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Os homens eram inocentes e desprecavidos, se tomavam a fraqueza duma mulher como a prova da soberania deles.
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
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anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
Os homens eram inocentes e desprecavidos, se tomavam a fraqueza duma mulher como a prova da soberania deles.
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
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Não me trate como uma ignorante. Pode-se ser inocente sem se ser ignorante.
Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
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Ele volta ao quarto. Ela estava ali, por trás da espessura das paredes. Ele quase se esquece da sua existência sempre que volta do mar [...]
Talvez ela não durma. Ele não quer acordá-la, força-se a não o fazer, olha-a. O rosto está abrigado, debaixo da seda preta. Só o corpo nu está na luz amarela, mártir.
[...] perto daquela hora, com a vinda do dia vem a infelicidade [...]
Ele aproxima-se dela, olha para o lugar da frase que faria com que ele a matasse, ali, na base do pescoço, nas redes do coração [...]
Ela manifestamente não viu o barco. Não ouviu o seu barulho. Ignora tudo sobre o barco porque simplesmente dormia quando o barco passou. Tanta inocência faz com que ele lhe pegue na mão e a beije.
Ela ignora que passou a ser aquela que não sabe [...]
Marguerite Duras – Olhos Azuis, Cabelo Preto (1986)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
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A reclamação, curiosamente (e premonitoriamente), é datada de 10 de dezembro de 1945 (exatamente um ano antes da Declaração Universal dos Direitos do Homem), e é dirigida ao presidente da Assembleia Nacional, nessa altura o Dr. Albino dos Reis.
Na reclamação, Aristides começa por relembrar a situação vivida em Bordéus em maio/junho de 1940, e a proibição recebida por parte do governo português de conceder vistos aos israelitas (de acordo com a Circular 14). Diz ele que não devia obedecer àquela proibição por a considerar inconstitucional em virtude do artigo 3.º da Constituição, que garante liberdade e inviolabilidade de crenças, não permitindo que ninguém seja perseguido por causa delas, nem obrigado a responder acerca da religião que professa. Acrescenta ainda que se não obedeceu, não fez mais do que resistir, nos termos do n.º 18 do artigo 8.º da Constituição, a uma ordem que infrigia manifestamente as garantias individuais, não legalmente suspensas nessa ocasião (artigo 8.º n.º 19).
Mais adiante, pede à Assembleia para declarar nula a pena que lhe foi imposta por Salazar, exigindo a respetiva responsabilidade àquele ou àqueles funcionários que, dando-lhe a referida ordem, «atentaram contra a Constituição e o regime estabelecido (artigo 115.º, n.º 2). Para terminar, Aristides escreve que «a Assembleia Nacional deve pôr termo ao absurdo de ele ter sido severamente punido por factos pelos quais a administração [Salazar] tem sido elogiada em Portugal e no estrangeiro, manifestamente por engano [...] Em resumo, a atitude do governo Português foi inconstitucional, antineutral e contrária aos sentimentos de humanidade e, portanto, insofismavelmente "contra a Nação".»
Mais uma vez, Aristides fica à espera... Mas quem é que na Assembleia Nacional, formada unicamente por elementos da União Nacional, tinha coragem de reagir? Ninguém, certamente, sobretudo, porque o senhor presidente da Assembleia Nacional não terá dado autorização para que esse reclamação fosse entregue aos senhores deputados.
E o que faz Aristides? Decide escrever uma carta a cada um dos 120 deputados, para ter a certeza de que a vão receber, e vai entregá-la em mão à porta da Assembleia
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
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Há quem garanta que esta "é uma história mal contada". O já falecido historiador José Hermano Saraiva, conhecido admirador do ditador, disse e escreveu: «Aristides de Sousa Mendes é uma invenção de uma certa esquerda para denegrir a memória de Salazar.» E mais: «Quem salvou os refugiados em 1940 foi o comboio [...] para lá, levavam volfrâmio, e para cá traziam refugiados.» É a versão do "volfrâmio humanitário", uma perigosa tentativa de revisionismo. José Hermano Saraiva nem pensou nas questões técnicas: comboios para minério (abertos) não são a mesma coisa que comboios para passageiros. É verdade que os nazis também usavam comboios de carga (fechados) para levar pessoas para os campos de concentração... E há outro detalhe: a bitola dos comboios ibéricos não é a mesma dos comboios para lá da fronteira de Hendaye.
Para outros, a desobediência à Circular 14 é um episódio que em vez de nos encher de orgulho nos enche de embaraço, e é melhor nem falar no assunto. Seria muito melhor se fosse mentira. E há, na realidade, tentativas de contar os factos de outra maneira, algumas que demonstram até uma abundante criatividade.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
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No dia 1 de Fevereiro deste ano, o exercido to Myanmar executou um golpe de estado. Desde então mais de 750 pessoas, incluindo crianças, foram assassinadas. Este número aumenta todos os dias.
Durante mais de três meses, o único hospital pediátrico que oferece tratamento a crianças com cancro esteve fechado. Foram três meses sem diagnosticar novos casos, sem operações e tratamentos urgentes.
Não basta estarem a lutar contra um cancro, estas famílias perderam a liberdade e o acesso ao tratamento que pode salvar as suas crianças.
O hospital pediátrico de Yangon reabriu esta semana. Apesar dos riscos de segurança, a equipa do Projeto Amélia e da organização World Child Cancer estão a contactar as famílias que precisam de tratamento urgente.
