«É aqui que a maior parte dos argumentistas se pavoneiam. E alguns actores secundários.»
Detestei-os logo, com os seus tiques e ares superiores. Eles diminuíam-se uns aos outros. A pior coisa para um escritor é conhecer outro escritor, e pior do que isso, conhecer muitos escritores. São como moscas em cima de merda.
Charles Bukowski – Mulheres (1978) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
...Voz do Operário onde, estudando à noite, parece que acabou por conseguir o seu diploma de Curso Comercial - cinco anos, fora os dois que lhe faltavam do ciclo preparatório. Curso exigente, cheio de disciplinas difíceis, cálculo comercial, contabilidade, economia política, técnica de vendas, geografia geral, história, datilografia, estenografia, português, francês, inglês.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Aristides e César eram grandes defensores das praxes académicas, um tema agora muito em voga e envolto em bastante polémica. O jornal Público fez uma investigação sobre estas práticas estudantis, e descobriu que já no início do século XX as praxes eram consideradas uma forma de cativar os jovens estudantes e assim os integrar na vida universitária, desde que se baseassem em atividades ligadas às artes e à cultura: provas de poesia e criação literária, teatro, pintura, exibições de canto e de música, entre outras disciplinas.
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
Quando tinha a minha idade, o tio Alexandre estava convencido de que os problemas de flatulência eram um exclusivo dos pobres.
«Só os pobres é que se peidam», pensava.
Por isso ficou surpreendido quando, numa vindima, ouviu o senhor Rodrigues aliviar-se à frente de toda a gente. Um ronco curto e seco, próprio de quem sabe mandar.
a sociedade rica e na moda tem pouca ou nenhuma substância, vivendo obcecada apenas consigo. O seu desporto é principalmente os escândalos, alimenta-se de mexericos e custa a imaginar como passaria a sociedade os seus dias sem eles.
Mas neste início da década de 70, enquanto o mundo dá voltas e que voltas!, os jornais, em Portugal, ocupam-se em noticiar, em grandes parangonas de primeira página, acidentes de automóvel ou calamidades atmosféricas, misturando-as com fotografias de atrizes ou princesas em evidência por qualquer razão menor (...) Um interminável bocejo.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
O pai, exímio tocador de cavaquinho e harmónica, era o chefe de uma banda familiar onde todos cantavam e dançavam, congregando, mesmo em alturas mais difíceis, um clima de festa que filho algum conseguiu esquecer.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Paulo da Costa Domingos – Carmina (1971-1994) Antígona (1995)
Agora eu vou cantar pros miseráveis Que vagam pelo mundo derrotados Pra essas sementes mal plantadas Que já nascem com cara de abortadas Pras pessoas de alma bem pequena Remoendo pequenos problemas Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz Mas não ilumina suas minicertezas Vive contando dinheiro E não muda quando é lua cheia Pra quem não sabe amar Fica esperando Alguém que caiba no seu sonho Como varizes que vão aumentando Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade Senhor, piedade Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade Senhor, piedade Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas Que tão no mundo e perderam a viagem Quero cantar o blues Com o pastor e o bumbo na praça Vamos pedir piedade Pois há um incêndio sob a chuva rala Somos iguais em desgraça Vamos cantar o blues da piedade
Vamos pedir piedade Senhor, piedade Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade Senhor, piedade Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Ao contrário de todo mundo, que fica se ressentindo 'porque ela me deixou, não sabe o que perdeu', eu não tenho medo de dizer: eu é que fui covarde e babaca.
Cazuza
Y ahora intenta decir que me amas Sin miedo a que parezca mentira otra vez Y no lo ves Digo yo que algo tendremos que hacer Borra de golpe Su nombre en mi nombre Y así lo olvidaré Y mira bien Mientras yo te reproche de más Y tu te escondas con la duda otra vez No quiero mas pulsos Hay tanto que perder Hazme sentir que lo bueno está por llegar Que esto también pasará Hazme sentir que compartimos un mismo latir