Foi numa aldeia recôndita, no Alentejo profundo, no verão de 82 [...]
Ora quando ele entra em palco, de lenço à pirata, com umas medalhinhas penduradas, os homens começaram a assobiar, a mandar bocas, e ele...impôs-se. Durante a primeira canção, as bocas não pararam, mas ele continuou a cantar e, também, a dizer coisas para o público. Não era o tu cá tu lá da bicha de língua afiada, porque o António era inteligente e educado. Não arrasou o público, mas calou as más-línguas, respondendo à letra a um ou dois tipos que estavam na assistência. As mulheres estavam deslumbradas. Eles é que se sentiam picados, lá saberão porquê. Aquilo mexia com eles. E à terceira canção estava tudo rendido.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)