Vagueio de casa em casa como os frades da Idade Média que enganavam as raparigas e as mulheres casadas com contas e baladas. Sou um viajante, um bufarinheiro, pagando com uma caução a hospitalidade que me oferecem; sou um convidado fácil de agradar; alguém que ora dorme no melhor quarto da casa, na cama de dossel, ora passa a noite no estábulo, deitado num molho de feno. Não me importo com as pulgas, o mesmo se passando com o toque da seda. Tenho uma percepção demasiado clara da perenidade da vida e das tentações que a caracterizam para impor proibições. Apesar de tudo, não sou tão tolerante como vos pareço
Virginia Woolf – As Ondas (1931)
Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)
O sentimento anti-soviético era um bocado mais forte do que hoje. A China ainda não tinha começado a flectir os músculos. O Vietname era só uma brincadeira com petardos.
Mas em 1983 e em 1984, as autoridades responsáveis pela saúde dos portugueses não estavam informadas, logo, não sabiam como encarar o problema. Portanto, desmentem-no. A sida não existe. A exstir, é noutros países. Não há pragas nem epidemias. O director do Instituto Nacional do Sangue multiplica-se em entrevistas e vai à televisão desmentir a gravidade da situação e pedir às pessoas para não se preocuparem porque Portugal era um país de bons costumes. Só uma mulher, investigadora, estava atenta, e, pior do que isso, preocupadíssima. Odete Santos tinha ouvido falar da doença em 1983, num congresso em Lausanne, na Suíça, para onde foi a convite da maior especialista mundial em infeções hospitalares, que lhe diz: «Se for o que a gente pensa, vai ser uma desgraça!» Odete Santos, que trabalhava com o Instituto Pasteur, em Paris, pediu para ser apresentada ao professor Montagnier, o virologista francês que isolara o vírus... e contra tudo e contra todos iniciou uma batalha pelo conhecimento da doença, em Portugal... Numa enorme solidão, como ela própria admite, a cientista foi discriminada. As pessoas chegavam a mudar de passeio para não lhe falarem... Mas em 1985, com uma equipa diminuta na Faculdade de Farmácia, Odete Santos entra para a História da Medicina ao isolar o VIH-2... (...) A partir daí, a sida, em Portugal, não apenas existe como tem direito a bilhete de identidade.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Eu, por vezes, sinto-me vazio. A minha ciência é desprezada. O conhecimento não interessa para nada. Os conhecimentos é que são importantes. Isto é um país de amigos onde, curiosamente, todos são meus inimigos. Ninguém se digna a perder tempo a ler o que ponho no mundo com toda esta sabedoria que me caracteriza. A sociedade é feita de dinheiro. A carne dela são cotações, cheques, cartões de crédito. Vende-se o que dá dinheiro. O que importa não importa. É o fim dos tempos, o homem volta a ser um macaco. Volta a olhar o porco, cara a cara, e a sentir que se olha ao espelho. É isso o homem. Uma espécie de suíno que, momentaneamente, esqueceu a sua condição orwelliana. Somos todos uns porcos que chafurdam na banca e na economia. A vida não passa de um gráfico de barras, umas estatísticas, probabilidades, projecções. E neste mundo somos todos escravos de notas de todas as línguas.
Neste período, como parece depreender-se do próprio nome, as desinteligências eram resolvidas à pedrada, poupando-se discussões inúteis, propaganda eleitoral e outros vícios da civilização.
Os homens que habitavam a terra nestes tempos remotos não se chamavam Marcelo ou Teotónio. Davam urros, gesticulavam, faziam carantonhas e soltavam gritos gruturais, conseguindo, à custa de processos tão económicos fazer-se entender melhor do que muitos contemporâneos nossos doutorados pelas Universidades.
Comiam tudo o que encontravam (o que os distingue de nós é que iam encontrando alguma coisa) [...] embora evitassem comer-se uns aos outros, contrariamente ao que acontece hoje por toda a parte.
Vilhena – História Universal da Pulhice Humana (1960/1961/1965) Edição Completa, Integral e Nunca Censurada dos Três Volumes Originais Pré-História / O Egipto / Os Judeus
Herdeiros de José Vilhena / SPA 2015, E-Primatur (2016)
Façamos aqui um pequeno parêntesis para explicar um dos problemas capitais da criação humana, isto é: o aparecimento de diversos tipos de indivíduos com cores estranhas. (Não nos referimos, evidentemente, à cor política, mas à coloração da própria pele) [...] Outra teoria pretende que o fenómeno tem diversa explicação. Assim, atribue a invenção dos peles-vermelhas, não a Deus - como pode parecer óbvio - mas ao Sr. Cecil B. de Mille e outros produtores de filmes com índios em tecnicolor. Os negros, (segundo a mesma teoria), foram descobertos por um empresário americano de divertimentos públicos, pois todos conhecem essas interessantes festazinhas do folclore estadunidense onde um negro sempre faz o papel do actor principal exibindo-se pendurado numa árvore, regado com gasolina e ardendo.
Só o aparecimento da raça amarela é que não tem explicação. Os chineses vieram ao mundo há coisa apenas de alguns anos, e logo 600 milhões duma assentada. Ninguém sabe porque foram criados, pois só têm trazido dores de cabeça aos delegados ocidentais da ONU
Vilhena – História Universal da Pulhice Humana (1960/1961/1965) Edição Completa, Integral e Nunca Censurada dos Três Volumes Originais Pré-História / O Egipto / Os Judeus
Herdeiros de José Vilhena / SPA 2015, E-Primatur (2016)