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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

vivendo e aprendendo

21.06.21

Tu te ofereceste aberta como eras 

no sentido da dança, do fogo e do mar 

 

António Ramos Rosa in ENCONTRO - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

quaquaraquaquá

21.06.21

he kept thinking of his wife, Betsy, and he wanted to howl. He understood only this: that he deserved all of it. He deserved the fact that right now he wore a pad in his underwear because of prostate surgery, he deserved it; he deserved his daughter not wanting to speak to him because for years he had not wanted to speak to her - she was gay; she was a gay woman, and this still made a small wave of uneasiness move through him. Betsy, though, did not deserve to be dead. He deserved to be dead, but Betsy did not deserve that status [...] 

When his wife was dying, she was the one who was furious. She said, "I hate you." And he said, " I don't blame you." She said, "Oh, stop it." But he had meant it - how could he blame her? He could not blame her. And the last thing she said to him was: "I hate you because I'm going to die and you're going to live."

As he glanced up a seagull, he thought, But I'm not living, Betsy. What a terrible joke it has been. 

 

Elizabeth Strout – Olive, Again (2019)
Penguin Random House UK (2019)

 

 

falta de ar

18.02.21

O casamento de Clotilde estava marcado para 17 de dezembro de 1939, em Cabanas de Viriato, com receção e "copo-de-água" na Casa do Passal. Porque não antecipar para outubro o regresso a Portugal dos filhos, ficando apenas Aristides e Angelina em Bordéus, com José António para ajudar no consulado e Pedro Nuno para continuar as aulas na Faculdade de Direito de Bordéus? Decidido e feito. Fernanda Dias - a "petiza" ou Fernandita, a jovem criadinha - deixou um relato dessa viagem, numa entrevista publicada na revista do Expresso de 9 de novembro de 1996, assinada por Carlos Magno: «Fernanda viajava sentada entre o condutor e a sua esposa, Angelina, quando o carro, superlotado, capotou perto de Salamanca. Ao volante vinha Aristides de Sousa Mendes, nervoso, com o coração aos saltos e a alma no acelerador. Tinha de chegar rapidamente à fronteira portuguesa. Não queria que Salazar soubesse que ele se ausentara por três dias do seu posto consular / diplomático para pôr os filhos a salvo.» A "petiza" caracterizou o meu avô Aristides como «o mais justo e sofredor de todos os santos». Em contraste com esta admiração e amizade profunda de Fernandita a Aristides e Angelina, vem-me à ideia a senhora doutoranda da Universidade de Coimbra, já por mim citada, que se tivesse sabido deste episódio poderia muito bem ter dito: «Aristides, mais uma vez a prevaricar!»

Por um lado, temos um coração humano, simples e verdadeiro, por outro, temos um julgamento político e de carácter sob a capa de uma tese de doutoramento pela Universidade de Coimbra, com tese defendida em 2013, em que no último parágrafo se escreve a respeito de Aristides: «Estamos, portanto, diante de um funcionário prevaricador. Se bem que jamais se considerasse como tal.»

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

reformulações

16.06.20

Reformulação do registo de pecados 

(...)

Este registo de pecados devia ser um registo de pensamentos. Não são pecados: são pensamentos. Pensamentos que uma pessoa deve ter para se perguntar acerca das coisas. 

 

Hugo Mezena – Gente Séria (2017)

Planeta Manuscrito (2018)

 

 

cais

15.11.16

Ténue é o cais
no Inverno frio.
Ténue é o voo
do pássaro cinzento.
Ténue é o sono
que adormece o navio.
No vago cais
do balouço da bruma
ténue é a estrela
que um peixe morde.
Ténue é o porto
nos olhos do casario.
Mas o que em fora nos dilui
faz-nos exactos por dentro.

 

Fernando Namora in  Marketing 

 

 

 

 

 

 

 

Quando o mar tem pés p'ra andar
E as ondas só vêm chatear
Lá do fundo do mar imundo imenso sais
Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais
Vendes no cais

Quando um barco se está para afundar
E só esses ratos não o quiserem abandonar
Quando a maré negra chegar
E não houver ninguém pr'ó crude limpar

Lá do fundo do mar imundo imenso sais
Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais
E vendes o cais

Se o pescado morre ao lado
Se ainda se ama o mar salgado
Então é ver no cinema se ainda há lodo no cais
se o mercado impera e somos todos iguais
Muito cuidado quando escorregas sempre cais

Lá do fundo do mar imundo imenso sais
Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais
Vendes o cais

Se o pescado morre ao lado
Se ainda se ama o mar salgado
Então é ver no cinema se ainda há lodo no cais
Se o mercado impera e vais sempre longe demais
Muito cuidado quando escorregas sempre cais

Se o mercado emperra e somos todos iguais
Atenção cuidado voltas ao cais

 

GNR