inacessível corpo em outro corpo vivo
As pernas são o grito
no rosto no vento A língua
contra a língua
ou antes as duas línguas que a destroem
Vertigem dos limites
contra a vertigem
[...]
Ancas intermináveis Flancos
que trucidam quando oscilam
António Ramos Rosa in FRAGMENTOS: FIGURA - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
essa paixão árida que não canta
mas vibra seca no papel incerta
Quem detém os olhos? Quem vê o curso
do vento nas palavras?
E as flechas que por vezes se desfazem?
[...]
Tudo o que o poema faz desfaz
Mas sustenta a ferida
nas margens mais distantes
da distância
na insensata esperança
no abismo
Tu beijas aqui a dança e o desastre
António Ramos Rosa in O INCERTO EXACTO - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
e uns caem separados na distância
António Ramos Rosa in O INCERTO EXACTO - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Silenciosa intensidade
de um obscuro sabor
António Ramos Rosa in NO ATELIER A SEMELHANÇA - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Se não houvesse o cansaço
das pedras
que não são pedras
que são apenas cansaço sem nenhuma pedra
[...]
Farei o que puder
com a palavra pedra
quer tenha a pedra ou não
[...]
Saio do buraco
vou ao teu encontro
com a minha pedra
É uma pedra mesmo?
Inventada ou não
inventada e não
é a minha pedra
e por isso dou-ta
com o calor da mão
[...]
A pedra que encontrei
quando ta quis dar
quando te encontrei
António Ramos Rosa in A MINHA PEDRA PARA JOSÉ GOMES FERREIRA - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
le vide n'abolit pas l'inconnu mais l'éblouit
[...]
Tudo arde ainda na minuciosa paciência
[...]
Intensidade e tensão
da atenção pura
que sabe conter o que não se pode conter
estremecimento que não treme
tudo respira no silêncio
[...]
amorosos dedos de um amor da terra
[...]
teia aberta
[...]
e navio submerso
[...]
pedra de infinita transparência
[...]
paciência ardente
[...]
vazio amante
[...]
mão que penetrou no impenetrável
[...]
a infinita intensidade do contacto
António Ramos Rosa in UM ESPAÇO DE SILÊNCIO (Proposições sobre a pintura de Vieira da Silva) - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
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O Naufrágio
Maria Helena Vieira da Silva
O que resta recomeçar
com uma pedra
O que eu movo
até
onde não sei
suspendo
e algo avança
à minha frente
A mão baixa
aranha de ar
rápida intranquila
as armas que respiram
o desejo e a surpresa
[...]
O brilho da palavra igual ao brilho do silêncio
[...]
O sol sobre os teus braços
António Ramos Rosa in DECLIVES - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
ela quem? - ela, o esplendor do encontro
[...]
sem a mão do afago e tudo em vão
no vão de tudo ser o encontro aquém do encontro
António Ramos Rosa in O INCÊNDIO DOS ASPECTOS - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Como se caminhasse para um encontro
encontro
a cor do muro
[...]
e do olhar
[...]
lá fora atrás presente
António Ramos Rosa in DECLIVES - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Eu aprenderei a partir sem conhecer
para onde vou nem olharei para trás
eu aprenderei que o presente é o presente
António Ramos Rosa in O INCÊNDIO DOS ASPECTOS - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)