acabou
- Ou não te serve a companhia? Eu sou boa pessoa.
- Há boas pessoas que nos metem medo.
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
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- Ou não te serve a companhia? Eu sou boa pessoa.
- Há boas pessoas que nos metem medo.
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Pertencente a uma faixa etária muito mais baixa, Marcelo sentiu directamente os efeitos da pandemia no campo profissional, ficando com esse lado virado do avesso. Estando a trabalhar sem contrato na área de restauração, hotelaria e turismo, era de esperar que à calamidade de saúde pública se juntasse a calamidade laboral, carregada de dificuldades. «Perdi o meu emprego no restaurante, nunca mais tive clientes na minha experiência da Airbnb... fiquei sem rendimentos e fui forçado a fazer uns extras na construção civil.» Um mundo novo e desconhecido, no qual entrou por necessidade [...] Passados estes meses, Marcelo dá voz a uma frustração que vai um pouco mais além das contrariedades ao nível do trabalho e do ganhar a vida de todos os dias. «O que me magoa mais neste processo é o agravar da desigualdade social que já existia antes desta covid-19.» Sem grandes perspectivas no futuro imediato, de uma coisa Marcelo está convicto: «A incerteza e o medo são os piores vírus da nossa sociedade.»
Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)
O real é uma invenção deste opaco amplexo
em que o prodígio é a simplicidade e a opulência
de uma ignorância que habita a medula dos sentidos.
António Ramos Rosa in EXTREMAMENTE NUA - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
quando se faz o bem nada se deve recear
Francisco Vaz da Silva – Gata Borralheira e Contos Similares (2011)
Círculo de Leitores e Temas e Debates (2011)
- Muito bem, agora têm um bom emprego. Se não sujarem o nariz, têm segurança para o resto da vida.
Segurança? Podíamos ter segurança na prisão. Três metros quadrados sem renda para pagar, sem contas de água ou de luz, sem impostos, sem pensão para as crianças. Sem imposto de circulação. Sem multas de trânsito. Sem repreensões por conduzir embriagado. Sem perder dinheiro nas corridas de cavalos. Cuidados médicos gratuitos. Camaradagem com pessoas que têm interesses semelhantes. Missa. Sexo anal. Funeral sem despesas.
Charles Bukowski – Correios (1971)
Antígona (2015)
A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.
Charles Chaplin
(16/04/1889 - 25/12/1977)
Não tenho medo de uma maldição vinda de alguém como tu. Se tivesses vivido uma vida honesta não estarias como estás agora.
Francisco Vaz da Silva – Gata Borralheira e Contos Similares (2011)
Círculo de Leitores e Temas e Debates (2011)
«Dee Dee», disse ele, «daqui a meia hora tenho uma entrevista com o Rod Stewart. Tenho de ir.» Partiu.
Dee Dee pediu outra rodada. «Porque é que não és simpático para as pessoas?»
«Medo», respondi.
Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
A MORTE E O AVARENTO (1494)
Hieronymus Bosch
Certa vez, o avô Jorge cortou a ponta do dedo com a tesoura da poda. Nesse caso, o grito foi curto e grave. Como se o som quisesse sair e ele o metesse para dentro. Lutava não apenas com o sangue que jorrava como de uma mangueira, mas com o próprio grito. E logo de seguida, com um lenço apertado no dedo, o avô conseguiu dominá-lo. Tinha sido uma questão de segundos. Um desleixo. Uma coisa a não repetir.
[...]
Aquele grito existiu, não era possível voltar atrás, mas foi remetido para a escuridão no mesmo momento em que foi produzido. A escuridão das coisas de que não é permitido falar. As coisas íntimas. As coisas que se querem só para nós.
Os gritos da mãe eram outra coisa. Eram gritos virados para fora. Queriam dizer que existiam. Viajar para longe. Perdurar no tempo e na distância. Era como se fizessem questão de permanecer dentro dela e ela os quisesse expulsar. Como se, de boca aberta, procurasse projectar o som o mais longe que podia.
E a isto, percebi depois, as pessoas chamavam desabafar.
- Deita tudo cá para fora - ouvi o resto do dia.
Isso queria dizer que o avô tinha procurado abafar a sua dor, comê-la. Por outro lado, a mãe fazia todos os possíveis para desabafar a sua dor, vomitá-la. Isto era compreensível. À partida, só conseguíamos manter uma dor dentro de nós se ela lá coubesse. E tendo em conta o que ouvi durante esses dias, era natural que a dor da mãe fosse muito maior do que a do avô.
Uma dor maior. Sem comparação possível.
Hugo Mezena – Gente Séria (2017)
Planeta Manuscrito (2018)
O Samuel devia ter razão, talvez a felicidade seja só ponto de vista.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
Publicações Dom Quixote (2018)
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