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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

e ao costume, nada a dizer

31.05.23

"Anita," Fergus said, turning to her. "This is a hell of a world we live in."

"Oh, I know," Anita said casually. She nodded. "Yuh, I know." She added, "Always has been, I suspect."

"Do you think so?" Fergus asked. He looked at her through his sunglasses. "Do you think it has always been this bad, really? It seems to me like things are getting crazier."

Anita shrugged. "I think they've always been crazy. That's my view." [...]

After another few moments he said, "Things all right with you, Anita?"

She gave a sigh that made her cheeks expand for a moment. "Nah." She looked both ways on the road and said, "Gary's been a mess since he got laid off, and that was a few years ago, and my kids are crazy." She looked at Fergus and made a circle around her ear with her forefinger. She said, "I mean, they are really crazy." She shook her head. "You know what my oldest son is into? He watches some Japonese reality shows on his computer where the contestants sniff each other's butts."

Fergus looked over at her. "God," he said. Then he said, "Come on, Anita, the world has certainly gotten crazier."

 

Elizabeth Strout – Olive, Again (2019)
Penguin Random House UK (2019)

 

 

mudança de paradigmas

29.05.23

Ismário é dos poucos homens de balde e pano nas mãos por aquela zona. O paradigma está, no entanto, a mudar. As limpezas eram e ainda são vistas como um emprego de mulheres, mas os homens também marcam a sua presença, ainda que se mantenham ausentes de certos locais, como os hospitais [...] 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

da saga: "não sou racista [mas...] porque insisto em não tirar as palas dos olhos" III

23.05.23

"Dad! They called you Frenchie?" Oh sure, Denny said, with a chuckle. "It's not funny," his son had said, adding, "Mrs. Kitteridge, way back in seventh grade, she told us this country was supposed to be a melting pot, but it never melted, and she was right," and he had gotten up and walked away, leaving Denny with his yearbook open on the kitchen table.

Mrs. Kitteridge was wrong. Times changed.

But Denny [...] now saw his son's point: To be called "Frenchie" was no longer acceptable. What Denny's son had not understood was that Denny had never had his feelings hurt by being called "Frenchie." As Denny kept walking, digging his hands deeper into his pockets, he began to wonder if this was true. He realized: What was true was that he, Denny, had accepted it. 

 

Elizabeth Strout – Olive, Again (2019)
Penguin Random House UK (2019)

 

 

vergonhas [não tão] alheias II

21.02.22

A perceção de que estariam a registar-se alterações na expressão do racismo, levou ao conceito de racismo cultural na Europa dos anos 80, quando se regista uma nova argumentação a favor da rejeição da imigração proveniente das ex-colónias europeias [...] 

Embora o racismo biológico não seja posto de parte nestes movimentos, os argumentos contra a imigração de não-brancos e a rejeição em geral de pessoas de origem não-europeia focam a «diferença cultural», sendo progressivamente sistematizados e difundidos os princípios ideológicos do que viria a ser classificado como «novo racismo», ou «racismo diferencialista», ou ainda «racismo cultural», por vários cientistas sociais e filósofos. Esses princípios ideológicos podem ser resumidos da seguinte forma: as diferenças culturais entre grupos de humanos são muito profundas e remetem para diferenças de natureza; algumas culturas são superiores a outras; culturas diferentes são intrinsecamente incompatíveis e dificilmente podem coexistir numa mesma sociedade [...]

É só nos anos 90 que surgem as primeiras pesquisas que examinam se e como o senso comum inferioriza culturalmente, e se esta inferiorização se pode conceptualizar como uma nova forma de racismo.

 

Jorge Vala – Racismo, Hoje, Portugal em Contexto Europeu (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Jorge Vala (2021)

 

 

detrações

15.07.21

Há quem garanta que esta "é uma história mal contada". O já falecido historiador José Hermano Saraiva, conhecido admirador do ditador, disse e escreveu: «Aristides de Sousa Mendes é uma invenção de uma certa esquerda para denegrir a memória de Salazar.» E mais: «Quem salvou os refugiados em 1940 foi o comboio [...] para lá, levavam volfrâmio, e para cá traziam refugiados.» É a versão do "volfrâmio humanitário", uma perigosa tentativa de revisionismo. José Hermano Saraiva nem pensou nas questões técnicas: comboios para minério (abertos) não são a mesma coisa que comboios para passageiros. É verdade que os nazis também usavam comboios de carga (fechados) para levar pessoas para os campos de concentração... E há outro detalhe: a bitola dos comboios ibéricos não é a mesma dos comboios para lá da fronteira de Hendaye.

Para outros, a desobediência à Circular 14 é um episódio que em vez de nos encher de orgulho nos enche de embaraço, e é melhor nem falar no assunto. Seria muito melhor se fosse mentira. E há, na realidade, tentativas de contar os factos de outra maneira, algumas que demonstram até uma abundante criatividade. 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

país(es)

29.06.21

Um país se delimita nas mudanças do vento.

Labirinto ou fábrica de espumas sempre aberta. 

Sinuosas continuidades, dunas de pensamento, 

por vezes um abrigo, ninho de primavera,

por vezes um polvo ardendo nas areias. 

 

António Ramos Rosa in UM PAÍS, UM POEMA - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

recuperações históricas

07.01.21

A recuperação da memória de Aristides de Sousa Mendes estava afirmada e confirmada [...] Fizeram-se muitos trabalhos escritos sobre o tema, e pelo menos dois doutoramentos. Um deles é da autoria da Dra. Raquel Limão Andrade, filha daquele jovem de 20 anos, Manuel Lourenço de Andrade, que em 1940 se preocupava todos os dias com os refugiados que chegavam de comboio a Vilar Formoso, intitulado O diplomata que se fez refugiado, em que analisa o aspeto espiritual e o sentimento de solidariedade e compaixão do cônsul. 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

rock poema

06.01.21

«Vais deitar abaixo os grupos de rock. Nunca vi nada assim. Gostaria de ter-te lá todas as sextas e sábados à noite.»

«Isso não resultaria, Marty. Pode-se cantar a mesma canção dezenas de vezes, mas com os poemas querem sempre algo de novo.»

 

Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)