as associadas do bem
«Há um olho em cada pedra
Uma pedra em cada olhar
Um pedreiro à tua espreita
Que te há de apedrejar»
José Eduardo Agualusa – A Conjura (1989)
Quetzal Editores (2017)
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anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.
«Há um olho em cada pedra
Uma pedra em cada olhar
Um pedreiro à tua espreita
Que te há de apedrejar»
José Eduardo Agualusa – A Conjura (1989)
Quetzal Editores (2017)
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Das mulheres dos hospitais, passamos para as mulheres do Parlamento. E não, não são as senhoras deputadas. Aqui fala-se daquelas que são as primeiras a entrar na casa da Democracia. Para a limpar. Às sete da manhã, quando ainda nem os jornalistas podem passar a barreira do detector de metais, já estas mulheres estão em São Bento, de pano e esfregona em punho. Enquanto os deputados se preparavam para discutir, por exemplo, se o 25 de abril deveria ser comemorado com 130 pessoas, ou se as figuras do Estado deveriam confinar-se aos seus espaços e festejar mais tarde a Liberdade, ouviam-se nos corredores os carrinhos atulhados de papel higiénico para garantir que os senhores deputados tinham todas as condições garantidas na hora de uma visita à casa de banho.
Como as cadeiras do Parlamento não se limpam sozinha através do teletrabalho, a solução para dominuir o risco de contágio nestes locais entre as profissionais de limpeza passou por criar um sistema de rotatividade, dividindo as cerca de 50 empregadas em dois grupos. Assim, as que trabalhavam durante uma semana ficavam em casa na semana seguinte. A exceção ia para os dias de plenário, cujos encontros foram reduzidos a um por semana durante o estado de emergência. Ou seja, nestes dias, todas as trabalhadoras se apresentavam ao serviço.
Rita Pereira Carvalho – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)
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Contudo, o arguido já tinha sido condenado. E mais castigos estavam previstos para esmagar o "cônsul rebelde", que em sua casa, em Cabanas de Viriato, ainda sonhava com a compreensão do ditador (que até era beirão).
É neste estado de espírito que Aristides se encontra quando chega a Lisboa na segunda-feira, dia 8 de julho, esperando poder ser recebido por Salazar. O embaixador do costume dirá muito mais tarde, já nos dias de hoje, que Aristides não tinha "categoria profissional" para ser recebido pelo ministro, apenas isso. O meu avô nunca foi recebido por Salazar, apesar de lhe ter enviado um telegrama nesse dia: «Cônscio ter cumprido meu dever para com a pátria e em nada ter desmerecido consideração V. Exa., rogo-lhe se digne receber-me, o que agradecerei penhoradamente. A. Mendes.» Mas Salazar, que era um estadista tão importante (e arrogante), como escreveu o tal embaixador, não se dignou receber o subalterno rebelde, sobretudo para tratar de questões tão "insignificantes" como a vida ou a morte de refugiados em tempo de guerra.
É interessante observar que Aristides escreve no telegrama acima referido «o meu dever para com a pátria». A pátria de Aristides era uma pátria cristã, em que o amor ao próximo estava acima de tudo, e é isso mesmo que reafirma mais uma vez à sua hierarquia
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
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Vai simplesmente obedecer ao ditador de Lisboa, que na realidade nem sequer viu o "campo de batalha"? Um ditador que não respeita sequer a sua própria Constituição, e que atua abertamente contra o seu artigo 8.º? Para Aristides - trineto de um dos "pais" da primeira Constituição de Portugal - obedecer a Salazar era contranatura.
Vinham-lhe constantemente à cabeça as palavras de sua mãe: «Nunca faças nada de que te possas envergonhar e que não me possas contar.» [...] Ou as palavras do juiz, seu pai: «Faz sempre o bem. Faz aos outros aquilo que gostarias que te fizessem.»
Teria de encontrar uma resposta para aquele "mundo" que ali se concentrava. Aristides vai ter de decidir nessa mesma noite [...] O seu coração implora-lhe que salve ao menos as pessoas que estão à sua porta [...]
Aristides está pronto. Nessa noite não dorme. Sai da cama às cinco horas da manhã, lava-se e barbeia-se. Angelina prepara um bom pequeno-almoço. Aristides manda chamar a polícia, para que a ordem seja mantida. Cerca das seis e meia, pede ajuda aos filhos e ao genro. Manda alguém ir chamar o rabino Kruger, que deixara bem claro que só iria para Portugal quando Aristides desse vistos a todos os seus irmãos. O cônsul e a mulher dirigem-se para a porta do segundo andar e abrem-na. As escadas estão cheias de pessoas - pais, mães e crianças sentados e deitados pelo chão. Em francês, o cônsul-geral de Portugal fala em voz bem alta para ser ouvido por todos os que estavam ali, e que irão repetir aos outros: «Bom dia a todos, a minha mulher e eu decidimos que vamos dar vistos de trânsito para Portugal a todos os que o desejarem, sem qualquer limite ou condição. Serão vistos gratuitos, que só pagarão à polícia portuguesa quand ochegarem à fronteira. Alguns de vós já aqui estão há vários dias e sabemos que têm passado por muito sofrimento. Dentro do possível, continuaremos a ajudar os mais necessitados.»
Estava a começar o que o historiador da Universidade de Jerusalém, Yehuda Bauer, qualificou no seu livro A History of the Holocaust, como a maior operação de salvamento da Segunda Guerra Mundial, levada a cabo por uma só pessoa, contra as autoridades do seu próprio país. Estávamos no dia 17 de junho de 1940
António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes (2017)
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Foi numa aldeia recôndita, no Alentejo profundo, no verão de 82 [...]
Ora quando ele entra em palco, de lenço à pirata, com umas medalhinhas penduradas, os homens começaram a assobiar, a mandar bocas, e ele...impôs-se. Durante a primeira canção, as bocas não pararam, mas ele continuou a cantar e, também, a dizer coisas para o público. Não era o tu cá tu lá da bicha de língua afiada, porque o António era inteligente e educado. Não arrasou o público, mas calou as más-línguas, respondendo à letra a um ou dois tipos que estavam na assistência. As mulheres estavam deslumbradas. Eles é que se sentiam picados, lá saberão porquê. Aquilo mexia com eles. E à terceira canção estava tudo rendido.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
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O silêncio era, portanto, uma das maneiras que o avô tinha de nos fazer compreender o que pensava acerca de determinado assunto.
A outra eram os gritos.
Os suspiros também eram uma forma de nos transmitir o que sentia. E uma determinada forma de pigarrear, que se escutava uma vez por outra (...)
Hugo Mezena – Gente Séria (2017)
Planeta Manuscrito (2018)
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quando as pessoas muito atentas seja ao que for a idade aumenta logo
António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)
Publicações Dom Quixote (2018)
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