Põe o tempo o cuidado
que ignora o ouvido
e que o livro não dá.
É dele este silêncio,
este saber,
este ouvir e calar.
(...)
É dele o pouco a pouco,
o aproximado,
o justo.
(...)
É doce e grande
o tempo.
(...)
Põe o tempo o cuidado.
Mas não põe as estrelas.
Perde o olhar o brilho.
Mas o mar não se perde.
António Ramos Rosa in Antecipação à Velhice - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Com as portas abertas
eu sou o mar que entra.
Mas sem esquecer o sangue,
eu escuto e sei e espero.
António Ramos Rosa - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Perfeitamente desesperado é o meu sonho
Os pássaros insultam-me na cama
Só com doidos com doidos amaria
perfeitamente presente na frescura
do mar
António Ramos Rosa - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Porque não soube merecer a glória, a mais suave de me deitar a teu lado e que do sangue a palavra abolisse a diferença entre o meu corpo e a minha voz porque te perdi não sei quem sou António Ramos Rosa - Obra Poética I Assírio & Alvim (2018)
(...)
As palavras mais simples têm frio
como a palavra amor
como a palavra tempo
(...)
As palavras mais simples são as mais preciosas
como uma sombra vã
numa rua deserta
António Ramos Rosa in À MEMÓRIA DE PAUL ÉLUARD
António Ramos Rosa - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Edouard Manet (1832-1883) La plage à marée basse Estamos nus e gramamos. (...) As paisagens continuam a existir. As paisagens são suaves. Continuam também a existir outras coisas que dão matéria para poemas. A vida continua. Felizmente que há ódios, comichões, vaidades. A estupidez, esta crassa crença intratável, esta confiança indestrutível em si mesmo, é o que felizmente dá uma densidade, uma plenitude a isto. Num mundo descoroçoante de puras imagens é bom (...)
(...)
em nome do sofrimento e da felicidade
em nome dos animais e dos utensílios criadores
em nome de todas as vidas sacrificadas
em nome dos sonhos
em nome das colheitas em nome das raízes
em nome dos países em nome das crianças
em nome da paz
que a vida vale a pena que ela é a nossa medida
que a vida é uma vitória que se constrói todos os dias
(...)
António Ramos Rosa in O BOI DA PACIÊNCIA
António Ramos Rosa - Obra Poética I
Assírio & (...)