assim é
Quem bem faz sempre bem espera.
Francisco Vaz da Silva – Gata Borralheira e Contos Similares (2011)
Círculo de Leitores e Temas e Debates (2011)
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Quem bem faz sempre bem espera.
Francisco Vaz da Silva – Gata Borralheira e Contos Similares (2011)
Círculo de Leitores e Temas e Debates (2011)
Se as palavras corressem como as nuvens
respirando
dir-te-ia as palavras que desejo.
Oiço o silêncio inteiro sobre o teu rosto.
António Ramos Rosa in NA MORTE DE CELESTINO ALVES - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
O casamento de Clotilde estava marcado para 17 de dezembro de 1939, em Cabanas de Viriato, com receção e "copo-de-água" na Casa do Passal. Porque não antecipar para outubro o regresso a Portugal dos filhos, ficando apenas Aristides e Angelina em Bordéus, com José António para ajudar no consulado e Pedro Nuno para continuar as aulas na Faculdade de Direito de Bordéus? Decidido e feito. Fernanda Dias - a "petiza" ou Fernandita, a jovem criadinha - deixou um relato dessa viagem, numa entrevista publicada na revista do Expresso de 9 de novembro de 1996, assinada por Carlos Magno: «Fernanda viajava sentada entre o condutor e a sua esposa, Angelina, quando o carro, superlotado, capotou perto de Salamanca. Ao volante vinha Aristides de Sousa Mendes, nervoso, com o coração aos saltos e a alma no acelerador. Tinha de chegar rapidamente à fronteira portuguesa. Não queria que Salazar soubesse que ele se ausentara por três dias do seu posto consular / diplomático para pôr os filhos a salvo.» A "petiza" caracterizou o meu avô Aristides como «o mais justo e sofredor de todos os santos». Em contraste com esta admiração e amizade profunda de Fernandita a Aristides e Angelina, vem-me à ideia a senhora doutoranda da Universidade de Coimbra, já por mim citada, que se tivesse sabido deste episódio poderia muito bem ter dito: «Aristides, mais uma vez a prevaricar!»
Por um lado, temos um coração humano, simples e verdadeiro, por outro, temos um julgamento político e de carácter sob a capa de uma tese de doutoramento pela Universidade de Coimbra, com tese defendida em 2013, em que no último parágrafo se escreve a respeito de Aristides: «Estamos, portanto, diante de um funcionário prevaricador. Se bem que jamais se considerasse como tal.»
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
Quando fui para os bombeiros, combatíamos fogos com batedores. Não havia grandes carros de água, só tínhamos um ou dois e o resto era tudo batedor. E não fazíamos rescaldo: batíamos, varríamos para dentro do queimado e ficava assim. O mato era baixinho. As áreas eram todas cultivadas. Agora, não. Agora é manta morta, não andamos com os pés no chão, mas em cima de manta morta. Tudo no chão é combustível.
Patrícia Carvalho – Ainda aqui estou (2018)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Patrícia Carvalho (2018)
«Não gosto da ostentação do achincalhamento da figura clássica, da mesma maneira que exijo dos outros o respeito por mim. Nunca me vesti como o faço por provocação aos outros, mas como um ato de liberdade para comigo próprio, por prazer.»
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Por vezes, um problema não se resolve pela sensatez da mente, mas antes pela sabedoria do coração.
Grace Burrowes – Coração Ardente (2017)
Quinta Essência (2019)
Em julho e agosto de 1940, quando vinha a Lisboa, Aristides reunia-se com amigos e familiares. Precisava de falar dos acontecimentos. Algumas vezes, encontrou-se com o rabino Kruger, que esperava em Lisboa por um barco que o levasse, e à família, para o novo mundo. O tema principal das conversas era, invariavelmente, a guerra. Kruger, naturalmente, mostrava a sua dor pelo sofrimento causado por Hitler ao povo de Israel, mas ao saber que Aristides enfrentava a raiva de Salazar, terá lamentado: «Tudo o que está a sofrer agora por nossa causa!», e Aristides, que procurava sempre dar-lhe algum consolo por tanto infortúnio, respondeu-lhe: «Se milhares de judeus estão a sofrer por causa de um católico [Hitler], então é compreensível que um católico [Aristides] possa sofrer por causa de tantos judeus. Eu não podia ter agido de outro modo, por isso aceito, com amor, tudo o que me aconteceu e poderá vir a acontecer por causa do meu gesto.»
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
«Não participo em chacinas, por isso desobedeço a Salazar».
Esta frase foi vista e considerada pelo regime como uma inequívoca acusação a Salazar. Para Aristides, a ordem expressa na Circular 14, não permitindo que os cônsules de carreira passassem vistos de entrada em Portugal a refugiados, era uma ordem colaboracionista: «Participar em chacinas não era apenas praticá-las diretamente, bastava apenas impedir que as potenciais vítimas tivessem uma porta de saída do inferno em que se estava a tornar a Europa ocupada pelas forças nazis. Era o que fazia a Circular 14.»
Foi a primeira vez (e talvez a única) em que um cidadão nacional, funcionário do Estado, falando de direitos humanos num regime totalitário, denuncia aos "representantes da Nação" a violação da Lei Fundamental por parte do chefe do governo. Foi a 10 de dezembro de 1945 que a reclamação de Aristides foi apresentada na Assembleia Nacional. Nem um único dos 120 deputados teve a coragem e a dignidade de responder... Exatamente três anos depois, a 10 de dezembro de 1948, as Nações Unidas publicavam em Nova Iorque a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Coincidências.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
[..] O procedimento do Sr. Aristides de S. Mendes implicara tal desvairamento que ao comunicar logo em seguida às autoridades espanholas a decisão de dar por nulos os vistos concedidos pelo consulado em Bordéus a numerosíssimas pessoas que ainda se encontravam em França, não tive dúvida em declarar que era minha convicção que o referido cônsul havia perdido o uso da razão. A bem da nação.»
Neste aceso encontro entre Teotónio Pereira e Aristides houve troca de palavras desagradáveis. A determinada altura, Teotónio Pereira declara que Aristides deve ter enlouquecido, ao que este lhe responde: «Mas será preciso ser-se louco para fazer o que está certo?»
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
No seu tempo, e num país onde a esmagadora maioria da população rural era ainda analfabeta, Deolinda de Jesus era uma das poucas pessoas, na aldeia, que sabia ler e escrever. Não frequentou nenhuma escola, mas a mestra do ateliê onde aprendeu costura ensinava a ler e a escrever às meninas que quisessem. Ela foi das poucas que quis. Ao longo de toda a vida a sua letra firme e bem desenhada encheu cartas e cartas com as quais mitigou a solidão de ter os filhos longe, permitindo-lhe, por seu turno, ler sem intermediários, as que eles lhe foram mandando [...] A certa altura, Deolinda partilhou esta ferramenta com o marido. Foi no final dos anos 50, quando surgiu a oportunidade de Jaime ser cobrador da Casa do Povo. Era um trabalho de fim de semana, mas garantia mais uma fonte de rendimento para a família. Porém, e como condição de admissão, exigia o domínio ainda que muito básico, das letras e da tabuada por causa das contas. Deolinda chamou a si a tarefa de ensinar ao marido os rudimentos da leitura e da escrita. As aulas decorriam ao serão, na mesa da sala de jantar. De lápis na mão, caderno de linhas ou quadriculado à frente, lampião de azeite na mesa, Jaime engolia o orgulho e rebentava de humilhação quando a mulher o emendava, uma vez e outra e outra. Mas o facto é que conseguiu o emprego, sinal de que lhe aproveitaram as lições.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
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