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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

09
Jun21

fazer acontecer e esperar (ou como surgem os milagres)

Cecília

Perguntei-lhe se se lembrava da chegada deles (pais e irmãs) a Bordéus. Como resposta, este rabino Kruger (filho) abriu uma pequena pasta que continha uma série de documentos e mostrou-me um bilhete de comboio, de cartão como era costume naquela altura, e disse-me que aquele era o bilhete de comboio (meio-bilhete de 2ª classe) Paris/Bordéus que o pai lhe deu naquele dia quando todos viajaram para Bordéus... à espera de um milagre. 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

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Homeward Bound

David Tutwiler

 

30
Jul16

armamento e munições

Cecília

"Tinha duas obrigações a cumprir: a discrição, que devia elevar-se ao nível da invisibilidade, e o número de reparações a efectuar (...). 

O Champ-de-Mars era um terreno de caça excelente. Podiam ali encontrar-se, a qualquer hora do dia ou da noite, casais de apaixonados de todas as nacionalidades. 

Decidi observar antes de agir, registando tudo num bloco-notas. 

Durante a elaboração deste inventário de reparações possíveis, apercebi-me de que os sentimentos exerciam sobre mim uma atracção irresistível, pelo que decidi, com o acordo dos meus superiores hierárquicos, especializar-me na reparação da tristeza. 

Graças a esta escolha, a minha viagem à capital tornou-se uma sorte grande: os problemas amorosos contemporâneos são apaixonantes e, embora isso possa denotar um certo snobismo da minha parte, a verdade é que estava radiante por fazer o meu estágio no centro do problema, na confluência do imaginário colectivo e dos mitos contemporâneos, na capital alegórica do Amor, Paris. 

Era formidável verificar até que ponto os homens e as mulheres comunicavam mal e tinham deixado de se ouvir a si próprios. 

Os casos de tristeza mais frequentes deviam-se a variados estados de solidão profunda e infinita. O medo, a incapacidade de concretizar aquilo que se imagina, de transformar os desejos em faculdades através da força de vontade pareceram-se ser sintomas muito correntes. 

Vigilante e curioso, ia anotando tudo no meu bloco, desde a mais vil das traições à mais banal das frustrações. Nenhum problema de coração deve ser descurado; para se desempenhar funções como as minhas, é importante estar-se consciente de que a infelicidade é relativa. Um arranhão na alma pode ser tão doloroso e perigoso como uma ferida grave. Certos desgostos amorosos podem destruir uma vida e, em contrapartida, alguns verdadeiros dramas podem construir uma existência. 

A verdade é que, à força de tanto observar, elaborei de forma bastante rápida as bases teóricas da técnica que ia adoptar: conseguir alterar a percepção da vida por parte do sujeito sofredor. 

A partir do momento em que vemos a vida de outra maneira, é-nos possível transformar a realidade.

Isto pode parecer simplista, mas funciona sempre, basta que tenhamos coragem.

Infelizmente, os humanos não desenvolveram essa arma (....)."

 

 

Hélène Guétary  – O Homenzinho Azul (1999 by Librairie Arthème Fayard)

Tradução de Fernanda Soares 

 

Printer Portuguesa para Círculo de Leitores (Dezembro,2001)

 

 

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