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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

descrentes, desvividos

06.12.24

era uma descontente, e os descontentes sempre têm mais que dizer do que os outros, ou por mais palavras. Grande parte da literatura dos tempos mortos da política é feita com o verbo dos descontentes. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

https://www.moisescartuns.com.br/2022/02/

[da série] cuidado, esta gente vota (II)

03.02.22

Acontece que, mesmo em contextos de menor exigência, como era o caso do bengaleiro do Museu Berardo, os problemas podiam surgir. «Uma vez fui abordado em espanhol por uma senhora americana. Eu respondi-lhe em inglês, dizendo que não sabia falar espanhol, ao que ela perguntou se não podia falar espanhol em Portugal. Eu disse-lhe que sim, mas aconselhei-a antes a falar inglês, por todas as razões. Expliquei-lhe que há umas animosidades históricas e que há portugueses que não reagem bem quando lhes falam em espanhol. Ela agradeceu com um sorriso largo, mas depois foi fazer uma queixa online, a dizer que eu a tinha feito perder o tempo dela, enquanto lhe dava uma lecture sobre que línguas é que ela podia ou não podia falar.»

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

aprender com o trigo (não se desculpar com o joio)

05.06.20

O rapaz de calças de ganga era, afinal, uma pessoa séria. Tinha estudado muito, no seminário. O pai era um lavrador com posses, como o senhor Rodrigues, e ele só se tinha formado por devoção. Podia ter ido para médico, engenheiro ou professor. Com os conhecimentos do pai, podia estar muito bem na vida. Podia ter investido num negócio ou arranjado um tacho na câmara municipal. Se fosse uma pessoa menos decente, era o que teria feito. Tantos que queriam e não podiam! 

Sem se esquecer de referir o pormenor da indumentária devida a uma pessoa que ocupava a posição dele, o meu pai dizia o mesmo (...)

As calças de ganga eram o defeito do qual ninguém, a não ser Deus, se conseguia eximir. Estávamos servidos para a vida. Que pedíssemos a Deus que o estimasse, todos os dias, nas nossas orações. 

 

Hugo Mezena – Gente Séria (2017)

Planeta Manuscrito (2018)

 

invariavelmente

07.02.19

disse a assistente, com um sorriso triste e cansado de quem trabalhava para pagar as propinas da faculdade, visto que os pais já não tinham posses para isso, de quem fazia turnos extra para conseguir mais algum para pôr numa conta poupança-habitação com o namorado, para se meterem numa casa assim que tivessem acabado os respectivos cursos e tivessem arranjado empregos que lhe dessem aquela segurança de que um casal em início de vida necessitava para se chegar ao balcão e pedir cem mil euros, a trinta e cinco anos, com taxa variável e indexada a uma coisa que eles não sabiam muito bem o que era, mas que era suficiente para lhes tirar muitas noites de sono. 

 

Ricardo Adolfo, Mizé - Antes galdéria do que normal e remediada

Alfaguara (2011)