Há, em sítios com milhares de pessoas, um anonimato que pode ser ou não conveniente. Nas cidades pequenas, pelo contrário, todos têm nome e vão ganhando uma etiqueta.
Rita Pereira Carvalho –As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza(2022)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)
[...] Ana Isabel [...] Tem 25 anos e é a prova de que os estereótipos servem para encher egos de quem nunca quis olhar profundamente para o que está à sua frente. O preconceito existe [...] Quando pegou numa esfregona pela primeira vez, dividia os dias entre as limpezas na redação de um jornal e as aulas do mestrado na área de estatística e análise de dados, um curso que está a tirar na Universidade de Coimbra, à distância. Os números e os detergentes cruzam-se neste caminho e cada um tem uma função muito específica - os primeiros são o sonho, os segundos, o caminho para tornar esse sonho palpável.
Rita Pereira Carvalho –As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza(2022)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)
Escolha se quer estar vivo ou se pretende ser um morto-vivo. Sua alma não morrerá nunca. Mas os seus sentimentos podem adoecer e secar. Não permita. Cultive rosas no seu coração e encontrará perfume em todos os caminhos por onde passar.
De manhã são dezenas e durante a madrugada os autocarros transportam quase exclusivamente estas trabalhadoras[...] As noites nos autocarros da Carris, em Lisboa, e as conversas com quem acorda às três ou quatro da manhã para trabalhar deixaram a certeza de que este trabalho não é conhecido, nem reconhecido [...] as trabalhadoras de limpeza industrial são as que estão mais expostas. Limpam centros comerciais, escritórios, hospitais, aeroportos, bancos, lojas, estão em todos os edifícios, porque é raro o edifício que não tem uma empregada de limpeza. Ou um empregado. Ainda assim, apesar de se cruzarem com dezenas de pessoas todos os dias, continuam a passar despercebidas.[...]
A dirigente sindical Vivalda Silva admite a realidade e admite também, depois de umas contas de cabeça, que, no Oeiras Parque, por exemplo, os números são fáceis de apurar: «As trabalhadoras são maioritariamente africanas, uns 90%. Aliás, nem me lembro se está lá alguma portuguesa.»
O Centro Comercial Colombo, na freguesia de Benfica, segue a mesma tendência [...] «em 30 e tal pessoas em cada turno[...] 95% são africanas». [...] Basta fazer uma viagem de autocarro durante a madrugada para perceber que as mulheres negras são a maioria [...] Sanie dos Santos Reis [...] fez um exercício que permitiu transformar a observação em números [...] Em três meses, viu 2369 mulheres naquele autocarro às cinco e meia da manhã. Desse total, 2132 eram negras ou de nacionalidade estrangeira. Além do autocarro [...] fez 64 viagens no comboio que liga Sintra a Lisboa. A conclusão é a mesma: das 1820 mulheres, 1660 eram negras ou de nacionalidade estrangeira.
Rita Pereira Carvalho –As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza(2022)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)
[...] espalhou-se que ele amava uma certa Vicência do Carmo; ele escrevia-lhe as iniciais a tinta roxa na palma da mão e na borda dos guardanapos. A senhora era casada, e honesta, o que o fulminou duas vezes; às vezes o raio cai de facto duas vezes no mesmo lugar.
Agustina Bessa-Luís –Fanny Owen(1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
"Es la canción con la que quiero definir -en esencia- a ese grupo de personas que solemos ladrar, pelear ante la vida y la adversidad, hacerles frente a veces con dureza, a veces firmes como una roca, pero siempre en el ánimo de arreglar las cosas. Para los amantes de la diatriba no beligerante, esa que aspira a escuchar todas las posturas manifiestas. Esas personas. Esas. Esas que son tan distintas de las que nunca dicen nada pero que, cuando menos lo esperas, atacan y asestan un mordisco mortal para herir como única finalidad.
Yo ladro, mucho, pero no muerdo. El bozal es para los que muerden. Esto lo digo como mujer."
E por vezes, quando prestamos um bom serviço, acabamos por ser apanhados de surpresa com algumas propostas, enfim...» Marcelo cede um sorriso malandro. «Uma vez, no By The Wine, tivemos um grupo de oito americanas que se fartaram de beber, estavam eufóricas, adoraram a comida. E começaram a flirtar um bocado com o pessoal. No final, deram-me uma gorjeta de 50 euros e disseram-me "Se quiseres vir connosco para o nosso hotel, damos-te mais 100", e eu fiquei à rasca. O que é que um gajo... Disse-lhes que era comprometido, que tinha mulher, e elas não se ficaram: "Traz a tua mulher e recebes outros 100."» Marcelo garante que não foi.
Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)