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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

02
Out23

Satyagraha (II)

Cecília

Severino temia sobretudo a reação dos grandes proprietários portugueses, alguns dos quais possuíam verdadeiros exércitos privados. Contudo, esses sertanejos representavam uma ameaça remota, pois estavam a muitas centenas de quilómetros da capital e decorreriam várias semanas antes que soubessem do acontecido. Até lá, seria possível tomar medidas preventivas e mesmo, se necessário, requerer o apoio de nações amigas. Confiava-se, por outro lado, que a maioria dos colonos acabaria defendendo o levantamento, dadas as evidentes vantagens económicas que para todos adviriam da autonomia política da província. 

 

José Eduardo Agualusa – A Conjura (1989)

Quetzal Editores (2017)

 

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04
Abr23

[há muito que] já estamos em ditadura

Cecília

A Alice Vieira disse que a reescrita de obras clássicas é censura e que é preciso ter em conta o contexto histórico em que foram escritas. Totalmente de acordo. Também eu o digo.
A questão é que este cancelamento não toca apenas aos clássicos.
O Afonso Reis Cabral ,um dos escritores mais talentosos no panorama literário europeu, viu dois dos seus livros a terem a sua edição nos USA negados porque no caso do O Meu Irmão, um dos personagens que tem síndrome de Down poderia levantar questões e no outro, Pão de Açúcar, foi considerado que um homem cis a escrever sobre um transexual poderia também levantar outro tipo de questões. Foi senão me engano há dois/três anos.
Isto é o nosso tempo e não precisa ter em conta um certo contexto do passado. É aqui e agora.
O que é certo é que aos leitores americanos foi negado acesso a dois livros extraordinários (mérito reconhecido até pelo mesmo editor americano que não os edita pelas razões anteriormente indicadas) porque outros argumentos se levantaram além da mera qualidade literária das obras de ficção em causa. As personagens, o escritor, são de repente também julgados perante o altar de uma nova moralidade e de uma espécie de preocupação pelos leitores que acéfalos têm de ser resguardados da literatura.
Citando a Alice Vieira: isto é censura e infelizmente para os leitores americanos o Afonso Reis Cabral foi cancelado.
Por cá, onde a liberdade de escrever, editar e ler o Afonso Reis Cabral tem de ser protegida, continuaremos a editar com honra e alegria, os livros do Afonso, com os personagens que melhor entender e quando e sempre que ele entender.


Pedro Sobral
Presidente | Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL)

 

 

 

08
Fev23

moral, bom senso, paz de espírito, regras de vida, meio termo, ambição ignorada.

Cecília

1755 fora uma data também especial. Com as velhas paredes dos palácios setecentistas  de Lisboa caíra também uma certa casta vigorosa e subtil do português para quem a sensibilidade era o estribo das suas empresas. Depois o Marquês impusera no reino a sua férrea marca burguesa. A moral sucedeu à doce inconstância da alma de que a inspiração dum povo aproveita; o bom senso tomou o lugar do bom gosto. A paz de espírito foi assegurada pelo uso de regras de vida minuciosas e severas. A gente honesta, amante do meio termo, proliferou, fez bons negócios, e a insipidez que o cálculo protege passou a ignorar a ambição no seu alto sentido. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

19 MAR 2021
"Estamos em cima de um barril de pólvora que um dia vai explodir"
Engenheiro especializado em sismos e professor no Instituto Superior Técnico Mário Lopes defende que falta fiscalização das normas relativas à resistência sísmica. E que a prevenção devia começar pelos cidadãos que, desde logo, deviam exigir essas condições quando vão habitar uma casa.

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-mar-2021/estamos-em-cma-de-um-barril-de-polvora-que-um-dia-vai-explodir-13475414.html

 

 

25
Out22

sociedade ocidental em percentagens

Cecília

Murmurava-se uma coisa e dizia-se outra. No gume destas contradições, passa a moral das sociedades.

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

25
Mar22

ladrei-te, meu bem (e sempre ladrarei)

Cecília

"Es la canción con la que quiero definir -en esencia- a ese grupo de personas que solemos ladrar, pelear ante la vida y la adversidad, hacerles frente a veces con dureza, a veces firmes como una roca, pero siempre en el ánimo de arreglar las cosas. Para los amantes de la diatriba no beligerante, esa que aspira a escuchar todas las posturas manifiestas. Esas personas. Esas. Esas que son tan distintas de las que nunca dicen nada pero que, cuando menos lo esperas, atacan y asestan un mordisco mortal para herir como única finalidad.