Mas precisamos da sua ajuda e de mais fundos. Com a sua ajuda, podemos oferecer a estas famílias os custos da viagem que demora em média 12 horas e que agora mais do que nunca, é urgente e precisa de ser feita em segurança.
http://www.projetoamelia.org/apelo
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Na conversa que Aristides teve com Angelina e com os filhos José António, Pedro Nuno e Isabel (e Jules d'Août, seu genro) invocou vários argumentos espirituais e históricos, que já foram citados por vários autores. Tentarei recriar um deles, que me foi dito e repetido muitas vezes pelos meus familiares e por outras pessoas que o conheceram bem: «Estes refugiados são filhos de Deus, vítimas inocentes de uma guerra monstruosa que os foi tirar a suas casas, e se não fizermos nada por eles, poderão morrer debaixo de bombas, ou de fome, ou serem assassinados pelo invasor. A nossa obrigação e dever, como pessoas crentes em Deus, é ajudá-los, tal como faria o Bom Samaritano. A Circular 14 é injusta e não tem em conta os terríveis sofrimentos causados a todas estas pessoas. Foi redigida numa secretaria em Lisboa, longe desta realidade, sob influência de um polícia que apenas pensa na sua carreira e bem-estar.
Vou desobedecer frontalmente a esta Circular a partir de hoje, e fazer tudo quanto puder para ajudar o maior número de refugiados. Conto com a vossa total colaboração para dar vistos gratuitos a todos quantos pudermos. A vossa mãe, com quem já falei, dá-me todo o seu apoio, e está disposta a também prestar ajuda e a cuidar das pessoas que tenham mais necessidade de atenção. Estou consciente de que perderei o meu trabalho, e a vossa vida vai alterar-se. Tudo vai ser mais difícil para nós, mas também tenho a confiança de que Deus não nos abandonará. Ao fazermos o bem a estes refugiados é ao próprio Cristo que o faremos e não seremos esquecidos - um dia poderemos ganhar o céu.
Por outro lado, este gesto redentor é-lhes devido pelo sofrimentos causados nos séculos XV e XVI pela lei da expulsão dos judeus de 1496 e pelo estabelecimento da Inquisição em Portugal. Esta é uma oportunidade para o nosso país reparar um erro histórico e corrigir os erros do seu passado.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
in https://ocastendo.blogs.sapo.pt/31-de-marco-de-1821-fim-da-inquisicao-2063948
in https://ncultura.pt/inquisicao-medo-tortura-fogueiras/2/
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Em França, os crimes contra a Humanidade não prescrevem, e em 1997 começou o célebre Processo Papon, justamente em Bordéus. No termo deste processo, Maurice Papon, secretário-geral da Gironda entre 1942 e 1944 sob o regime de Vichy, foi considerado responsável pela deportação de milhares de franceses por serem judeus. Na sua defesa diz que «cometeu os "tais crimes" apenas porque obedeceu a ordens superiores [...] portanto devia ser considerado inocente». É então que aparecem observadores, entre eles o Père Bernard, que vêm clamar que na mesma cidade de Bordéus, em 1940, houve um cônsul que desobedeceu às ordens dos seus superiores para não colaborar em «chacinas». Maurice Papon foi condenado em 1998 pela justiça francesa a dez anos de prisão por cumplicidade em crimes contra a Humanidade, pois devia ter tido em consideração o aspeto moral das ordens recebidas, e devia ter desobedecido.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
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... no mesmo espetáculo em que António Variações foi violentamente vaiado por aquele público tão tradicional. Carlos Ferreira, cujo camarim ficava no palco, estava com a mãe que o ajudava nas mudanças de roupa, e descreve como «aterradora» a reação da assistência:
- Assisti a uma das maiores pateadas numa atuação do Variações no Coliseu, quando ele foi cantar o Povo que Lavas no Rio. Foram impiedosos. E ele? Na maior. Continuou, como se nada acontecesse. As pessoas a patearem, a insultarem, e ele a cantar até ao fim, como se nada estivesse a acontecer. Foi genialmente corajoso.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
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Há cerca de 22 mil pessoas no mundo que são reconhecidas como Justos Entre as Nações, mas diplomatas são menos de cem. Atualmente, há quatro portugueses nessa lista: o padre Joaquim Carreira, o embaixador Sampaio Garrido, José Brito Mendes e Aristides de Sousa Mendes. São heróis que devem ser conhecidos e estudados em todas as escolas. Mas há outros Justos estrangeiros que merecem ser conhecidos: o cônsul japonês Sugihara, que também desobedeceu ao seu governo em 1940 e, como Aristides, passou vistos a milhares de refugiados na Lituânia; Giorgio Perlasca, italiano, fez-se passar por diplomata espanhol para "falsificar" documentos, salvando muitos refugiados; Giovanni Roncalli (que veio a ser o Papa João XXIII, em 1958) "falsificou" certificados católicos de batismo para salvar judeus; e Georg Duckwitz, adido na embaixada alemã em Copenhaga, que soube dos planos nazis de deportação para a população judaica dinamarquesa - conseguiu avisar as comunidades e ajudou milhares de pessoas a fugir para a Suécia, salvando-as assim da morte certa [...]
Para salvar inocentes da morte, todos os meios são justos, e nenhum destes homens cometeu crimes ao fazê-lo, contrariamente ao que certos indivíduos extremistas escreveram em Portugal. A medalha dos "Justos" do Yad Vashem tem inscrito: «Quem salva uma vida, salva a humanidade.» Por vezes, a tradução varia, o que origina diferentes versões, mas a ideia é que cada pessoa contém em si todos os elementos do universo, todo o bem e todo o mal e, como está escrito nos livros santos, o «homem é feito à imagem e semelhança de Deus».
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
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