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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

elevações rasas

16.02.22

O facto é que os sectores primário e secundário têm perdido peso e protagonismo, em favor do sector dos serviços, que cresceu muito nas últimas duas décadas (em 2000, representava 52% do emprego, contra os 69% actuais).

Repare, caro leitor, que vivemos num país que elevou o centro comercial, vulgo shopping, a património nacional de referência. As cidades cuidavam de ter as suas praças, rossios e adros; hoje cuidam de ter o seu espaço comercial de larga escala, que acaba por mimetizar todos os outros que se encontram espalhados pelo território nacional. As mesmas marcas, as mesmas cadeias de lojas, os mesmos supermercados.

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

o vão do tempo

07.06.21

[...] fomos para a cama, mas já não era a mesma coisa; nunca é - havia espaço entre nós, tinham acontecido coisas. 

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

lume aceso

05.05.21

O próprio «Chico Fininho» tinha surgido assim, com um desconhecido a cantar acompanhado à guitarra. Segundo António Duarte, «foi a Lena d'Água que me deu uma cassete, na Drogaria Ideal». E acrescentou: «se gostares passa, é de um amigo meu do Porto, chama-se Rui Veloso». 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018) 

 

 

 

sonho e memória

26.08.20

Acabada a escola, tinham à sua espera o complemento do trabalho familiar. Dar de comer ao gado, ajudar no campo, e mais e mais. Todos os dias. Os relatos sobrepõem-se e não chegam do fundo dos tempos. São frescos de uma arrepiante contemporaneidade:

- Lá em casa dividíamos uma sardinha por quatro. 

- Nós dividíamos uma sardinha por sete.

- Eu passei muita fome.

[...]

- Mas quando tocava a brincar, era uma alegria! Era tudo da nossa imaginação e do nosso engenho. Dançávamos, cantávamos, bailávamos. Foram tempos que ninguém sonha como eram. E, contudo, éramos alegres, divertíamo-nos com nada, construíamos os nossos brinquedos. Tristes das crianças de hoje a quem entregam tudo feito e não aprendem a sonhar. 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)

Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

 

 

sensatez das regras

21.05.18

A sensatez não é um edifício após cuja construção possamos adormecer tranquilamente; preciso é que nos mantenhamos alerta, pois a mínima brisa poderá fazê-lo desabar, e não passará um só dia sem que uma pedra se desprenda e ponha assim em perigo toda a estrutura. 

 

 

George Sand – Diário Íntimo

Antígona (2004)

 

 

 

 

dessas

22.10.17

numa súplica insegura que principiava a enervá-lo, perguntas acerca do seu casamento, acerca do filho e das filhas pequenas (...)

quase a chorar a cretina, a humilhar-se, se calhar o mesmo que faz com o marido embora jure que não, garante que o trata por cima da burra e o idiota aceita, o enxota, mal lhe fala porém isso dizem todas e a gente faz que acredita, provavelmente a que lá tenho em casa uma história igual com um sujeito que não me interessa um tuste saber quem é desde que o pai me conserve na empresa

 

 

 

António Lobo Antunes – Para Aquela Que Está Sentada No Escuro À Minha Espera (2016)
Publicações D. Quixote | Leya (2016)