Ele não estava bem e não cantou bem, mas o produto final era muito melhor do que ouvíamos habitualmente. Aborreci-me por não poder aplaudir sem reservas. Mas se se mente a um homem sobre o seu talento só porque ele está sentado à nossa frente essa é a mais imperdoável das mentiras, porque isso encoraja-o a continuar, e para um homem sem talento é a pior maneira de lhe destruir a vida. Mas muita gente fazia isso, sobretudo amigos e parentes.
Charles Bukowski – Mulheres (1978) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
Quando os voluntários de Esposende se puseram a caminho, no domingo, 2 de julho, já sabiam que teriam à espera deles cinco jipes, que seriam os guias pela terra queimada do Centro. Tinham sido feitos mapas, e as carrinhas e carros particulares foram divididos em cinco grupos, cada um deles com um pouco de tudo o que levavam, para que nenhum dos bens faltasse em cada localidade por onde passavam. O grupo de Coimbra deu-lhes algumas instruções. Que se esforçassem para não chorar convulsivamente à frente das pessoas que iam encontrar, para tentarem controlar as emoções, porque aquelas populações estavam muito fragilizadas. E que tivessem cuidado, porque havia algumas falsas vítimas a tentar aproveitar-se da situação [...] Mas não tinham noção, diz Sílvia. Por muito que julgassem saber, não tinham noção do que os esperava.
Primeiro, foi a paisagem. Agora, já não havia filtros do ecrã do televisor, a cor e o cheiro do queimado estavam em todo o lado [..] Depois, as pessoas. «Houve uma grande revolta, porque percebemos que, se confiássemos nas instituições, que nos diziam que já não era preciso nada, tínhamos ido de mãos a abanar. Teríamos ido dar um abraço às pessoas, um bocadinho de colo, mas não levaríamos nada. E a realidade que encontrámos foi completamente diferente. As pessoas pediam-nos água, água, que não tinham de beber. Na primeira casa pediram-nos água e eu pensei: é só aqui. Mas o pedido repetiu-se, e massacrei-me aquele dia todo, porque não me ocorreu, em pleno século XXI, que, num país desenvolvido da Europa comunitária, houvesse velhinhos sem água.
Patrícia Carvalho – Ainda aqui estou (2018)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Patrícia Carvalho (2018)
«A primeira coisa que eu gostei em ti», disse Lydia, «foi não teres uma televisão em tua casa. O meu ex-marido via televisão todas as noites e durante todo o fim-de-semana. Tínhamos até que fazer amor em função dos horários dos programas.»
«Hum...»
«Outra coisa que me agradou em tua casa foi a imundície.[...]
« Tu julgas um homem pelo que está à sua volta, não é?»
«Claro. Quando vejo um homem com uma casa limpa, sei que há qualquer coisa que está mal. E se for demasiado limpa, é porque é bicha.»
Charles Bukowski – Mulheres (1978) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
Estás aborrecido porque o teu esquema ganhou vida própria. Os teus queridos amigos colocaram-te numa posição delicada, ainda que, em contrapartida, todos sejam capazes de dizer que foste tu que os levaste a isto.
E as acusações seriam justificadas. Winthrop tinha um lado desonesto, que, combinado com o seu dom para a cordialidade, podia resultar em algo parecido com manipulação.
Em França, a editora Gallimard publica, em 2015, o romance Le Consul, escrito por um romancista de origem argelina, Salim Bachi, que faz uma análise muito fina da psicologia de Aristides. Salim Bachi, laureado com o prémio Goncourt - primeiro romance, cita São Francisco de Assis, antes do primeiro capítulo: «O homem obediente é como um cadáver que se deixa colocar, sem protestar, onde os outros quiserem.»
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
Na cidade, as propostas para mobilar as casas estão recheadas de produtos fantásticos. Frigoríficos cheios de comida pronta a ser confeccionada. Aspiradores, que permitem que a dona de casa rodopie pelo seu lar, limpando-a como quem brinca. Máquinas de lavar roupa, que evitam a canseira dos tanques onde à força de braços e mãos que esfregam, torcem, batem, na faina das barrelas domésticas, se lavam as roupas da casa. Panelas de pressão, que conseguem amaciar o mais rijo naco de carne, enquanto o diabo esfrega um olho. Na cidade, as tarefas domésticas diárias, a acreditar nos maravilhosos anúncios, são meros passatempos que lindas mulheres praticam alegremente. E toda a gente parece resplandecer de asseio. Já no campo, um luxo chama-se telefonia. Um sonho chama-se telefone. Visitas extemporâneas e de última hora... não existem. Visitas só a do padre ou a do médico. Não costumam ser bom sinal. Vizinhos? Ajudam-se, mutuamente, quando é preciso, mas ninguém entra pela casa de ninguém a pedir comida e a reclamar jantares: era só o que mais faltava. E os gestos quotidianos - varrer, limpar, cozinhar, arar os campos, pensar o gado, mondar, ceifar, enxertar as árvores, colher os frutos, apanhar caruma, acender a lareira -, são obrigações. Implicam muitas horas de trabalho esforçado, e não se pensa nelas como passatempos. Ter comida para cozinhar, isso sim, é uma alegria. Matar a fome a todos, aí está o verdadeiro prazer.
