And it came to him then that it should never be taken lightly, the essential loneliness of people, that the choices they made to keep themselves from that gaping darkness were choices that required respect
Elizabeth Strout – Olive, Again (2019) Penguin Random House UK (2019)
Imagine que é convidado a responder à seguinte pergunta: «Em que medida considera que as pessoas negras e as pessoas brancas em Portugal são muito diferentes, diferentes, semelhantes ou muito semelhantes no que se refere aos valores que ensinam aos filhos?» Imagine que seguidamente teria de responder à mesma questão, agora relativamente ao grau de preocupação que brancos e negros têm com o bem-estar das famílias, a religião, a educação das crianças, os comportamentos sexuais, etc. Esta questão foi objeto de estudo numa pesquisa, já citada, realizada nos anos 90, no quadro do Eurobarómetro. Os resultados mostraram que, quanto mais os respondentes acentuavam as diferenças culturais entre os cidadãos dos países inquiridos e os imigrantes de países não-europeus, considerando-os culturalmente muito diferentes, mais manifestavam racismo biológico e mais consideravam que os imigrantes - por exemplo, pessoas negras no caso de Portugal - eram incapazes de se adaptar à sociedade de acolhimento [...] à primeira vista acentuar ou exagerar as diferenças culturais não pareceria estar relacionado com racismo tradicional e discriminação. Contudo, os resultados são claros e têm mostrado consistência ao longo de 30 anos de pesquisa. A preocupação de Lévi-Strauss tinha razão de ser: a associação subtil entre diferença e inferioridade é prova disso.
Jorge Vala –Racismo, Hoje, Portugal em Contexto Europeu(2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Jorge Vala (2021)
Na Nike, viveu um incidente com um cliente habitual, que numa ocasião apareceu transfigurado. «Era uma pessoa com dinheiro, que já tinha atingido vários talões GT [compras superiores a 500 euros], mas naquele dia apareceu com outra pessoa. Entrou com um gelado na loja e, como eu lhe disse que não podia comer lá dentro, começou a ser porco comigo. Mesmo. A dizer coisas obscenas, a chamar-me nomes, a convidar-me para sair com ele. Eu fui falar com o responsável de loja e disse que ia para o armazém. É por estas coisas que há sempre homens de serviço na loja, eles nunca querem que haja só turnos de raparigas à noite.» Mais uma vez houve recurso à equipa de vigilantes do centro comercial, e os clientes GT acabaram por sair. Mas passaram o resto da noite a passear-se em frente à loja, para a frente e para trás, numa atitude de desafio. «Até que, passado um pouco, passaram à nossa porta com uma prostituta. Claramente, era uma prostituta. Não sei que sentido é que aquilo fez. Acho que foi só para mostrar.» Nesse dia, à conta do nervosismo, o responsável de loja acabou por levar Vanessa a casa de automóvel, contornando uma hipotética espera a saída do turno.
Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)
in https://casadeimagem.com/dia-internacional-da-mulher/