Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Satyagraha (II)

02.10.23

Severino temia sobretudo a reação dos grandes proprietários portugueses, alguns dos quais possuíam verdadeiros exércitos privados. Contudo, esses sertanejos representavam uma ameaça remota, pois estavam a muitas centenas de quilómetros da capital e decorreriam várias semanas antes que soubessem do acontecido. Até lá, seria possível tomar medidas preventivas e mesmo, se necessário, requerer o apoio de nações amigas. Confiava-se, por outro lado, que a maioria dos colonos acabaria defendendo o levantamento, dadas as evidentes vantagens económicas que para todos adviriam da autonomia política da província. 

 

José Eduardo Agualusa – A Conjura (1989)

Quetzal Editores (2017)

 

transferir.jpg

 

 

tapkiano

29.05.23

[...] Kafka analisa a situação do marginalizado, vítima de permanente incomunicação. E explora um elemento constante em quase toda a sua obra: o totalitarismo da burocracia. Além disso, evidencia o seu pessimismo face ao humano, o medo da perda da identidade humana e o abandono do instintivo. São questões actuais hoje em dia.

Os fantasmas que perseguem o escritor deram lugar ao adjectivo "kafkiano": tudo o que é absurdo, confuso, obscurecido por uma maquinaria formal ou que se enreda nas redes de burocracias, instituições e papéis. 

 

Franz Kafka – A Metamorfose (1915)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)

 

imagem: https://store.flytap.com/pt/crianca/

 

 

 

o veneno da cura

07.03.23

"You're the one who made the decision to have the affair. I think you should be the one who takes responsability for it. Not your husband."

She shook her head. "We're not like that, Bernie. There have never been any secrets between us, and this would be too awful. I have to tell him."

"There are always secrets," Bernie said [...] After a moment Bernie said, "You know, it's not my business, but I wonder if you could see someone, a therapist. There has to be a good therapist in Boston. Just for now while you sort all these things out."

"Oh, Bernie," said Suzanne. She touched his arm briefly. "I've been to a therapist. That's who I had my stupid affair with."

 

Elizabeth Strout – Olive, Again (2019)
Penguin Random House UK (2019)

 

 

segunda semana do advento

05.12.22

«Quem aniquila a velha nobreza é o ridículo da nova», dizia Camilo.

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

manifs

29.11.22

Os romances fazem mal a muita gente, menos aos autores. Há pessoas que não conseguem encontrar na vida vulgar o lugar próprio, e depois querem conquistá-lo à força. Julgam-se excepcionais e acusam os outros de não os compreenderem. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

...mas, livrai-nos das "pessoas do bem" - Amén

03.11.22

Não sei que estranho desvario de cabeça se apoderara daquele homem, porque de repente tive a sensação de ir enfrentar um assassino. Envelhecera muito, perdera certamente as forças do macho, mas transformara-se num homem histérico e insuportável. 

 

João de Melo – Gente Feliz Com Lágrimas (1988)

Colecção Mil Folhas / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

volta pra tua Terra mas tu nasceste na Amadora

19.10.22

Só agora me apercebo do papel importante desempenhado pelas calças; de nada serve possuir uma cabeça inteligente se as calças estiverem coçadas.

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

“É Preciso Aprender a Dizer q Somos Áfrika”

Berço da Humanidade

Osmarino Anselmo

🌍✊🏿✊🏾✊🏽✊🏼✊🏻

forças centrífugas

27.09.22

No centro do racismo está a ideia de inferioridade relativa, dificilmente ultrapassável, de alguns grupos humanos e as relações de dominação envolvidas nesse processo de inferiorização [...]

No quadro desta conceção sobre o racismo, não faz sentido dizer que pessoas negras são «racistas contra os brancos» pois no quadro das relações sociais instituídas nas sociedades de hoje as pessoas negras ocupam um lugar que não lhes confere o poder necessário à inferiorização racial de um outro. De igual modo, não faz sentido dizer que «os negros são racistas contra os ciganos», pois estes grupos são ambos, enquanto categoria racial, grupos denominados, inseridos numa hierarquia cujo funcionamento não controlam no actual statu quo social. Os conflitos que por vezes ocorrem entre estes grupos derivam de interesses conflituais ou de preconceito, mas não de racismo. 

Desligar o racismo das relações sociais de poder significa não compreender o que o torna uma força de exploração, segregação ou extermínio.

 

Jorge Vala  – Racismo, Hoje, Portugal em Contexto Europeu (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Jorge Vala (2021)

 

 

transcendência precisa-se

21.09.22

[...] ensinaram que a sabedoria de vida se conquista com experiência e solidariedade e não com graus académicos; que os seres humanos, mesmo nas condições mais adversas, não perdem a esperança, o desejo de transcendência e a aspiração de justiça; que há muitos conhecimentos, para além dos académicos e científicos, muitas vezes nascidos nas lutas contra a opressão e a injustiça; que a solidariedade não é dar o que sobra mas o que faz falta; que a sociedade injusta não é uma fatalidade; e que o amanhã não é um futuro abstrato – é o amanhã mesmo.

in https://visao.sapo.pt/jornaldeletras/ideiasjl/2022-09-21-descolonizar-o-bicentenario-da-independencia-do-brasil/?utm_source=Activa&utm_medium=Gaveta_Multimarca&utm_campaign=Gavetas_Artigos_22