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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

desacordo audiológico

17.03.22

«Não acabei a formação porque na altura o meu pai queria ir para o Brasil e convidou-me para ir trabalhar com ele. Fui fazer vendas. Foi difícil. Para teres uma noção, eu falava português e toda a gente na rua me perguntava se eu era argentino ou paraguaio[...]»

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

nem adversários, nem camaradas - apenas idiotas

24.01.22

Enfiando o chapéu na cabeça, saía para um mundo habitado por multidões de homens e mulheres que também haviam enfiado os chapéus nas cabeças, e, sempre que nos encontrávamos nos comboios e metropolitanos, trocávamos o olhar característico de adversários e camaradas que têm de enfrentar toda a espécie de dificuldades para atingir o mesmo objectivo - ganhar a vida.

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

soli[ci]tude

13.01.22

Deixem-me ao menos ser honesto. Deixem-me denunciar este mundo fútil, oco, em paz consigo mesmo

 

Virginia Woolf – As Ondas (1931)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

people

12.01.22

No ar desenham-se mil caprichos, mil delícias,

mil carícias e é o ócio que vence na harmonia.

 

António Ramos Rosa in A VOLUBILIDADE DO SER - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

antecipando o frio do inverno

18.11.21

Um mundo onde a ignorância é primavera

onde a alegria estremece deslumbrada 

 

António Ramos Rosa in O TEMPO - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

deixem passar

16.06.21

Várias pessoas com quem contactei (algumas já falecidas), falaram-me desses momentos, inesquecíveis para quem os viveu. Como Henri Zvi Deutsch, jovem adolescente na altura, que me contou que os pais, fugidos da Alemanha, nem papéis tinham - com eles apenas traziam fé e esperança. Zvi Deutsch mencionou-me o tipo de vistos que vários autores consideram como únicos na história da diplomacia mundial e que o cônsul de Bordéus terá produzido às centenas. Tratava-se de um simples pedaço de papel onde Aristides (ou talvez um dos seus filhos) escrevia o seguinte texto: «O governo português pede às autoridades francesas e espanholas que deixem passar o portador, ou portadores, deste visto de trânsito temporário. Trata-se de um refugiado, ou refugiados, do conflito armado a decorrer na Europa, a caminho de Portugal.» 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

preciso e necessário

11.06.21

Em casa da família Sousa Mendes, em Bordéus, as orações estavam presentes nos gestos diários. Angelina não conseguia deixar de pensar, a cada momento, se conseguiriam sair vivos daquele inferno, mas pensava também que era necessária para acolher pessoas, algumas em mau estado, como certamente aconteceu muitas vezes - era preciso alimentá-las, dar-lhes carinho e conforto. 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

uma questão de ego

09.06.21

Que mais podemos esperar encontrar neste romance? Um trabalhador em conflito constante com os seus patrões. Um pobre homem que procura incessantemente o consolo na bebida, que precisa de um emprego mas que foge dele. Um homem mais inteligente e sensível do que aqueles que olham para ele de cima [...]

Alguém disposto a travar uma batalha perdida contra as autoridades, na defesa dos seus direitos, da sua honra e do que resta da sua dignidade. Um homem que anseia por uma vida mais simples, mais confortável, mais bela, mas que rapidamente parece destruir todas estas possibilidades. Um aspirante a escritor que carrega a sua cruz com outros bons homens no local de trabalho, homens com os seus próprios sonhos impossíveis e quixotescos [...]

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)