as associadas do bem
«Há um olho em cada pedra
Uma pedra em cada olhar
Um pedreiro à tua espreita
Que te há de apedrejar»
José Eduardo Agualusa – A Conjura (1989)
Quetzal Editores (2017)
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anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
«Há um olho em cada pedra
Uma pedra em cada olhar
Um pedreiro à tua espreita
Que te há de apedrejar»
José Eduardo Agualusa – A Conjura (1989)
Quetzal Editores (2017)
Mais para ler
[...]
Havia na floresta antiga
Um rinoceronte de grande porte
Tinha um só chifre na cabeça,
Coisa que o fazia muito forte.
[...]
Num dia de certa melancolia
Foi ao rio tomar um banho.
E, olhando para cima,
Fez ao sol um pedido sem tamanho:
"Tu, que estás no alto
E tanto podes ver,
Ensina-me o segredo
Para a tristeza desaparecer."
[...]
"Tudo na vida
Depende do nosso olhar.
Não há só triste e contente,
O lado branco, o lado preto.
Há dois olhos para ver
E um coração no peito
Que te ajudará a escolher!"
[...]
Pelos poderes dos astros,
Quero dar-te este presente
[....]
Além do Grande Chifre,
Um outro, menor, apareceu,
E, para melhor entender,
Uma explicação recebeu.
"Tudo na vida
Depende do modo de olhar.
Tu, que às vezes és triste,
Tudo tens para ser feliz.
Assim o meu presente
Te dê uma nova abertura:
No chifre grande terás a força
E, no menor, uma certa ternura."
Ondjaki – A Estória do Sol e do Rinoceronte (2020)
Alfaguara / Penguin Random House Grupo Editorial Unipessoal Lda (2020)
Mais para ler
Sou agora um adulto; enfrento o sol e a chuva de cabeça erguida. Tenho de me deixar cair com a força de uma machadinha e cortar o carvalho com um único golpe, pois, se não o fizer, se me desviar e perder tempo a olhar de um lado para o outro, cairei como se fosse um floco de neve, derretendo-me.
Virginia Woolf – As Ondas (1931)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Mais para ler
Ele diz: E havemos de nos recordar [...] Do desejo também. Ela diz: É verdade, do nosso desejo um do outro de que não fazemos nada.
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Mais para ler
[...] chora em frente dele, com os olhos desnudados, afogados nas lágrimas. Olhos que a tornam nua.
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Mais para ler
[...] e agora ter-se-ia transformado no perfume inodoro da poeira da areia.
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Mais para ler
...quando levanto a cabeça encontro os olhos de uma mulher azeda [...] Com alguma impertinência, fecho o corpo bem à sua frente, como se de um guarda-sol se tratasse.
Virginia Woolf – As Ondas (1931)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
O Guarda-Sol, (1777)
Francisco de Goya
Mais para ler
A sociedade portuguesa de 1940 estava muito dividida no que dizia respeito aos seus sentimentos por Salazar. E ainda hoje, apesar da revolução de 1974, que permitiu ao país viver em democracia, a memória do ditador suscita ideias contraditórias em alguns sectores: há quem insista em perpetuar a memória de um Salazar "autoritário, mas bonzinho", pondo em dúvida que tenha, sequer, colaborado com o nazismo (nem mesmo de forma não consciente). Como se barrar o caminho da salvação a potenciais vítimas da perseguição e dos campos de concentração e da morte, só para dar um exemplo que me toca mais de perto, não fosse colaboração suficiente com o horror nazi...
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
deus me proteja de mim
e da maldade de gente boa
da bondade da pessoa ruim
deus me governe, guarde
ilumine e zele assim
caminho se conhece andando
então vez em quando
é bom se perder
perdido fica perguntando
vai só procurando
e acha sem saber
perigo é se encontrar perdido
deixar sem ter sido
não olhar, não ver
bom mesmo é ter sexto sentido
sair distraído e espalhar bem-querer
Faixa do disco Francisco, forró y frevo (2008)
Mais para ler
O fotojornalista Adriano Miranda, autor da imagem, disse à revista Visão que Manuel lhe apareceu então «uma personagem bíblica, surgindo dos escombros envolto em fumo, de cajado na mão». O retrato de Manuel teve um impacto que nem um nem outro anteciparam [...]
Mas, agora que passaram mais de seis meses sobre aquele dia, olhamos para a fotografia com outros olhos. Além da dimensão triste do retrato, há no rosto do velho a réstia de um sorriso, e basta passar algum tempo com Manuel para perceber que, longe de ser uma personagem trágica, ele é um homem bem-humorado, sempre pronto a contar uma piada. Aliás, naquele instante em que Adriano Miranda lhe pediu se podia fotografá-lo, na manhã depois de uma noite de pesadelo, e quando ele já sabia que pelo menos um vizinho tinha morrido apanhado pelas chamas, a resposta do homem, relembrada pelo fotojornalista na Visão de 23 de novembro de 2017, mostrava bem que não era um incêndio, por mais devastador que fosse, que ia deitá-lo abaixo. «A mim, que sou tão feio?», perguntou a Adriano, antes de se deixar fotografar.
Patrícia Carvalho – Ainda aqui estou (2018)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Patrícia Carvalho (2018)
Adriano Miranda, Manuel Francisco, Covelo, freguesia de Ventosa, concelho de Vouzela, 15.10.2017
Mais para ler
A opressão é permanente
as relações indiscerníveis.
António Ramos Rosa in MEDIADORA DO NÃO LUGAR - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Primeiro foram as mãos que me disseram
que ali havia gente de verdade
depois fugi-te pelo corpo acima
medi-te na boca a intensidade
senti que ali dentro havia um tigre
naquele repouso havia movimento
olhei-te e no sol havia pedras
parámos ambos como se parasse o tempo
parámos ambos como se parasse o tempo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
atrevi-me a mergulhar nos teus cabelos
respirando o espanto que me deras
ali havia força havia fogo
havia a memória que aprenderas
senti no corpo todo um arrepio
senti nas veias um fogo esquecido
percebemos num minuto a vida toda
sem nada te dizer ficaste ali comigo
sem nada te dizer ficaste ali comigo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
falavas de projectos e futuro
de coisas banais frivolidades
mas quando me sorriste parou tudo
problemas do mundo enormidades
senti que um rio parava e o nevoeiro
vestia nos teus dedos capa e espada
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse no fundo preciso
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse preciso dizer nada
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim pessoas
Mais para ler