Nunca possuirei outra coisa para além de felicidade natural. Bastará isso para me contentar. Irei cansada para a cama. Serei como um campo cujas colheitas vão aumentando; no Verão, o sol aquecer-me-á; no Inverno, a geada fará com que fique queimada. Contudo, o frio e o calor seguir-se-ão de forma natural, sem que eu tenha qualquer coisa a ver com o facto. Os filhos dar-me-ão continuidade; as suas dores de dentes, os seus choros, as suas idas e vindas da escola serão como as ondas do mar que se estende a meus pés.
Virginia Woolf – As Ondas (1931)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
Ele vê todas as coisas com os contornos desmaiados [...] Não posso expor a minha paixão absurda e violenta à sua simpatia compreensiva [...] Preciso de alguém cuja mente caia como um machado no seu cepo; para quem o cúmulo do absurdo seja sublime, e considere um simples atacador como algo digno de admiração. A quem poderei desvandar a urgência da minha paixão? O Louis é demasiado frio, demasiado universal. Não há ninguém aqui - entre estas arcadas cinzentas, estes tolos que se lamentam, estes jogos e animadas tradições, tudo organizado com grande mestria para que não nos sintamos sós.
Virginia Woolf – As Ondas (1931)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
O capitão de Intendência Octave Rigault tem uma verruga avantajada, na asa da narina direita. Esta contrariedade remedeia-a o artista facilmente, postando-se de forma a fixar o modelo a três quartos (...)
O génio matemático que Raimundo tem diante de si e do cavalete está enroupado de gala, com muitas condecorações no lado esquerdo da casaca azul do uniforme. No rosto esquinado e magro, abundam os ângulos e, para além da verruga no nariz oculta pela posição de três quartos, não se lhe vislumbra nada de interessante (...) Aguenta quase três horas completamente imóvel e calado, inexpressivo, e nem uma ruga se divisa na roupa impecável. Raimundo experimenta a sensação estranha de estar a pintar um pau fardado.
Álvaro Guerra – Razões de Coração (1991) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)
Os dentes, porque são dentes, iniciais. Na espuma, porque não são saliva estas ondas pouco mordentes; este sal que sobe quase doce; donde?
Numa espécie de fogo: amor é fogo que arde sem se ver; porque não é de facto fogo este frio aceso; da saliva à lava passa pela espuma.
Só os dentes. Duros, ácidos, concentram-se tacteando a pele, tatuando signos sempre moventes de fúria. Mordida a pele cintila; espelho dos dentes, do seu esmalte voraz; suavemente.
Um dia frio Um bom lugar pra ler um livro E o pensamento lá em você Eu sem você não vivo Um dia triste Toda fragilidade incide E o pensamento lá em você E tudo me divide
Um dia frio Um bom lugar pra ler um livro E o pensamento lá em você Eu sem você não vivo Um dia triste Toda fragilidade incide E o pensamento lá em você E tudo me divide
Longe da felicidade e todas as suas luzes Te desejo como ao ar Mais que tudo És manhã na natureza das flores
Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes Não te esquecerei um dia Nem um dia Espero com a força do pensamento Recriar a luz que me trará você
E tudo nascerá mais belo O verde faz do azul com o amarelo O elo com todas as cores Pra enfeitar amores gris
E tudo nascerá mais belo O verde faz do azul com o amarelo O elo com todas as cores Pra enfeitar amores gris
Um dia frio Um bom lugar pra ler um livro E o pensamento lá em você Eu sem você não vivo Um dia triste Toda fragilidade incide E o pensamento lá em você E tudo me divide
Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes Não te esquecerei um dia Nem um dia Espero com a força do pensamento Recriar a luz que me trará você
E tudo nascerá mais belo O verde faz do azul com o amarelo O elo com todas as cores Pra enfeitar amores gris
E tudo nascerá mais belo O verde faz do azul com o amarelo O elo com todas as cores Pra enfeitar amores gris