primeira semana do advento
Os prazeres do orgulho são às vezes mais apreciados que os prazeres do amor.
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
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Os prazeres do orgulho são às vezes mais apreciados que os prazeres do amor.
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
«Quando fui ao meu centro de saúde e expliquei qual era o problema, disseram-me logo: " Não se preocupe, isso é muito comum, vem cá parar muita gente dos call centers com esses problemas, sobretudo de pessoas que vendem seguros." Parece que é a pior coisa que podes fazer nessa área.»
Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)
Vagueio de casa em casa como os frades da Idade Média que enganavam as raparigas e as mulheres casadas com contas e baladas. Sou um viajante, um bufarinheiro, pagando com uma caução a hospitalidade que me oferecem; sou um convidado fácil de agradar; alguém que ora dorme no melhor quarto da casa, na cama de dossel, ora passa a noite no estábulo, deitado num molho de feno. Não me importo com as pulgas, o mesmo se passando com o toque da seda. Tenho uma percepção demasiado clara da perenidade da vida e das tentações que a caracterizam para impor proibições. Apesar de tudo, não sou tão tolerante como vos pareço
Virginia Woolf – As Ondas (1931)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
O facto é que os sectores primário e secundário têm perdido peso e protagonismo, em favor do sector dos serviços, que cresceu muito nas últimas duas décadas (em 2000, representava 52% do emprego, contra os 69% actuais).
Repare, caro leitor, que vivemos num país que elevou o centro comercial, vulgo shopping, a património nacional de referência. As cidades cuidavam de ter as suas praças, rossios e adros; hoje cuidam de ter o seu espaço comercial de larga escala, que acaba por mimetizar todos os outros que se encontram espalhados pelo território nacional. As mesmas marcas, as mesmas cadeias de lojas, os mesmos supermercados.
Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)
Esta alegria
que de nada nasce
antes da palavra
sopro insubmisso
sortilégio do dia.
António Ramos Rosa in VINTE POEMAS PARA ALBANO MARTINS - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Maria Adosinda, a cunhada, conta:
- Olhava para a minha sogra, brilhavam-lhe os olhos. Ela adorava-o e ele tinha um cuidado muito especial com ela.
No carro, dava-lhe sempre o lugar da frente. Ajudava-a a sentar-se, a levantar-se, dava-lhe o braço na rua. Mas se via uma dessas senhoras de nariz empinado e ar importante, dizia: Olha para aquilo, parecem mesmo umas peruas. Detestava as velhas da alta sociedade, porque não via nelas a sinceridade que se vê numa pessoa do campo, pobre, humilde... então, quando lhe aparecia uma cliente a dizer, eu gosto assim, mas o António que acha?, ele faria uma coisa correta. Mas se ela entrasse toda cheia de nove horas: Ai, eu isto, eu aquilo, assim não, quero tudo armado! ele exagerava tanto que ela saía do salão a parecer uma maluquinha. Depois vinha-nos contar e fartávamo-nos de rir.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Ele não estava bem e não cantou bem, mas o produto final era muito melhor do que ouvíamos habitualmente. Aborreci-me por não poder aplaudir sem reservas. Mas se se mente a um homem sobre o seu talento só porque ele está sentado à nossa frente essa é a mais imperdoável das mentiras, porque isso encoraja-o a continuar, e para um homem sem talento é a pior maneira de lhe destruir a vida. Mas muita gente fazia isso, sobretudo amigos e parentes.
Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
Na cidade, as propostas para mobilar as casas estão recheadas de produtos fantásticos. Frigoríficos cheios de comida pronta a ser confeccionada. Aspiradores, que permitem que a dona de casa rodopie pelo seu lar, limpando-a como quem brinca. Máquinas de lavar roupa, que evitam a canseira dos tanques onde à força de braços e mãos que esfregam, torcem, batem, na faina das barrelas domésticas, se lavam as roupas da casa. Panelas de pressão, que conseguem amaciar o mais rijo naco de carne, enquanto o diabo esfrega um olho. Na cidade, as tarefas domésticas diárias, a acreditar nos maravilhosos anúncios, são meros passatempos que lindas mulheres praticam alegremente. E toda a gente parece resplandecer de asseio. Já no campo, um luxo chama-se telefonia. Um sonho chama-se telefone. Visitas extemporâneas e de última hora... não existem. Visitas só a do padre ou a do médico. Não costumam ser bom sinal. Vizinhos? Ajudam-se, mutuamente, quando é preciso, mas ninguém entra pela casa de ninguém a pedir comida e a reclamar jantares: era só o que mais faltava. E os gestos quotidianos - varrer, limpar, cozinhar, arar os campos, pensar o gado, mondar, ceifar, enxertar as árvores, colher os frutos, apanhar caruma, acender a lareira -, são obrigações. Implicam muitas horas de trabalho esforçado, e não se pensa nelas como passatempos. Ter comida para cozinhar, isso sim, é uma alegria. Matar a fome a todos, aí está o verdadeiro prazer.
Na cidade, famílias ostensivamente felizes têm crianças, quase sempre louras e inevitavelmente lindas, que adoram pudim Royal e «gostam e necessitam de Milo», o fortificante mágico sem o qual as suas pobres cabecinhas encaracoladas tombam de exaustão sobre imaculados cadernos e livros da escola. Mas as cabecinhas das crianças louras ou morenas dos campos, não tombam sobre cadernos e livros imaculados. Se tombarem, uma palmada do professor ou da professora fornece toda a energia de que precisam para se levantarem imediatamente. Portanto, ali o Milo não faz falta nenhuma a ninguém. Até porque o dinheiro não chega para esses luxos... finalmente, no campo, não se fala em beleza o tempo todo, nem se evocam vocábulos como elegância por dá cá aquela palha. De resto, o mais elementar sentido de decência tornaria impensável que as mulheres corressem de braços no ar ao encontro dos seus homens, quando estes chegam a casa, suados, sujos de terra, exaustos de trabalhar, para lhes servirem algo de tão insípido como um estupendo caldo Maggi.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
A refeição do menino
Júlio Pomar
significava que ambos tinham razão ou achavam que tinham razão, em geral diferentíssima mas igualmente convicta, meu Deus a quantidade de verdades opostas que existem
António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)
Publicações Dom Quixote (2018)
há quantos séculos a minha mulher não alisa uma prata de chocolate com a unha
António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)
Publicações Dom Quixote (2018)
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