O editorial do TV Top diz: «Na nossa capa de hoje está a imagem de António Variações, que foi uma figura grande e popular da música portuguesa e morreu há poucos dias. Está a imagem de António Variações porque queremos prestar-lhe esta homenagem. [...] Mas não, note-se, porque queiramos participar na onda de especulações e mexericos que a morte de António Variações desencadeou. Não sabemos de que morreu António Variações, mas achamos que saber que doença tinha era importante enquanto o cantor vivia. Agora é mais altura de recordá-lo. De lembrar-lhe os méritos.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
É bom relembrar que sempre existiram veganos (...) ou detractores da escravidão (...) é bom relembrar que os direitos e dignidades não são apanágio do momento actual, mas eram muito menos disseminados e pouca gente partilhava esses pontos de vista.
Afonso Cruz_ O macaco bêbedo foi à ópera - Da embriaguez à civilização (2019) Fundação Francisco Manuel dos Santos e Afonso Cruz (2019)
1. Não sei se a natureza lusitana integra uma "cultura do fatalismo", mas sei sabemos todos que abundam, na história do pensamento e das outras artes nacionais, registos individuais e colectivos exemplares de um pendor generalizado e ambivalente: ora para a contemplação da vida como sucessão de fatalismos irremediáveis; ora como convocação para o afrontamento de desafios irrenunciáveis.
Entre os polos desta ambivalência atávica se desenvolvem os comportamentos característicos da nossa matriz genética: a rendição ao desalento alimentado pela "força do destino", ou a motivação de contornos quase místicos (ou míticos?), que é fonte do potencial criativo, da determinação e da coragem para enfrentar os desafios mais exigentes. Dito de outro modo: a submissão às arbitrariedades do destino, que espelham as virtudes do acaso; ou o engenho e a determinação, que superam as carências de que é feita a necessidade.
2. Tenho para mim que esta natureza "bipolar" do ser português é a chave para a compreensão de algumas singularidades do nosso comportamento histórico; mas é ainda, e sobretudo, o modelo a partir do qual poderia ser mais enriquecedor o exercício de pensarmos o nosso presente para melhor projectarmos o nosso futuro.
Acontece que o raciocínio estratégico não é uma prática habitual, nem sequer ocasional, da nossa natureza. Somos muito melhores cronistas (ralatores do que foi) e demagogos (especulando acerca do que, e de como, outros deveriam ter feito) do que actores rsponsáveis pela construção, hoje, do futuro que é já amanhã - coisa entretanto bem diferente do que é sermos visionários: pecadilho mais oriundo da paixão que da lucidez.
José de Oliveira Guia - Presidente da Direção da ANEME
in Editorial CINFormando nº 61 - 1º trimestre de 2017