Uma certa atenção treinada pela História poderia discernir neste jovem par (...) o toque subtil da decadência precoce, o drama de uma geração que já não pertence ao passado mas dele traz a herança suficiente para sentir que falhou o futuro.
Álvaro Guerra – Razões de Coração (1991) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)
O capitão de Intendência Octave Rigault é um maníaco das cifras. O Palácio-Convento tornou-se para ele um desafio e uma guloseima. Andou dois dias de nariz no ar, a rondá-lo, contornando-o lentamente, a determinar numericamente a sua vastidão imponente e desengraçada, calculando a passos, com pequena margem de erro, 40 000 metros quadrados monumentais e contando, como maior cuidado e interesse, as suas 4500 portas e janelas (...)
Estando excluído o interesse do curioso capitão da Intendência pela pureza dos mármores e pela perfeição clássica das colunas jónicas do vestíbulo, dos capitéis corínticos e das admiráveis figuras esculpidas por Bernini, Corsini, Ludovici e Bracci, imagina-se facilmente o prazer que ele teria se pudesse alinhar outros números no seu caderno de notas, que acrescentassem à avaliação de tanta monumentalidade os 50 000 trabalhadores que ali se esforçavam em 1729 pela grandeza do voto d'El Rei dom João V. Para não falar dos 1300 bois, dos 7000 soldados que mantinham a ordem nessa cidade artificial paga com o ouro do Brasil, e dos 1383 operários mortos, durante os primeiros 13 anos da obra de agradecimento ao Sublime Arquitecto por ter dado um filho a Sua Majestade.
Álvaro Guerra – Razões de Coração (1991) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)
Courage is the price that Life exacts for granting peace. The soul that knows it not Knows no release from little things: Knows not the livid loneliness of fear, Nor mountain heights where bitter joy can hear The sound of wings. How can life grant us boon of living, compensate For dull gray ugliness and pregnant hate Unless we dare The soul's dominion? Each time we make a choice, we pay With courage to behold the resistless day, And count it fair.
Courage - Poem by Amelia Earhart
Amelia Mary Earhart
(24 de julho, 1897 — desaparecida em 2 de julho de 1937)
Considerado um dos maiores engenheiros portugueses do século XX, grande parte das pessoas que conheceram Edgar Cardoso lembram-no como um homem de grande tenacidade e capacidade inventiva. Com um espírito aberto, o “engenheiro das pontes”, como ficou conhecido, procurou sempre a inovação, tentando ultrapassar tudo aquilo que já estava feito. “Eu não faço uma ponte igual à outra”, dizia, “porque cada obra é um momento de inovação e de busca de novas soluções mais racionais e económicas”. Uma das características mais marcantes da sua obra é talvez a recusa das soluções padrão, fáceis e já testadas. Edgar Cardoso procurava sobretudo a inovação, chegando a inventar ou a adaptar aparelhos e objectos para fabricar os modelos reduzidos com que trabalhava. Ele próprio afirmava: “o que não faço com a cabeça faço com as mãos”.(...)
Para uns, um homem de feitio difícil e intempestivo, por vezes arrogante. Para outros, essa seria talvez a única forma de fazer frente a invejas e ao conservadorismo com que sempre se deparou. Mas Edgar Cardoso foi sobretudo um homem que esteve à frente do seu tempo, tornando-se por isso mesmo alvo fácil da incompreensão de muitos. “Eu inovei em todas as obras e, por isso, nunca fui compreendido”, afirmava