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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Levante de Novembro

29.11.23

Não desejo parecer mau, que isso é uma grande maldade. Sou mesmo mau. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

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Emilia Plater leading peasant scythemen by Jan Rosen

 

O Levante de Novembro (1830-1831) — também conhecido como a Revolução dos Cadetes — foi uma revolta armada contra o domínio russo na Polônia.[...]

Data: 29 de novembro de 1830 – 21 de outubro de 1831
Local: Polônia, Lituânia e banda oeste do Rio Dniepre (Ucrânia)
Desfecho: Vitória russa;
Introdução do Estatuto Orgânico do Reino da Polônia;
Liquidação da autonomia polonesa

 

in https://pt.wikipedia.org/wiki/Levante_de_Novembro 

Atenção, sempre! (ao estado do estado e tudo o mais)

25.04.23

Esta foi mais uma chamada de atenção feita a quem contrata, nomeadamente às entidades públicas. Escolher empresas utilizando apenas o critério do menor preço «contribui para a deterioração das condições de trabalho, para o desvanecimento da qualidade e para a fuga às responsabilidades». 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

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ganhos verdadeiros (or giving it all way)

13.02.23

"Your father made very good investments," Bernie said.

She asked, "What did he invest in? I know he was an investment banker, but what did he invest in that made all this money? My God, Bernie, that's a lot of money."

"South Africa", Bernie said, glancing at some sheets of paper in from of him. "Way back [...]

"South Africa?" Suzanne asked. "Are you saying back when there was apartheid he was investing over tehre?" Bernie nodded, and she said, "But he didn't, Bernie. I asked him - when Mandela got released from prison - I asked my father if he had invested in South Africa and he said, 'No, Suzanne,' He told me that."

Bernie put the papers back into a folder.

"I'm giving it all way. Every penny. I don't want it." Suzanne sat back. "My God," she said.

Bernie said, "Do with it whatever you like."

 

Elizabeth Strout – Olive, Again (2019)
Penguin Random House UK (2019)

 

 

ver para descrer, como em São Tomé

30.11.22

[...] ficaram assim pouco informados, o que quer dizer: ficaram aptos a desenvolver uma intriga. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

quebra verniz(es)

18.03.22

... por entre as algas, vejo a inveja, o ciúme, o ódio e o desprezo rastejarem como caranguejos por sobre a areia. 

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

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barbas de molho

15.03.22

Constatei o facto até mesmo em plena angústia, quando, torcendo o lenço entre as mãos, a Susan gritou: "Amo, odeio". Pensei: " Há uma criatura inútil a rir no sótão", e este pequeno exemplo serve para mostrar o modo incompleto como mergulhamos nas nossas próprias experiências.

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

March 15 marks 11 years since the eruption of peaceful protests against the Assad regime in Syria.

The pro-democracy demonstrations demanding change were violently suppressed, leading to a civil war that has cost the lives of hundreds of thousands and torn the country to shreds.

More than a decade later, a brighter future is still far on the horizon for the Syrian people.

in https://www.youtube.com/c/trtworld/community

 

 

levantai-vos

09.03.22

... alguém comenta que as coisas têm sido ditas com tanta frequência, que basta uma palavra para que tudo fique dito.

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

haja vinho

06.09.21

O processo disciplinar por desobediência movido por Salazar contra o meu avô foi um verdadeiro caso de "antes de o ser já o era". A sentença foi dada e executada antes do julgamento, e a defesa de Aristides inútil. No entanto, o meu avô não desistiu e recorreu até às últimas instâncias ajudado por um jovem advogado, Adelino da Palma Carlos. Mas só depois do 25 de abril, anos após a sua morte, o envelope lacrado com o seu processo - do qual nem a família conhecia a existência - seria aberto e a injustiça de todo o caso revelada. 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

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in https://vaocubo.com/2021/04/24/wineproduction2020/

 

fado (padrinho)

21.07.21

Era uma vez uma jovem chamada Borralheira [...] A mãe adotiva da Borralheira tratava-a muito cruelmente e as irmãs adotivas obrigavam-na a trabalhar duramente, como se ela fosse a sua trabalhadora não paga pessoal.

Um dia chegou-lhes um convite a casa. O príncipe celebrava a sua exploração do campesinato espoliado e marginalizado organizando um baile de gala. As irmãs adotivas da Borralheira ficaram todas excitadas [...] Começaram a pensar nas roupas caras que iriam usar para alterar e escravizar as suas imagens corpóreas naturais a fim de emularem um padrão irrealista de beleza feminina [...] Ao cair da noite a mãe e as irmãs adotivas deixaram a Borralheira em casa para terminar o seu trabalho [...]

De repente chispou um relâmpago e diante dela estava um homem com roupas largas em algodão e um chapéu de aba larga [...]

«Olá Borralheira, eu sou o teu fado padrinho, ou representante divino individual, se preferires. Queres então ir ao baile, não é verdade? E cingir-te ao conceito masculino de beleza? Espremer-te num vestido justo que te vai cortar a circulação sanguínea? Entalar os pés em sapatos de salto alto que te arruinarão a estrutura óssea? Pintar a cara com produtos químicos e cosméticos testados em animais não humanos?»

«Oh sim, absolutamente!», respondeu ela sem hesitação [...]

Muitas, muitas carruagens faziam fila às portas do palácio naquela noite; aparentemente, nunca ninguém pensara em partilhar o transporte. Não tardou que a Borralheira chegasse [...]