Yo ladro, mucho, pero no muerdo. El bozal es para los que muerden. Esto lo digo como mujer."

 

Vega.

 

 

16
Mar22

à deux pas de chez nous

Cecília

Nessa altura soube que não me tinha enganado [...] não era um marginal nem um assassino, era uma pessoa que tinha saído da vida. 

 

Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

La concierge me dit qu'ils ne sont bons à rien
Qu'ils n'ont pas les manières de chrétiens
Qu'ils respirent notre air et mangent notre pain
À deux pas de chez moi allez voir mes voisins
C'est vrai que nos grands-pères étaient des gens de bien
Qu'ils avaient des manières de chrétiens
Quand ils ont pris la terre d'Afrique aux Africains
À deux pas de chez moi allez voir mes voisins

 

 

04
Mar22

futuro[s] assassinado[s]

Cecília

Talvez que a vida não responda ao tratamento que lhe damos quando a seu respeito falamos.

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

in https://www.youtube.com/channel/UC7fWeaHhqgM4Ry-RMpM2YYw/community?lb=Ugkx-hJH2LtxRA_XG9RiezzS4qBFsLeoM7Fo

 

24
Jan22

o talento da leveza

Cecília

Mas nós perdemos as leves

sandálias do vento

já não conhecemos o gozo

vegetal

 

António Ramos Rosa in VINTE POEMAS PARA ALBANO MARTINS - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

09
Dez21

payback period

Cecília

Se hoje EUA e China lutam pelo papel de potência mundial, numa corrida tecnológica e espacial, há pouco mais de um século eram os britânicos que governavam as ondas, mantendo sob o seu jugo mais de 400 milhões de pessoas, então equivalente a mais de 20% da população mundial [...]

“Império não acabou quando os britânicos fizeram as malas” “Os sinos do templo, eles dizem, volta soldado inglês”, entoou distraidamente o então ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, dentro do pagode de Shwedagon, o mais sagrado templo budista de Rangun, no Myanmar, em 2017.

Tratava-se da Estrada para Mandalay (1892), um nostálgico poema de Rudyard Kipling sobre um antigo soldado inglês, e as saudades que tinha de uma rapariga birmanesa que beijara. “Provavelmente não é uma boa ideia”, avisou o embaixador britânico ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros, perante as câmaras do Channel 4, calando-o. É que, no que toca ao período colonial, muitos birmaneses recordam sobretudo os massacres cometidos pelos britânicos, suprimindo sucessivas rebeliões.

No entanto, nem sempre a memória se mantém tão viva e o sentimento anticolonial tão forte, salienta Deana Heath. Por um lado, “para garantir que os crimes coloniais ficavam por punir, os britânicos usaram táticas que iam da destruição de documentos a colocar outros num arquivo secreto no Reino Unido, que o Governo britânico só admitiu que existia em 2011”, lembra a historiadora.

Por outro lado, “as ligações culturais entre o Reino Unido e as suas antigas colónias são muito profundas. O que tem sido ajudado pelo facto de as lideranças nacionalistas, os grupos que receberam o poder dos britânicos, serem maioritariamente falantes de inglês e terem uma educação ocidental”, explica. Aliás, para muitos autores, a literatura inglesa foi usada com “máscara de conquista”, uma maneira de “afastar a atenção da brutal natureza do controlo colonial”, reflete. “Este é um exemplo de porque é que o império não acabou quando os britânicos fizeram as malas e partiram” [...]

Outros legados coloniais são menos óbvios, como a generalização da perseguição a pessoas LGBT+. Ao contrário do que se costuma imaginar, não era norma em todos os territórios colonizados antes da chegada dos britânicos. Na Índia, por exemplo, as hijra – hoje chamar-lhes-íamos mulheres trans – tinham um papel respeitado em certas culturas do subcontinente, funcionando quase como sacerdotisas. Mas tudo desapareceu com a introdução da moral Vitoriana, “os britânicos exportaram as suas normas de género por todo o mundo, tornaram-nas lei, porque o género era crucial para o projeto colonial”, explica Heath. “Era, em parte, por outras palavras, a chamada missão ‘civilizadora’ britânica”.

in https://ionline.sapo.pt/artigo/755188/reino-unido-o-que-sobra-do-imperio-brit-nico-?seccao=Mundo_i

 

 

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