Uma reflexão à distância dos anos, mas que mantém a sua acuidade. O artista plástico Leonel Moura, que descreve o meio cultural português como «extremamente conservador, tal como a sociedade portuguesa no seu todo», escalpeliza a ilusão que persiste até hoje, nesse circuito, de que é tudo muito avançado e são todos muito vanguardistas: «isso é uma rematada «mentira», pois o formalismo impera, quer nas relações entre as pessoas, quer na forma como se vestem e comportam. E no extremo oposto, cai-se no «ordinário»
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
"Está um tempo insuportável! Como é que o governo não trata disto?" (...) resmungou o lobo. "Estou a dizer-lhes que a culpa é do Governo, e se não acreditam em mim, devoro-os a todos já!"
Oscar Wilde – O Menino-Estrela (1891) Ilustração: Luís Henriques
Oficina dos Sonhos - Clássicos - Porto Editora (2008)
Um certo dia, chegou à aldeia o Tio Jaime Litorânio, que achou grave que os seus familiares nunca tivessem conhecido os azuis do mar.
Que a ele o mar lhe havia aberto a porta para o infinito. Podia continuar pobre mas havia, do outro lado do horizonte, uma luz que fazia a espera valer a pena. Deste lado do mundo, faltava essa luz que nasce não do Sol mas das águas profundas.
A fome, a solidão, a palermice do Zeca, tudo isso o Tio atribuía a uma única carência: a falta de maresia. Há coisas que se podem fazer pela metade, mas enfrentar o mar pede a nossa alma toda inteira. Era o que dizia Jaime.
- Quem nunca viu o mar não sabe o que é chorar!
Mia Couto (texto) e Danuta Wojciechowska (ilustração) – O Beijo Da Palavrinha (2008) LEYA | CEM (março 2016)