Os homens olharam para ela, e desejaram esta mulher que resumia perfeitamente os seus ideais de sedução feminina do tipo Barbie. As mulheres, treinadas desde tenra idade a desprezar o próprio corpo, olharam-na com inveja e despeito [...]

A Borralheira depressa atraiu sobre si o olhar predatório do príncipe, ocupado a discutir torneios e lutas de ursos com os seus companheiros [...] 

A Borralheira estava orgulhosa da comoção por si causada [...]

O príncipe tornara claro aos seus amigos que tencionava «tomar posse» da jovem senhora. Mas a determinação do príncipe irritou os compinchas, que também a desejavam e queriam tomá-la. Os homens desataram a gritar e a empurrar-se [...]

As mulheres estavam sideradas perante esta feroz exibição de testosterona, mas, por mais que tentassem, não conseguiam separar os combatentes. Pareceu às outras mulheres que a Borralheira era a causa de toda a tribulação, portanto cercaram-na e começaram a evidenciar uma hostilidade muito pouco fraterna. Ela tentou escapar, mas os seus pouco práticos sapatos de vidro tornaram a tentativa quase impossível. Felizmente, nenhuma das outras mulheres estava melhor calçada.

A algazarra atingiu tais níveis que ninguém ouviu o relógio da torre dar a meia-noite. Ao bater da décima segunda badalada, o belo vestido e sapatos da Borralheira desapareceram e ela voltou a ver-se nos seus andrajos de camponesa. Agora a sua mãe e irmãs adotivas reconheceram-na, mas calaram-se para evitar passar uma vergonha.

As mulheres ficaram mudas perante esta transformação mágica. Liberta dos constrangimentos dos vestidos e dos sapatos, a Borralheira suspirou, espreguiçou-se e coçou as costelas. Sorriu, cerrou os olhos e disse:

«Agora matai-me se quiserdes, irmãs, que pelo menos morro consolada.»

As mulheres em volta ficaram novamente invejosas, mas desta feita adotaram uma estratégia diferente: em vez de exercerem vingança sobre ela, livraram-se de coletes, espartilhos, sapatos e de tudo quando as apertava. Dançaram, pularam e guincharam de pura alegria, finalmente à vontade na sua roupa interior e pés descalços.

Se os homens tivessem levantado os olhos da sua dança machista de destruição, teriam visto muitas mulheres desejáveis vestidas como quem vai para a cama. Mas continuaram a martelar-se, esmurrar-se, pontapear-se e rasgar-se uns aos outros, até que morreram todos.

As mulheres deram estalidos com a língua, mas não sentiram remorsos. Agora o palácio e o reino eram delas. O seu primeiro ato oficial foi vestirem os homens com as roupas de que elas próprias se tinham despojado e declararem à comunicação social que a zaragata tinha começado quando alguém ameaçara denunciar as tendências que o príncipe e os seus companheiros tinham para o travestismo. O segundo consistiu na criação de uma cooperativa de confeção que só produzisse roupas femininas confortáveis e práticas. Depois afixaram no castelo um cartaz a anunciar Cinza a Vestir (assim se chamava a nova linha de vestuário) e, graças à autodeterminação e a marketing inteligente, todas - mesmo a mãe e as irmãs adotivas - viveram felizes para sempre.

 

COMENTÁRIO

James Finn Garner parodia a ideologia contemporânea do «politicamente correto» reescrevendo à luz da mesma os principais contos clássicos. E, pelo próprio excesso da expurgação realizada, é a ideologia do politicamente correto que aparece afinal subtilmente satirizada.

[...]

As mulheres, primeiro despeitadas pelo triunfo da Borralheira no quadro dos valores machistas, depressa percebem o valor da libertação involuntária da Borralheira quando soa a meia-noite. Assim, dá-se uma revolução feminista radical que não só derruba os valores masculinos como reorganiza a vida sem homens. Impera doravante uma visão do mundo - e uma economia - centrada no respeito pelo corpo feminino e pela natureza. A ironia é que tudo isto se dá graças à maquinação do fado padrinho - é afinal um homem quem urde as tramas da revolta feminina nesta paródia do politicamente correto.

 

Francisco Vaz da Silva – Gata Borralheira e Contos Similares (2011)
Círculo de Leitores e Temas e Debates (2011)

 

 

brandos costumes

21.07.21

A sociedade portuguesa de 1940 estava muito dividida no que dizia respeito aos seus sentimentos por Salazar. E ainda hoje, apesar da revolução de 1974, que permitiu ao país viver em democracia, a memória do ditador suscita ideias contraditórias em alguns sectores: há quem insista em perpetuar a memória de um Salazar "autoritário, mas bonzinho", pondo em dúvida que tenha, sequer, colaborado com o nazismo (nem mesmo de forma não consciente). Como se barrar o caminho da salvação a potenciais vítimas da perseguição e dos campos de concentração e da morte, só para dar um exemplo que me toca mais de perto, não fosse colaboração suficiente com o horror nazi...

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)

 

deus me proteja de mim
e da maldade de gente boa
da bondade da pessoa ruim
deus me governe, guarde
ilumine e zele assim
caminho se conhece andando
então vez em quando
é bom se perder
perdido fica perguntando
vai só procurando
e acha sem saber
perigo é se encontrar perdido
deixar sem ter sido
não olhar, não ver
bom mesmo é ter sexto sentido
sair distraído e espalhar bem-querer

Faixa do disco Francisco, forró y frevo (2008)