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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

31
Mai23

e ao costume, nada a dizer

Cecília

"Anita," Fergus said, turning to her. "This is a hell of a world we live in."

"Oh, I know," Anita said casually. She nodded. "Yuh, I know." She added, "Always has been, I suspect."

"Do you think so?" Fergus asked. He looked at her through his sunglasses. "Do you think it has always been this bad, really? It seems to me like things are getting crazier."

Anita shrugged. "I think they've always been crazy. That's my view." [...]

After another few moments he said, "Things all right with you, Anita?"

She gave a sigh that made her cheeks expand for a moment. "Nah." She looked both ways on the road and said, "Gary's been a mess since he got laid off, and that was a few years ago, and my kids are crazy." She looked at Fergus and made a circle around her ear with her forefinger. She said, "I mean, they are really crazy." She shook her head. "You know what my oldest son is into? He watches some Japonese reality shows on his computer where the contestants sniff each other's butts."

Fergus looked over at her. "God," he said. Then he said, "Come on, Anita, the world has certainly gotten crazier."

 

Elizabeth Strout – Olive, Again (2019)
Penguin Random House UK (2019)

 

 

10
Mar22

que sim, que sim

Cecília

Trabalhos relativamente precários (ou flexíveis, consoante a terminologia escolhida), experiências que implicam ralação directa com consumidores de vários géneros, passagem pelos quase obrigatórios call centers. Ricardo começou a lidar com clientes há cerca de dez anos, numa loja da zona do Chiado, em Lisboa. Um lugar tranquilo, com muitos clientes habituais, alguns curiosos, mas não só. «Também havia aqueles a quem eu chamava os loucos do Chiado; isto é  mesmo a sério. Eram pessoas que iam a consultas de psicoterapia e de psiquiatria ali ao lado e que depois iam entreter-se na loja. Algumas velhinhas também iam lá depois da missa.» No caso, tratava-se de uma loja - mais exactamente uma flagship store - especializada em objectos de decoração e design, na qual Ricardo trabalhava em regime de part-time enquanto frequentava o mestrado na Faculdade de Belas-Artes. « O horário era bom e o salário, apesar de não ser elevado, compensava. Fazia umas cinco horas por dia e uma parte era paga por fora, livre de impostos, por isso valia a pena», relembra entre risos.

Daí passaria para o mais do que famoso Museu Berardo, instalado no Centro Cultural de Belém (CCB), espaço onde exercia várias funções [...] «Era um trabalho bom porque permitia bastante flexibilidade, na prática era uma prestação de serviços [...] A flexibilidade do vínculo e o acesso facilitado à entrada em funções permitiam que trabalhassem naquele espaço muitos estudantes, principalmente da área das Artes, e o público acabava por assumir diferentes matizes de comportamento. «Claro, apareciam lá imensas pessoas, de todos os tipos. Gente interessada em arte contemporânea, mas também muita gente zangada com o Berardo, coisa muito actual, até; era malta que ia para lá atirar-nos larachas, bocas, como se nós fôssemos o próprio Berardo... e o problema é que nós não podíamos dizer "olhe que eu concordo consigo."»

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

11
Fev22

desiludida falta de caráter

Cecília

Observei com uma clareza desiludida a falta de identidade da rua; as suas varandas e cortinas; as roupas castanhas, a cupidez e a complacência das mulheres que trabalhavam nas lojas; os velhos passeando com as suas roupas de lã; a forma cautelosa como as pessoas atravessavam a rua; a determinação universal de se continuar a viver quando a verdade é que, seus idiotas, uma qualquer telha vos podia cair em cima e este ou aquele carro galgar o passeio 

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

03
Ago21

alphas

Cecília

A rainha morreu entre os seus braços e jamais um marido carpiu tanto.Ao ouvi-lo soluçar noite e dia, formou-se o sentimento de que o seu luto não duraria muito; que ele chorava os seus defuntos amores como um homem apressado, que quer despachar o assunto.

Não se enganaram. 

 

Francisco Vaz da Silva – Gata Borralheira e Contos Similares (2011)
Círculo de Leitores e Temas e Debates (2011)

 

 

18
Mai21

serviços de inteligência artística

Cecília

... no ano da graça de 1983 António Variações integrou a lista dos mais malvestidos «de Portugal» [...] O artista reage com olímpico desdém: «sabem lá eles o que é vestir» [...] Uma semana mais tarde, o caso volta a ser relatado pelo Contador Mor que «encontrou um punhadão de gente da RTP foi na festa dada na Charlie's Place para consagração dos mais elegantes e dos mais deselegantes da dificílima arte de vestir». E acrescenta quase com desdém: «António Variações, também um dos menos elegantes, que duvidou expressamente da capacidade do júri para avaliar estilos de bem-vestir.» Ao que António responde, mais ou menos, embora por outras palavras, «O estilo sou eu!» [...]

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)

Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

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17
Dez20

tiques

Cecília

«É aqui que a maior parte dos argumentistas se pavoneiam. E alguns actores secundários.»

Detestei-os logo, com os seus tiques e ares superiores. Eles diminuíam-se uns aos outros. A pior coisa para um escritor é conhecer outro escritor, e pior do que isso, conhecer muitos escritores. São como moscas em cima de merda. 

 

Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)

 

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10
Dez20

ciclos

Cecília

...Voz do Operário onde, estudando à noite, parece que acabou por conseguir o seu diploma de Curso Comercial - cinco anos, fora os dois que lhe faltavam do ciclo preparatório. Curso exigente, cheio de disciplinas difíceis, cálculo comercial, contabilidade, economia política, técnica de vendas, geografia geral, história, datilografia, estenografia, português, francês, inglês. 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

 

27
Out20

o estado da arte e da cultura - da praxe

Cecília

Aristides e César eram grandes defensores das praxes académicas, um tema agora muito em voga e envolto em bastante polémica. O jornal Público fez uma investigação sobre estas práticas estudantis, e descobriu que já no início do século XX as praxes eram consideradas uma forma de cativar os jovens estudantes e assim os integrar na vida universitária, desde que se baseassem em atividades ligadas às artes e à cultura: provas de poesia e criação literária, teatro, pintura, exibições de canto e de música, entre outras disciplinas.

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

11
Set20

não à ventura (II)

Cecília

Há um país na terra

que a mão tranquila alcança

 

Há um país onde o corpo

se veste com o corpo

da terra 

 

António Ramos Rosa in HÁ UM PAÍS NA TERRA QUE A MÃO TRANQUILA ALCANÇA  - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

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20
Mai20

próprio de quem sabe mandar

Cecília

Quando tinha a minha idade, o tio Alexandre estava convencido de que os problemas de flatulência eram um exclusivo dos pobres.

«Só os pobres é que se peidam», pensava. 

Por isso ficou surpreendido quando, numa vindima, ouviu o senhor Rodrigues aliviar-se à frente de toda a gente. Um ronco curto e seco, próprio de quem sabe mandar. 

 

Hugo Mezena – Gente Séria (2017)

Planeta Manuscrito (2018)

 

 

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