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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

girando em frente

14.09.23

Assim que começou a limpar o Parlamento - há tantos anos que já nem se lembra -, depois de ter trabalhado num lar, a mulher de cabelos cinzentos a denunciar mais de meio século de vida pensou em despedir-se logo no primeiro mês. O motivo era simples: de tão grande que é a Assembleia da República, Feliciana Afonso sentia medo só de pensar que tinha de se deslocar de uns sítios para os outros sem saber o caminho. O tempo fez questão de lhe ensinar os percursos e as contas para pagar ao final do mês acabaram por pesar mais do que qualquer insegurança. [...]

Durante a pandemia, deixou de se preocupar com as incertezas. Nunca se preocupou muito com o futuro, agora ainda menos. Fechou os olhos e teve «fé em Deus». Só.

Se tiver de ter tenho, se não tiver de ter não tenho. Mesmo quando estava no centro de dia não tinha medo de nada. Sou uma mulher de trabalho e não temos de ter medo de nada. Não, não. Nem é por limpar o chão que sou menos que os outros. Olhe, tanto me pega a mim, como ao senhor primeiro-ministro. 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

entro de saúde

13.04.22

«Quando fui ao meu centro de saúde e expliquei qual era o problema, disseram-me logo: " Não se preocupe, isso é muito comum, vem cá parar muita gente dos call centers com esses problemas, sobretudo de pessoas que vendem seguros." Parece que é a pior coisa que podes fazer nessa área.»

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

consequências das verdades

25.01.22

Apesar de termos vivido uma enorme evolução ao longo das últimas décadas, ainda vivemos as consequências do atraso estrutural na área da educação. Segundo dados da Pordata [...] 45% da população empregada em 2018 tinha apenas o ensino básico completo. Para os menos familiarizados com a terminologia, isto significa que quase metade das pessoas empregadas tinham-se ficado pelo 9º ano de escolaridade, contra 27% com o ensino secundário completo e outros 27% com formação superior. (E, sim, cerca de 1% dos trabalhadores - setenta mil pessoas, para ser mais preciso - não tem qualquer formação escolar.)

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

madonna em lisboa *

24.05.17

porque os Portugueses nunca se denunciam na maneira de melhor servir a sua terra

 

almada - Lx. Abril 1922

 

 

Ainda não vi em Lisboa o Fassbender, a Madonna, o Cantona, muito menos a Belluci. Mas vi o Almada Negreiros na Gulbenkian.

@JoseDePina

José de Pina@JoseDePina

 

 * http://museudearteantiga.pt/exposicoes/madonna

bruno de nola

17.02.17

Ao peso da sua condenação se deverá, certamente, o silêncio quase total dos contemporâneos, quaisquer que fossem as suas razões - «alguns por medo, outros por remorso» - e as formas externas de que se revestiram: e que vão desde as versões piedosamente «atenuadas» do suplício (e não menos empenhadas em justificá-lo), à remoção do nome Frei Giordano «dos registos da Ordem de S. Domingos» e das Universidades e Academias em que tinha ensinado.

Silenciaram também o facto da sua morte, com unânime cumplicidade, não só «os escritores da história profana» - que não deixaram, porém, de relatar as condenações de outros heréticos «daquele fim de século» - como ainda «os da história eclesiástica» e até os que, em vida, o protegeram, lhe deram  hospitalidade e partilharam da sua amizade.  

 

Giordano Bruno - Acerca Do Infinito, Do Universo E Dos Mundos

Fundação Calouste Gulbenkian (junho 1998)

 

 Giordano Bruno

(Nola, Reino de Nápoles, 1548 — Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro, 1600)

 

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Apresento-vos agora a minha especulação acerca do infinito, do universo e dos mundos inumeráveis. 

(...)

começa-se a demonstrar a infinidade do universo, e apresenta-se o primeiro argumento, tirado o facto de não saberem onde termina o mundo aqueles que mediante a fantasia lhe querem fabricar muralhas. 

 

 

Giordano Bruno - Acerca Do Infinito, Do Universo E Dos Mundos

Fundação Calouste Gulbenkian (junho 1998)