-la por perto... quase sempre. 

 

Charles Bukowski in Menos delicado do que o gafanhoto - Música para Água Ardente (1983)

Antígona (2015)