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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

visto interesse(s) nacional/(ais)

02.08.23

Dos cerca de 40 mil trabalhadores nas limpezas industriais, mais de metade não são portugueses. O STAD fala em cerca de 25 mil trabalhadores estrangeiros, ou cujos pais não nasceram em Portugal.[...]

A mão de obra estrangeira começa a aparecer quando os salários baixam para o mínimo possível. «Ganhava-se muito bem na limpeza. Nos anos 90, o setor da limpeza era onde mais se ganhava. Eu, por exemplo, cheguei a ganhar acima do salário mínimo cerca de 150 euros. Nos anos 90 era muito dinheiro. Depois, quando o salário começou a baixar, com ordenado mínimo, com direitos a serem reduzidos, claro que deixou de haver tanta oferta. Onde é que eles foram buscar? A quem precisava mesmo»

 

Rita Pereira Carvalho – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

dia da mãe

08.05.23

Ao lado da mãe Ana, caminham outras mulheres que vão também fazer limpezas e vêm do mesmo sítio. Ouve-se o riso no meio do silêncio, fruto das respostas que Diogo atira. Antes de entrar na escola, o menino ainda tem tempo para acompanhar a mãe enquanto esta limpa mesas, cadeiras, casas de banho, chão e secretárias de uma instituição bancária na zona do Rato, perto da estação de metro. Não interfere no trabalho, é até uma companhia, e nunca houve oposição por parte da empresa para a qual a mãe trabalha há cerca de 20 anos. 

Já de dia, quando sai do Rato, às oito da manhã, Ana leva o filho à escola, que não fica muito longe dali. E à tarde, como se por magia nunca tivesse abandonado o portão da escola, lá está ela novamente para o levar para casa. Chegada a noite, os trabalhos de casa são feitos, garantia dada pela mãe. «Vem da escola, eu digo-lhe "faz os TPC, lê esse livro" [...]

Ana, Elissangela ou Carol sempre foram obrigadas a adaptar os seus horários em função dos filhos e a encontrar alternativas para conseguirem equilibrar a balança do trabalho e da família. Algumas crianças vão com as mães para o local de trabalho, outras ficam com as amas, ou nas creches, e há ainda quem recorra à família. Em qualquer uma das opções, grande parte das crianças acorda de madrugada, poucos minutos depois das mães. No final da história, estas mulheres correm o dia inteiro pelos filhos e para lhes poderem dar alguma coisa. 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

a cor [e a fala] do invisível

06.12.22

De manhã são dezenas e durante a madrugada os autocarros transportam quase exclusivamente estas trabalhadoras[...] As noites nos autocarros da Carris, em Lisboa, e as conversas com quem acorda às três ou quatro da manhã para trabalhar deixaram a certeza de que este trabalho não é conhecido, nem reconhecido [...] as trabalhadoras de limpeza industrial são as que estão mais expostas. Limpam centros comerciais, escritórios, hospitais, aeroportos, bancos, lojas, estão em todos os edifícios, porque é raro o edifício que não tem uma empregada de limpeza. Ou um empregado. Ainda assim, apesar de se cruzarem com dezenas de pessoas todos os dias, continuam a passar despercebidas.[...]

A dirigente sindical Vivalda Silva admite a realidade e admite também, depois de umas contas de cabeça, que, no Oeiras Parque, por exemplo, os números são fáceis de apurar: «As trabalhadoras são maioritariamente africanas, uns 90%. Aliás, nem me lembro se está lá alguma portuguesa.»

O Centro Comercial Colombo, na freguesia de Benfica, segue a mesma tendência [...] «em 30 e tal pessoas em cada turno[...] 95% são africanas». [...] Basta fazer uma viagem de autocarro durante a madrugada para perceber que as mulheres negras são a maioria [...] Sanie dos Santos Reis [...] fez um exercício que permitiu transformar a observação em números [...] Em três meses, viu 2369 mulheres naquele autocarro às cinco e meia da manhã. Desse total, 2132 eram negras ou de nacionalidade estrangeira. Além do autocarro [...] fez 64 viagens no comboio que liga Sintra a Lisboa. A conclusão é a mesma: das 1820 mulheres, 1660 eram negras ou de nacionalidade estrangeira. 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

bate com palavras (dizem os amantes da paz)

e que se aprenda de uma vez por todas que bom humor é o que ri com e não o que ri de.

28.03.22

Ela diz que não, que lhes é impossível saber o que se passou, que eles eram como nos crimes as testemunhas que se esqueceram de olhar. 

 

Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

imperatriz mim

30.04.21

 

No centro do tempo não há tempo

[...]

Sou uma linguagem límpida com o vento 

[...]

Como me perdi quem sou as interrogações cessaram

[...]

Tudo se desenrola na lúcida amplitude tranquila 

 

António Ramos Rosa in  NO CENTRO DO MUNDO - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

while

05.04.21

inacessível corpo em outro corpo vivo 

As pernas são o grito

no rosto  no vento  A língua 

contra a língua

ou antes as duas línguas que a destroem 

 

Vertigem dos limites 

contra a vertigem 

[...]

Ancas intermináveis  Flancos 

que trucidam quando oscilam 

 

António Ramos Rosa in  FRAGMENTOS: FIGURA - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

momento que vem

22.02.21

Ela sabe que o sol vai nascer e a vida vai tornar-se natural e feliz como se de toda a eternidade este momento tivesse sido preparado. 

 

António Ramos Rosa in  MUSAS  - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

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