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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

uma questão de rotas

28.06.21

[...] e ali nos sentávamos, às cinco da manhã, à espera de serviço, à espera que algum carteiro efectivo telefonasse a dizer que estava doente. Normalmente, os carteiros efectivos adoeciam quando chovia ou quando havia uma vaga de calor, ou então depois de um feriado, quando o correio duplicava. 

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

uma questão de ego

09.06.21

Que mais podemos esperar encontrar neste romance? Um trabalhador em conflito constante com os seus patrões. Um pobre homem que procura incessantemente o consolo na bebida, que precisa de um emprego mas que foge dele. Um homem mais inteligente e sensível do que aqueles que olham para ele de cima [...]

Alguém disposto a travar uma batalha perdida contra as autoridades, na defesa dos seus direitos, da sua honra e do que resta da sua dignidade. Um homem que anseia por uma vida mais simples, mais confortável, mais bela, mas que rapidamente parece destruir todas estas possibilidades. Um aspirante a escritor que carrega a sua cruz com outros bons homens no local de trabalho, homens com os seus próprios sonhos impossíveis e quixotescos [...]

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

That's okay, We're insured

09.06.21

- Muito bem, agora têm um bom emprego. Se não sujarem o nariz, têm segurança para o resto da vida.

Segurança? Podíamos ter segurança na prisão. Três metros quadrados sem renda para pagar, sem contas de água ou de luz, sem impostos, sem pensão para as crianças. Sem imposto de circulação. Sem multas de trânsito. Sem repreensões por conduzir embriagado. Sem perder dinheiro nas corridas de cavalos. Cuidados médicos gratuitos. Camaradagem com pessoas que têm interesses semelhantes. Missa. Sexo anal. Funeral sem despesas. 

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

redor

07.06.21

Na entrada do prédio dela havia um aviso:

NÃO É PERMITIDO FAZER BARULHO OU QUALQUER TIPO DE DISTÚRBIO, AS TELEVISÕES DEVEM SER DESLIGADAS ÀS DEZ DA NOITE. HÁ AQUI PESSOAS QUE TRABALHAM.

Era um aviso grande, pintado a vermelho.

- Agrada-me aquela parte das televisões - disse-lhe eu. 

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

o vão do tempo

07.06.21

[...] fomos para a cama, mas já não era a mesma coisa; nunca é - havia espaço entre nós, tinham acontecido coisas. 

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

das tripas, amor

07.06.21

A comida faz bem aos nervos e ao espírito. A coragem vem do estômago - tudo o resto é desespero. 

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

apenas (querer, merecer, ter) tudo

02.06.21

Fiz sinal à enfermeira para que voltasse a pô-la no berço [...]

As mulheres foram feitas para sofrer; não admirava que passassem o tempo a pedir declarações de amor.

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)

 

 

fazer cordas de areia

01.06.21

No início do giro, endireitava-se, tirava o apito, um dos grandes, e soprava, com cuspo a voar em todas as direcções. Isto era para as crianças saberem que ele tinha chegado. Levava-lhes rebuçados. Elas vinham a correr e ele ia-lhes dando os rebuçados enquanto descia a rua. O bom do G.G. [...]

Mas um dia o G.G. meteu-se numa alhada. O bom do G.G. Encontrou uma miúda pequena nova na zona. E deu-lhe rebuçados. E disse:

- Bem, tu és uma menina muito bonita! Gostava que fosses a minha menina!

A mãe estava a ouvir à janela e desatou a correr aos gritos, a acusar o G.G. de molestar uma criança. Como não conhecia o G.G., os rebuçados e aquela conversa foram demais para ela. 

O bom do G.G. Acusado de molestar uma criança.

Entrei e ouvi o Stone a falar ao telefone com a mãe, tentando explicar-lhe que o G.G. era um homem honrado. O G.G. estava sentado à frente do seu móvel, absorto.

Quando o Stone acabou a conversa e desligou, eu disse-lhe:

- Não devias dar graxa a essa mulher. Ela tem uma mente suja. Metade das mães americanas, com as suas queridas ratas e as suas queridas filhinhas, metade das mães americanas tem a mente suja. Ela que se lixe. [...]

O Stone abanou a cabeça.

- Não, as pessoas são dinamite! São dinamite! 

 

Charles Bukowski – Correios (1971)

Antígona (2015)