Eu detestava aquele tipo de agitação, o género de sexo à Los Angeles, Hollywood, Bel Air, Malibu e Laguna Beach. Estranhos quando nos encontrávamos, estranhos quando partíamos - um ginásio de corpos anónimos a masturbarem-se mutuamente. As pessoas sem moral consideravam-se muitas vezes livres, mas sobretudo eram incapazes do mínimo sentimento ou de amor. Por isso eram despreocupadas. Os mortos a foderem os mortos. Não havia nem risos nem humor nos seus jogos - era um cadáver a foder outro cadáver.
Charles Bukowski – Mulheres (1978) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
- São rosas, senhor! - grunhia a dona Maria da Conceição.
Quem ouvia a história sem ter tomado o pequeno-almoço pensava no desperdício de transformar pão em flores, que enchem os olhos mas deixam a barriga a dar horas. Na fila dos muito bons, a coisa ainda se arranjava com leite ao pequeno-almoço. Na dos bons, havia pão sem nada. Mas à medida que se avançava para a dos mais ou menos, piorava bastante. E na outra ponta, no canto dos burros, a fome grassava a olhos vistos. Esse antro era povoado por quatro ou cinco criaturas que aproveitavam o tempo de aula para descansar.
- Deixem-no estar na paz do Senhor - dizia a professora quando alguém apontava para o João Pedro.
Com a cabeça pousada nos braços, repousava no sono dos justos, pouco importado com reis, rainhas e outras peripécias que não dão de comer a ninguém. E os braços dele eram um mistério. Não trazia lanche, mas não emagrecia. Enquanto o meu pai gastava o salário na mercearia do senhor Júlio, o Zé Tractorista, pai dele, gastava-o lá também, mas em vinho.
Hoje Eu Sei Vanessa da Mata / Jonas Myrin (Sereia de Água Doce / Duva Songs/Songs of Universal, Inc. [BMI])
Na minha vida hoje eu sei Quem é dor, quem é luz, quem é fuga Quem estraga ou quem estrutura Quem é adubo, terra ou rosa Hoje eu sei quem é conto, romance ou prosa O silêncio amigo ou a cobra Só não sei quem é o mistério
Ninguém me ensinou a amar Me cuidar ou escolher Das sutilezas entre tédio e paz Sempre acompanhada e só, Merecia muito mais, de mim mesma
O tempo entregou você Depois que aprendi dizer não E retirei o que me atrasava
Limpei minha estrada antiga Mudei minhas velhas formas Fiz a faxina pra você entrar
Ninguém me ensinou a amar Me cuidar ou escolher Das sutilezas entre tédio e paz Sempre acompanhada e só, Merecia muito mais, de mim mesma
O tempo entregou você Depois que aprendi dizer: não E retirei o que me atrasava
Limpei minha estrada antiga Mudei minhas velhas formas Fiz a faxina pra você entrar
Lá, lá, lá...
Aonde a fome vivia Joguei minhas cores fartas E como a natureza é sábia Tem mazelas, mas tem cura A solidão fazia casa mas Plantei minhas jaboticabas lá
Deus não é uma entidade separada de nós (...) Ele é o sol, e o pão, e o céu e o ouro do cálice, e as forças da natureza e a Terra, e o coração do homem. Habita em nós e à nossa volta; nós estamos dentro dele, e nunca fora. Espírito universal, revela-se em todo o lado através dos véus opacos e cerrados da matéria, e a nossa alma é um santuário que ele inunda com a sua essência (...) Procure-mo-lo, pois, dentro de nós: quanto mais assim o procurarmos, mais aprenderemos a encontrá-lo, mais transparente será o véu e mais abrasador o clarão misterioso