Está numa ira que ele não conhece, surda, má. Diz:
- Pretende dispor da ideia de Deus como se essa ideia fosse uma mercadoria, espalhá-la por toda a parte, gritante e velha, como se Deus precisasse de si para alguma coisa [...]
Ela continua: Quando chora, chora por não impor Deus. Por não poder roubar Deus e dispensá-lo.
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
A arbitrariedade da ideia de raça e do seu uso pode ser bem compreendida através de uma intervenção pedagógica de uma professora americana do ensino básico preocupada em fazer entender aos seus alunos o racismo e a discriminação. Um dia, Jane Elliot informou as crianças suas alunas de que havia grandes diferenças entre as crianças com olhos castanhos e aquelas que tinham olhos azuis. As de olhos azuis seriam mais trabalhadoras, mais inteligentes e melhores pessoas do que as crianças que tinham olhos castanhos. Jane Elliot deu aos alunos vários exemplos disto mesmo e conseguiu criar um sentimento de orgulho e satisfação nas crianças de olhos azuis e de abatimento e raiva nas de olhos castanhos. Ao mesmo tempo, nos membros de cada grupo emergiu um sentimento de destino comum: somos um grupo superior ou, no outro caso, um grupo inferior. A situação foi vivida como verdadeiramente dramática por uns e gloriosa por outros. No dia seguinte, porém, a professora disse às mesmas crianças que se havia enganado. Afinal, os melhores eram os de olhos castanhos. As reações emocionais não se fizeram esperar, os satisfeitos de ontem eram os infelizes de hoje. Após um tempo para que a nova hierarquia produzisse os seus efeitos, a professora interrompeu a atividade das crianças, chamou-as para junto de si e ajudou-as a refletir sobre o que se passou: sobre a ideia de raça, a arbitrariedade, a opressão e o que significava ser uma criança negra. Vinte anos depois, os adultos que eram estas crianças ainda recordavam a situação, as experiências vividas e o impacto que tiveram nas suas vidas.
Jorge Vala –Racismo, Hoje, Portugal em Contexto Europeu(2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Jorge Vala (2021)
Ele volta ao quarto. Ela estava ali, por trás da espessura das paredes. Ele quase se esquece da sua existência sempre que volta do mar [...]
Talvez ela não durma. Ele não quer acordá-la, força-se a não o fazer, olha-a. O rosto está abrigado, debaixo da seda preta. Só o corpo nu está na luz amarela, mártir.
[...] perto daquela hora, com a vinda do dia vem a infelicidade [...]
Ele aproxima-se dela, olha para o lugar da frase que faria com que ele a matasse, ali, na base do pescoço, nas redes do coração [...]
Ela manifestamente não viu o barco. Não ouviu o seu barulho. Ignora tudo sobre o barco porque simplesmente dormia quando o barco passou. Tanta inocência faz com que ele lhe pegue na mão e a beije.
Ela ignora que passou a ser aquela que não sabe [...]
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Ela diz que é o contrário, que ela não pode esquecê-lo. Que a partir do momento em que não se passa nada entre eles, fica a memória infernal daquilo que não acontece.
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Não faz nada. É uma pessoa que não faz nada e a quem esse estado de não fazer nada ocupa a totalidade do tempo.
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Plus j'avance et plus je sais Que t'es là, toi mon ego Faut que je m'en aille Je sais que je déraille Aujourd'hui je t'écris Je brûle tout ce que tu me dis, maudit Vomis tout ce qui brille La guerre s'en suit On est loin, on est loin Du jardin d'Eden Éternelle réalité Libérez, libérons, nous de nous-même Qu'à t-on fait de la vérité? Brisez les, brisez les, brisez toutes les haines Dévoilez, n'affrontez que moi Le seul combat Auquel je crois C'est contre moi, moi, moi, moi, moi Libère ton esprit Ecoute chanter le monde Pourquoi passer sa vie À courir après une ombre? Juste une pâle copie Une voix qui t'entraîne Et petit à petit Elle prend ton oxygène We are the war The war en nous même J'veux voir J'veux voir J'veux voir la lumière Libère toi C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego, l'ego C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego, l'ego C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego, l'ego C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego On est loin, on est loin Du jardin d'Eden Entre joie et fatalité Libérez, libérons, nous de nous-même Pourquoi souffrir lorsqu'on peut s'aimer? Brisez les, brisez les, brisez toutes les chaînes Dévoilez, être que soi Le seul combat Auquel je crois C'est contre moi, moi, moi, moi, moi Libère ton esprit Ecoute chanter le monde Pourquoi passer sa vie À courir après une ombre? Juste une pâle copie Une voix qui t'entraîne Et petit à petit Elle prend ton oxygène We are The war The war en nous même J'veux voir J'veux voir J'veux voir la lumière Libère toi C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego, l'ego C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego, l'ego C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego, l'ego C'est l'é, c'est l'é, c'est l'é, c'est l'é L'ego, l'ego, l'ego, l'ego Libère toi