Ele não estava bem e não cantou bem, mas o produto final era muito melhor do que ouvíamos habitualmente. Aborreci-me por não poder aplaudir sem reservas. Mas se se mente a um homem sobre o seu talento só porque ele está sentado à nossa frente essa é a mais imperdoável das mentiras, porque isso encoraja-o a continuar, e para um homem sem talento é a pior maneira de lhe destruir a vida. Mas muita gente fazia isso, sobretudo amigos e parentes.
Charles Bukowski – Mulheres (1978) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
em 2004, no 50.º aniversário da morte de Aristides, o arcebispo de Bordéus, Jean-Pierre Ricard, celebrou missa em sua homenagem, e evocou muitas das frases do meu avô, com destaque para a que acabou por se tornar a sua mais conhecida: «Assim declaro que darei com todo o entusiasmo vistos para todos, independentemente da origem de quem o peça. O meu desejo é antes "estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus".
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
Eu detestava aquele tipo de agitação, o género de sexo à Los Angeles, Hollywood, Bel Air, Malibu e Laguna Beach. Estranhos quando nos encontrávamos, estranhos quando partíamos - um ginásio de corpos anónimos a masturbarem-se mutuamente. As pessoas sem moral consideravam-se muitas vezes livres, mas sobretudo eram incapazes do mínimo sentimento ou de amor. Por isso eram despreocupadas. Os mortos a foderem os mortos. Não havia nem risos nem humor nos seus jogos - era um cadáver a foder outro cadáver.
Charles Bukowski – Mulheres (1978) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
Dee Dee deu-me Alka-Seltzer e um copo de água. A única coisa que me ajudou a melhorar foi uma rapariga sentada do outro lado da sala de espera. Tinha um corpo fabuloso, boas e esguias pernas, e trazia uma mini-saia. E vestia meias compridas, com ligas, e sob a saia, cuecas cor-de-rosa.
Calçava sapatos de salto alto.
« Estás a olhar para ela, não estás?», perguntou Dee Dee.
«Não posso evitar.»
«É uma desavergonhada.»
«Evidente.»
Charles Bukowski – Mulheres (1978) Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)