sabedoria [de sonhar]
«O homem que sonha é um deus, o que pensa é um mendigo.» Holderlin [...]
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
«O homem que sonha é um deus, o que pensa é um mendigo.» Holderlin [...]
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Mais para ler
Os meninos ouviam o mar, o rio de todos os rios, o primeiro de todos os ventres. Nessa escuta, eles atravessavam a fronteira que separa a água e a luz, que é a mesma que separa o sonho e a vida.
Mia Couto – O rio infinito (2022)
Leya / Editorial Caminho, SA (2022)
Mais para ler
As coisas importantes levam tempo a voltar aos sonhos.
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Mais para ler
Uma estrela quando morre
morre tão devagar
que não se lembra sequer
de que chegou a brilhar
Mas nem todas as estrelas
morrem dessa maneira
Há quem antes de morrer
brilhe pela vida inteira
Jorge Sousa Braga – Pó de Estrelas (2007)
Assírio e Alvim (2007)
Mais para ler
No princípio dos anos 80, o Bairro Alto onde o fado ainda é vadio e transpira de becos e ruas, desperta do seu sonho noturno de chulos e putas velhas de tetas imensas, mais as amas dos seus filhos na rua das Gáveas, as casas de passe, as redações de jornais, lado a lado com casas pobres e casebres, palácios decrépitos, vazios ou vagamente habitados e igrejas transformadas em esquadras de polícia, conventos herméticos de muros altíssimos, de onde assomam palmeiras e ciprestres, os adelos, humildes antepassados de antiquários, e as omnipresentes leitarias e tascas onde se come bem por pouco dinheiro.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Mais para ler
Que mais podemos esperar encontrar neste romance? Um trabalhador em conflito constante com os seus patrões. Um pobre homem que procura incessantemente o consolo na bebida, que precisa de um emprego mas que foge dele. Um homem mais inteligente e sensível do que aqueles que olham para ele de cima [...]
Alguém disposto a travar uma batalha perdida contra as autoridades, na defesa dos seus direitos, da sua honra e do que resta da sua dignidade. Um homem que anseia por uma vida mais simples, mais confortável, mais bela, mas que rapidamente parece destruir todas estas possibilidades. Um aspirante a escritor que carrega a sua cruz com outros bons homens no local de trabalho, homens com os seus próprios sonhos impossíveis e quixotescos [...]
Charles Bukowski – Correios (1971)
Antígona (2015)
Mais para ler
Debra cruzou as pernas e a saia subiu.
«Tens pernas muito bonitas, Debra. E sabes vestir-te. Fazes lembrar-me as raparigas do tempo da minha mãe. Quando as mulheres eram mesmo mulheres.»
«Não digas mais, Henry.»
«Percebes o que quero dizer. E sobretudo em relação a Los Angeles. Um dia, não há muito tempo, deixei a cidade e, quando voltei, sabes como eu soube que tinha voltado?»
«Não...»
«Foi por causa da primeira mulher com que me cruzei na rua. Ela trazia uma saia tão curta que se viam as cuecas. E à frente das cuecas - desculpa-me - viam-se os pêlos da cona. Percebi que tinha chegado a L.A.»
Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
Mais para ler
Filipa anda a aprender a convencer-se de que o ano de 2017 «não conta». Porque esse era o ano em que planeara concluir uma série de etapas na sua vida. Estava matriculada no mestrado em Solicitadoria de Empresas e inscrita para entrar na Ordem dos solicitadores. Devia ter feito estágio entre Junho e Dezembro, para poder ir a exame em Março, mas o internamento, os ferimentos, deitaram os planos por terra. O mestrado ficou parado. «Dois mil e dezassete era para encerrar tudo isto, sempre fiz tudo certinho», lamenta-se. Tal como lamenta a ausência tão prolongada da serração onde trabalhava no escritório. «Estou a faltar há dez meses», diz, com as lágrimas a saltarem-lhe novamente dos olhos. «É muito tempo. Tinha tudo programado, tinha estudos, tinha a Ordem...»
No hospital não dão previsões para o dia em que a fisioterapia não será mais necessária. Ou em que não terá de gastar um boião de um quilo de creme hidratante em apenas quatro dias. É um dia de cada vez. E ela aguenta, apesar das dores e das lágrimas.
Patrícia Carvalho – Ainda aqui estou (2018)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Patrícia Carvalho (2018)
Mais para ler
Recém-chegado da tropa no ultramar, no início dos anos 70, António ainda não pertencia ao meio musical. Mas, pela forma de estar, de vestir, e de ser, começava a ser um Extraterrestre, num país onde era pecado ser diferente, numa sociedade que tranquilizava os seus terrores arcaicos com a estandardização. «Sempre Ausente», um poema do álbum Anjo da Guarda, ilustra estes tempos e esta busca:
Diz-me que solidão é esta
Que te põe a falar sozinho
Diz-me que conversa
Estás a ter contigo
Diz-me que desprezo é esse
Que não olhas p'ra quem quer que seja
Ou pensas que não existe
Ninguém que te veja
Que viagem é essa
Que te diriges em todos os sentidos
Andas em busca dos sonhos perdidos
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Mais para ler
as mãos salvas conhecem-se, sem gestos.
[...]
os sonhos que tive desfizeram-se,
percorro agora a terra onde eles nascem
[...]
Ouso ser simples como o pão e a água.
António Ramos Rosa in TERRA IMPONDERÁVEL - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Mais para ler