B-DAY
A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.
Charles Chaplin
(16/04/1889 - 25/12/1977)
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A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.
Charles Chaplin
(16/04/1889 - 25/12/1977)
Era uma mistura entre circo e o jardim zoológico. Não se pagava bilhete, mas fazia-se fila - uma fila monumental - à porta. Uns comentavam o espetáculo, outros limitavam-se a olhar, de boca aberta. Há vários testemunhos de época que referem, inclusivamente, a existência de «excursões» vinda de vários pontos do país para ver... aquilo. O quê? Homens e mulheres, sentados, lado a lado, a tratar da beleza dos respetivos cabelos. Quando e onde? Em 1976, no salão de Isabel Queiroz do Vale, no Centro Comercial Imaviz, acabado de estrear. Mas não só. Havia, naquele salão, um ser espantoso, inconcebível, pela forma como se vestia, como se movia, como fazia de cada corte de cabelo uma performance singular. Um cabeleireiro que exigia ser tratado como barbeiro. António Joaquim Ribeiro.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Eu aprenderei a partir sem conhecer
para onde vou nem olharei para trás
eu aprenderei que o presente é o presente
António Ramos Rosa in O INCÊNDIO DOS ASPECTOS - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Ele não estava bem e não cantou bem, mas o produto final era muito melhor do que ouvíamos habitualmente. Aborreci-me por não poder aplaudir sem reservas. Mas se se mente a um homem sobre o seu talento só porque ele está sentado à nossa frente essa é a mais imperdoável das mentiras, porque isso encoraja-o a continuar, e para um homem sem talento é a pior maneira de lhe destruir a vida. Mas muita gente fazia isso, sobretudo amigos e parentes.
Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom, bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa.
Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
O objetivo era sempre o mesmo: aprender. Ir mais além. Dotar-se de ferramentas que lhe permitissem sobreviver confortavelmente, agradavelmente, até conseguir o lugar ao sol no mundo da música. Tornar-se cabeleireiro, ou melhor, barbeiro, foi sempre um meio, nunca um fim. «É que gosto muito do som da tesoura, mas não há nada que chegue ao som de uma viola, de uma guitarra ou de um violino. Só lamento não ter tido a formação musical necessária que agora me ia fazer muito jeito.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
«Estás demasiado velho. Só queres estar sentado a criticar tudo e todos. Não queres fazer nada. Nada é bom para ti!»
Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)
Por vezes, um problema não se resolve pela sensatez da mente, mas antes pela sabedoria do coração.
Grace Burrowes – Coração Ardente (2017)
Quinta Essência (2019)
Recém-chegado da tropa no ultramar, no início dos anos 70, António ainda não pertencia ao meio musical. Mas, pela forma de estar, de vestir, e de ser, começava a ser um Extraterrestre, num país onde era pecado ser diferente, numa sociedade que tranquilizava os seus terrores arcaicos com a estandardização. «Sempre Ausente», um poema do álbum Anjo da Guarda, ilustra estes tempos e esta busca:
Diz-me que solidão é esta
Que te põe a falar sozinho
Diz-me que conversa
Estás a ter contigo
Diz-me que desprezo é esse
Que não olhas p'ra quem quer que seja
Ou pensas que não existe
Ninguém que te veja
Que viagem é essa
Que te diriges em todos os sentidos
Andas em busca dos sonhos perdidos
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Em 1989, o quarteirão enfaixado entre a Avenida de Fernão de Magalhães, a Rua Abraços e a Rua da Póvoa abrigava umas quantas pessoas escondidas em prédios do século XIX. Sobreviviam nas cozinhas, nos quartos, nas salas, onde quer que os prédios dessem calor (...)
Nesse Inverno, os buldózeres executaram a ordem de despejo. Os que lá tinham ficado foram acordados pelos operadores que berravam «Fujam, a máquina é cega!». Deram com as paredes destruídas, as camas esmagadas, as molduras das fotografias partidas, conformaram-se e seguiram pelas ruas, uns de roupão, outros de casaco vestido à pressa. Em três dias ninguém se lembrava deles.
O empreiteiro queria construir em tempo recorde por medo de que a Câmara inventasse novas burocracias (...) Depois chegaram as retroescavadoras, que entregaram pazadas de entulho aos reboques dos camiões. E assim cavaram fundações com quinze metros de profundidade protegidas por taipais com placas que avisavam para o óbvio: perigo (...)
Era evidente que a Fernão de Magalhães não merecia o hipermercado pensado para aquele espaço. Veja-se os prédios em volta. Tudo feio, menos os azulejos antigos e o Vila Galé, a torre mais alta da cidade. Dito isto, cuspiam para o chão, concluíam «A vida é assim, o nosso Porto não aprende» (...)
As gruas ainda levantaram um torreão de cinco andares na fachada que dava para a avenida. E então soube-se. Em 1992, as obras pararam por imbróglio jurídico, excesso burocrático, corrupção ou falta de dinheiro, enfim, um dos cenários a que estamos habituados.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
Publicações Dom Quixote (2018)
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