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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

que sim, que sim

10.03.22

Trabalhos relativamente precários (ou flexíveis, consoante a terminologia escolhida), experiências que implicam ralação directa com consumidores de vários géneros, passagem pelos quase obrigatórios call centers. Ricardo começou a lidar com clientes há cerca de dez anos, numa loja da zona do Chiado, em Lisboa. Um lugar tranquilo, com muitos clientes habituais, alguns curiosos, mas não só. «Também havia aqueles a quem eu chamava os loucos do Chiado; isto é  mesmo a sério. Eram pessoas que iam a consultas de psicoterapia e de psiquiatria ali ao lado e que depois iam entreter-se na loja. Algumas velhinhas também iam lá depois da missa.» No caso, tratava-se de uma loja - mais exactamente uma flagship store - especializada em objectos de decoração e design, na qual Ricardo trabalhava em regime de part-time enquanto frequentava o mestrado na Faculdade de Belas-Artes. « O horário era bom e o salário, apesar de não ser elevado, compensava. Fazia umas cinco horas por dia e uma parte era paga por fora, livre de impostos, por isso valia a pena», relembra entre risos.

Daí passaria para o mais do que famoso Museu Berardo, instalado no Centro Cultural de Belém (CCB), espaço onde exercia várias funções [...] «Era um trabalho bom porque permitia bastante flexibilidade, na prática era uma prestação de serviços [...] A flexibilidade do vínculo e o acesso facilitado à entrada em funções permitiam que trabalhassem naquele espaço muitos estudantes, principalmente da área das Artes, e o público acabava por assumir diferentes matizes de comportamento. «Claro, apareciam lá imensas pessoas, de todos os tipos. Gente interessada em arte contemporânea, mas também muita gente zangada com o Berardo, coisa muito actual, até; era malta que ia para lá atirar-nos larachas, bocas, como se nós fôssemos o próprio Berardo... e o problema é que nós não podíamos dizer "olhe que eu concordo consigo."»

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

[da série] cuidado, esta gente vota (II)

03.02.22

Acontece que, mesmo em contextos de menor exigência, como era o caso do bengaleiro do Museu Berardo, os problemas podiam surgir. «Uma vez fui abordado em espanhol por uma senhora americana. Eu respondi-lhe em inglês, dizendo que não sabia falar espanhol, ao que ela perguntou se não podia falar espanhol em Portugal. Eu disse-lhe que sim, mas aconselhei-a antes a falar inglês, por todas as razões. Expliquei-lhe que há umas animosidades históricas e que há portugueses que não reagem bem quando lhes falam em espanhol. Ela agradeceu com um sorriso largo, mas depois foi fazer uma queixa online, a dizer que eu a tinha feito perder o tempo dela, enquanto lhe dava uma lecture sobre que línguas é que ela podia ou não podia falar.»

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

Decreto-lei 164/2006 de 9 de Agosto

25.06.19

Portugal, por razões históricas e políticas, nunca conseguiu instalar na cidade de Lisboa um museu de arte moderna e contemporânea com forte acervo internacional, amplamente integrado nos circuitos internacionais de arte.

(...)

O protocolo celebrado entre o Estado, através do Ministério da Cultura, a Fundação Centro Cultural de Belém, a Associação Colecção Berardo e o coleccionador José Manuel Rodrigues Berardo vem permitir não só que a Colecção Berardo seja colocada à disposição da população portuguesa mas também que seja viabilizada a instalação de um museu de arte moderna e contemporânea a partir de um acervo que hoje se encontra integrado no património do coleccionador.

Pelo referido protocolo as partes outorgantes afirmaram o compromisso de constituir a Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo, que terá como incumbência a criação, gestão e organização do Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea, a instalar no Centro Cultural de Belém. Trata-se de uma parceria público-privada que alia a vontade do Estado na criação de um museu de arte moderna e contemporânea com o espírito empreendedor do coleccionador.

(...)

Artigo 30.º

Dissolução da Fundação

1 - Em caso de impossibilidade, por qualquer razão, de obtenção dos objectivos para que foi constituída, a Fundação dissolve-se nos termos legais, constituindo-se o conselho de administração em comissão liquidatária.

2 - Extinta a Fundação, o respectivo património será partilhado nos seguintes termos:

a) O direito de usufruto do centro de exposições do Centro Cultural de Belém extingue-se, reassumindo a Fundação do Centro Cultural de Belém a sua posse plena e gestão;

b) O comodato extingue-se, reassumindo a Associação Colecção Berardo a posse plena e gestão da Colecção Berardo, caso a essa data o Estado não tenha exercido a opção de compra;

c) Caso já tenha exercido a opção, o património reverte a favor do Estado, que se obriga a integrar em projecto museológico já constituído ou a constituir preservando a memória da Colecção Berardo;

d) Todo o restante património, nomeadamente as obras adquiridas através do fundo de aquisições ou por doações ou legados, reverte a favor do Estado, sem prejuízo do disposto na parte final da alínea c) anterior.

3 - As obras de arte compradas com recurso ao fundo de aquisições podem ser adquiridas por José Manuel Rodrigues Berardo ou por quem ele venha a indicar, pelo respectivo preço de aquisição, sendo deduzida a parte do preço que constituiu a sua participação.

 

Museu Coleção Berardo

Inaugurado em 25 de Junho de 2007