O casamento de Clotilde estava marcado para 17 de dezembro de 1939, em Cabanas de Viriato, com receção e "copo-de-água" na Casa do Passal. Porque não antecipar para outubro o regresso a Portugal dos filhos, ficando apenas Aristides e Angelina em Bordéus, com José António para ajudar no consulado e Pedro Nuno para continuar as aulas na Faculdade de Direito de Bordéus? Decidido e feito. Fernanda Dias - a "petiza" ou Fernandita, a jovem criadinha - deixou um relato dessa viagem, numa entrevista publicada na revista do Expresso de 9 de novembro de 1996, assinada por Carlos Magno: «Fernanda viajava sentada entre o condutor e a sua esposa, Angelina, quando o carro, superlotado, capotou perto de Salamanca. Ao volante vinha Aristides de Sousa Mendes, nervoso, com o coração aos saltos e a alma no acelerador. Tinha de chegar rapidamente à fronteira portuguesa. Não queria que Salazar soubesse que ele se ausentara por três dias do seu posto consular / diplomático para pôr os filhos a salvo.» A "petiza" caracterizou o meu avô Aristides como «o mais justo e sofredor de todos os santos». Em contraste com esta admiração e amizade profunda de Fernandita a Aristides e Angelina, vem-me à ideia a senhora doutoranda da Universidade de Coimbra, já por mim citada, que se tivesse sabido deste episódio poderia muito bem ter dito: «Aristides, mais uma vez a prevaricar!»
Por um lado, temos um coração humano, simples e verdadeiro, por outro, temos um julgamento político e de carácter sob a capa de uma tese de doutoramento pela Universidade de Coimbra, com tese defendida em 2013, em que no último parágrafo se escreve a respeito de Aristides: «Estamos, portanto, diante de um funcionário prevaricador. Se bem que jamais se considerasse como tal.»
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
Este registo de pecados devia ser um registo de pensamentos. Não são pecados: são pensamentos. Pensamentos que uma pessoa deve ter para se perguntar acerca das coisas.
Ténue é o cais no Inverno frio. Ténue é o voo do pássaro cinzento. Ténue é o sono que adormece o navio. No vago cais do balouço da bruma ténue é a estrela que um peixe morde. Ténue é o porto nos olhos do casario. Mas o que em fora nos dilui faz-nos exactos por dentro.
Fernando Namora in Marketing
Quando o mar tem pés p'ra andar E as ondas só vêm chatear Lá do fundo do mar imundo imenso sais Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais Vendes no cais
Quando um barco se está para afundar E só esses ratos não o quiserem abandonar Quando a maré negra chegar E não houver ninguém pr'ó crude limpar
Lá do fundo do mar imundo imenso sais Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais E vendes o cais
Se o pescado morre ao lado Se ainda se ama o mar salgado Então é ver no cinema se ainda há lodo no cais se o mercado impera e somos todos iguais Muito cuidado quando escorregas sempre cais
Lá do fundo do mar imundo imenso sais Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais Vendes o cais
Se o pescado morre ao lado Se ainda se ama o mar salgado Então é ver no cinema se ainda há lodo no cais Se o mercado impera e vais sempre longe demais Muito cuidado quando escorregas sempre cais
Se o mercado emperra e somos todos iguais Atenção cuidado voltas ao cais