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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

04
Out23

província retangular

Cecília

So when I got back and saw that he was so sorry, I told him that, the business about this being a class thing, very calmly, and do you know? We must have talked for two hours straight, we just talked and talked, and he said he was kind of a peasant too, and that's why he was so sensitive about people being provincial, because all his life he had deep down felt provincial, and he didn't want to be. He said, I'm a snob Olive, and I'm not proud of that. 

Elizabeth Strout – Olive, Again (2019)
Penguin Random House UK (2019)

Clero, Nobreza e Povo, Vila Velha do Cu de Judas
Cartoon de João Abel Manta, Lisboa, 1970 (c.), Portugal.

in https://www.arquipelagos.pt/imagem/clero-nobreza-e-povo-vila-velha-do-cu-de-judas-cartoon-de-joao-abel-manta-1970-c-portugal/

 

20
Set23

por isso e isto é que aquilo

Cecília

Depois da experiência na piscina oceânica, saltou para a piscina de Barcarena. Limpou escritórios e até casas. [...] «Eu tinha um negócio de dobrar o papel higiénico diferente, dobrava as toalhas de forma diferente, fazia uns truques que aprendi em Inglaterra, então usava isso para dar uma diferenciada.» Durante o período em que trabalhou nestes sítios, Carol nunca teve um contrato. No dia em que pediu um, viu o valor pago à hora diminuir de quatro euros e meio para três euros e meio e um subsídio de alimentação de 34 cêntimos. Ou seja, em 31 dias, receberia 10,54 euros de valor de subsídio de refeição. Com esta proposta, a jovem recusou o contrato. Mas nem todas o recusam e, por isso, continuam a aparecer propostas deste género. «Acabamos por nos submeter a salários baixos para conseguirmos ter um contrato.»

 

Rita Pereira Carvalho – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

02
Ago23

visto interesse(s) nacional/(ais)

Cecília

Dos cerca de 40 mil trabalhadores nas limpezas industriais, mais de metade não são portugueses. O STAD fala em cerca de 25 mil trabalhadores estrangeiros, ou cujos pais não nasceram em Portugal.[...]

A mão de obra estrangeira começa a aparecer quando os salários baixam para o mínimo possível. «Ganhava-se muito bem na limpeza. Nos anos 90, o setor da limpeza era onde mais se ganhava. Eu, por exemplo, cheguei a ganhar acima do salário mínimo cerca de 150 euros. Nos anos 90 era muito dinheiro. Depois, quando o salário começou a baixar, com ordenado mínimo, com direitos a serem reduzidos, claro que deixou de haver tanta oferta. Onde é que eles foram buscar? A quem precisava mesmo»

 

Rita Pereira Carvalho – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

30
Mai23

Ai Ciro, Ciro [ ou quando o povo gosta de brincar ao ping-pong]

Cecília

Não invejo um homem que não se define, nem na consciência, nem na experiência. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

07
Mar23

bidonvilles e os bolsos dos mesmos do costume

Cecília

Terminada que foi a polémica da transferência temporária dos migrantes asiáticos do Litoral Alentejano para as instalações de um empreendimento turístico, o assunto caiu no esquecimento. Nunca cheguei a perceber se aquilo que interessava aos órgãos de comunicação social, era a salvaguarda da integridade sanitária daqueles seres humanos, ou antes o burburinho gerado em torno da transferência para o Zmar.

Uma coisa, no entanto, ficou clara: o que os proprietários do empreendimento turístico queriam era apenas e só, dinheiro. A este propósito a SIC Noticias, dava conta em 1 de junho, que: “Trinta e quatro habitações foram cedidas ao Estado temporariamente e mediante o pagamento de 100 euros mais IVA por dia, estejam ou não ocupadas, e com retroativos a 29 de abril, data da requisição civil”. A partir de então, silêncio total.

Entretanto, aqueles homens e mulheres continuam a pernoitar em condições miseráveis em casas degradadas e em barracões feitos para alojar alfaias agrícolas e por vezes gado. Parte dos seus magros salários vão direitinho para o bolso de redes mafiosas (sim, mafiosas, com todas as letras), que com base em processos ignóbeis, apropriam-se de uma parte substancial do suor destes trabalhadores.

Aliás, todos lucram, menos os próprios. Desde logo as ditas redes mafiosas, assim como os donos dos “alojamentos”. Mas lucram também as empresas de trabalho temporário, os escritórios de advogados sem escrúpulos que ajudam a contornar uma permissiva legislação do trabalho. E lucram as empresas agrícolas, que assim têm à mão, e na mão, um exército de explorados que estão impedidos de poder beneficiar por inteiro de um direito elementar: o seu salário.

[...]

O Alentejo e o país precisam de mão de obra nalgumas áreas da atividade económica. A agricultura é claramente uma delas. Mas não podemos ter cá essas pessoas num quadro de indignidade total. A forma como esses seres humanos estão em Portugal, é demonstrativo de uma insensibilidade social, reveladora da nossa pequenez cívica.

[...]

Quando há anos via na televisão os Bidonvilles da periferia de Paris, pensava que tal nunca seria possível no Portugal do séc. XXI. O tempo encarregou-se de me trazer à razão [...]