Na cidade, famílias ostensivamente felizes têm crianças, quase sempre louras e inevitavelmente lindas, que adoram pudim Royal e «gostam e necessitam de Milo», o fortificante mágico sem o qual as suas pobres cabecinhas encaracoladas tombam de exaustão sobre imaculados cadernos e livros da escola. Mas as cabecinhas das crianças louras ou morenas dos campos, não tombam sobre cadernos e livros imaculados. Se tombarem, uma palmada do professor ou da professora fornece toda a energia de que precisam para se levantarem imediatamente. Portanto, ali o Milo não faz falta nenhuma a ninguém. Até porque o dinheiro não chega para esses luxos... finalmente, no campo, não se fala em beleza o tempo todo, nem se evocam vocábulos como elegância por dá cá aquela palha. De resto, o mais elementar sentido de decência tornaria impensável que as mulheres corressem de braços no ar ao encontro dos seus homens, quando estes chegam a casa, suados, sujos de terra, exaustos de trabalhar, para lhes servirem algo de tão insípido como um estupendo caldo Maggi.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Voltando a citar Pinker: «A aversão à modernidade é uma das grandes constantes da crítica social contemporânea. Quer seja a nostalgia pela intimidade das cidades pequenas, pela sustentabilidade ecológica, pela solidariedade comunitária, pelos valores familiares, pela fé religiosa, pelo comunismo primitivo ou pela harmonia com os ritmos naturais, todos querem que o relógio retroceda. O que a tecnologia nos deu, questionam eles, excepto a alienação, a espoliação, a patologia social, a perda de sentido e o consumismo que está a destruir o planeta para nos dar McMansions, utilitários desportivos e reality shows na televisão?
Os defensores da modernidade, por outro lado, sublinham as dificuldades diárias anteriores às sociedades sedentárias, e como os nossos antepassados «viviam infestados de piolhos e parasitas em caves atulhadas com as suas próprias fezes (...) Mas não era apenas o mais elementar conforto que faltava aos nossos antepassados. Eram também as coisas mais elevadas e nobres da existência, como conhecimento, beleza e contacto humano. Até há pouco tempo, a maior parte das pessoas não viajava mais do que alguns quilómetros para lá do seu lugar de nascimento
Afonso Cruz_ O macaco bêbedo foi à ópera - Da embriaguez à civilização (2019) Fundação Francisco Manuel dos Santos e Afonso Cruz (2019)
Let's dance always, let's always rejoice The joy I have expressed for others shall be my portion too I rejoiced with you, I rejoiced with you I rejoiced with you and now it is my time to rejoice I rejoiced with you, I rejoiced with you The joy I have expressed for others shall be my portion too
Everybody's born a winner, yeh yeeh If only you just believe, yea eh yeh eh Close your eyes and come and see, nah yea eh yeh eh Don't you worry about a thing, nah
Cause if you work hard You can get it if you work If you strive hard You can be just what you want If you work hard You can climb the mountain tall Cause nothing is too small And nothing is too big
I rejoiced with you, I rejoiced with you The way I celebrate and rejoice with other people, it is my turn to be celebrated I rejoiced with you, I rejoiced with you The joy I have expressed for others shall be my portion too Eh yeh
What my eyes have seen, eyeh What my eyes have seen, ye yeh Don't let them tell you "you can't" And they won't help you, just so you know Just keep on pushing oh oh uh oh
The heights my father was not able to attain I will attain that height and surpass it The heights my mother was not able to attain I will attain that height and surpass it May my Ori bring me wealth May my Ori bring me wealth Do not sleep, my Ori!
I rejoiced with you, I rejoiced with you The way I celebrate and rejoice with other people, it is my turn to be celebrated I rejoiced with you, I rejoiced with you The joy I have expressed for others shall be my portion too
Here are my hands, they are clean and pure I’ll progress confidently or I’ll go higher with confidence Teni, I'm a true born, I am Apata's daughter I'm resolute, I stand unshakable on my feet They thought I was finished But God had other plans They thought it was over, But God said it’s not over yet! Children's are one's clothing in this life Olaosebikan, you must not sleep (in heaven)! May you stand by me everyday Don’t let my enemies collide with my Ori (destiny), please! Wherever you are, I know you are proud of me Because I'm an achiever, I'm a success in my life! Because I'm a bold conqueror
I am fortunate in life, I'm an achiever I've done well in life.
gostaria de deixar claro que a nostalgia extremada ou o optimismo cego no progresso, e especialmente num crescimento histérico e infinito, são irracionais e que o uso da temperança e de algum conhecimento factual poderão trazer coisas boas no momento de pesar o que pode ou deve ser preservado do passado, quais as importantes conquistas do presente, e o que é desejável no futuro.
Afonso Cruz_ O macaco bêbedo foi à ópera - Da embriaguez à civilização (2019) Fundação Francisco Manuel dos Santos e Afonso Cruz (2019)