 

Miguel Bento in https://www.oatual.pt/magazine/dos-bidonville-de-paris-as-estufas-de-odemira

 

 

09
Fev23

vapor alheio

Cecília

[...] em 2019.

Nesse ano, sem outras alternativas para conseguir sobreviver, atirou-se às limpezas e arrumou as malas que trouxe do Brasil num armazém de uma igreja evangélica, na Amadora, onde viviam 25 pessoas. Pelo menos era este o número identificado quando o SEF fez buscas naquelas instalações, em janeiro de 2020. Em causa estava o pagamento, por parte dessas pessoas, de rendas aos pastores da igreja, que foram constituídos arguidos.

Os quartos eram divididos por paredes de pladur, as divisões aproveitadas ao máximo, a roupa dobrada quase chegava ao teto e só havia um espaço para tomar banho. Entre a igreja e o anexo encontrava-se um terraço coberto, onde estavam duas mesas para refeições, uma máquina de lavar e muitos brinquedos das crianças. A maioria dos brasileiros que ali dormiam, no espaço quase camuflado pela fachada da igreja, eram casais com filhos. Com o tempo e depois da visita do SEF, as pessoas foram saindo - algumas encontraram casa, outras regressaram ao Brasil. Os 300 euros de renda que pagavam à igreja, conta Carol antes de entrar no auditório da igreja para mais uma missa, serviam supostamente para ajudar a pagar as contas da igreja. 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

06
Dez22

a cor [e a fala] do invisível

Cecília

De manhã são dezenas e durante a madrugada os autocarros transportam quase exclusivamente estas trabalhadoras[...] As noites nos autocarros da Carris, em Lisboa, e as conversas com quem acorda às três ou quatro da manhã para trabalhar deixaram a certeza de que este trabalho não é conhecido, nem reconhecido [...] as trabalhadoras de limpeza industrial são as que estão mais expostas. Limpam centros comerciais, escritórios, hospitais, aeroportos, bancos, lojas, estão em todos os edifícios, porque é raro o edifício que não tem uma empregada de limpeza. Ou um empregado. Ainda assim, apesar de se cruzarem com dezenas de pessoas todos os dias, continuam a passar despercebidas.[...]

A dirigente sindical Vivalda Silva admite a realidade e admite também, depois de umas contas de cabeça, que, no Oeiras Parque, por exemplo, os números são fáceis de apurar: «As trabalhadoras são maioritariamente africanas, uns 90%. Aliás, nem me lembro se está lá alguma portuguesa.»

O Centro Comercial Colombo, na freguesia de Benfica, segue a mesma tendência [...] «em 30 e tal pessoas em cada turno[...] 95% são africanas». [...] Basta fazer uma viagem de autocarro durante a madrugada para perceber que as mulheres negras são a maioria [...] Sanie dos Santos Reis [...] fez um exercício que permitiu transformar a observação em números [...] Em três meses, viu 2369 mulheres naquele autocarro às cinco e meia da manhã. Desse total, 2132 eram negras ou de nacionalidade estrangeira. Além do autocarro [...] fez 64 viagens no comboio que liga Sintra a Lisboa. A conclusão é a mesma: das 1820 mulheres, 1660 eram negras ou de nacionalidade estrangeira. 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

20
Out22

testemunho pessoal sobre o apoio dos 125

Cecília

Quem me segue, sabe que, nunca encontra textos criados por mim e que relatem a minha vida pessoal, familiar, social,...,.

No entanto, hoje, abro a exceção (e que exceção!) - não tanto por mim, mas pelas centenas de pessoas que, imagino eu, se encontram na mesma situação que eu e que tal como eu sentiram um gosto amarguíssimo de injustiça social. 

Como sou viúva, e recebi metade da pensão de viuvez no passado mês, a saber, metade de €198, não vou receber os €125 de apoio. Vão-me ser pagos € 26, através da segurança social/CGA, na próxima segunda-feira dia 24 de outubro.

O mesmo vai ser aplicado às minhas filhas que, por terem recebido metade da pensão de orfandade, não vão ser consideradas para os €50 de apoio por dependente.
 
CONCLUSÃO: SE O MEU MARIDO FOSSE VIVO, EU TERIA MAIS UM SALÁRIO POR MÊS, TERIA OS €125 X2 E TERIA €50X3! (sim, porque o rendimento estaria enquadrado nos valores elegíveis para o apoio).
 
É A JUSTIÇA SOCIAL (EM MODO CEGUEIRA FINANCEIRA) EM TODO O SEU ESPLENDOR!
 
Tenho 41 anos, viúva quase há cinco, mãe de três meninas com 8 e 5 anos (duas gémeas que à data da morte do pai tinham 5 meses). 
 
Tenho mantido uma vida limpa, digna e senti-me hoje atirada para a berma, enlodada, sem perceber bem o porquê.
 
 
 
12
Out22

a energia das dívidas

Cecília

«Tem muitas dívidas - dizia. - As dívidas fazem mais filósofos do que a escola de Atenas.» Camilo achava sensato aquilo.

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

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