subliminarmente mergulhados
Em Portugal, como noutros países, as pessoas negras são consistentemente associadas a violência e isso tem consequências vitais para elas. Muitos leitores lembrarão o caso de Amadou Diallo, um imigrante guineense negro que foi abordado pela polícia de Nova Iorque em fevereiro de 1999 e recebeu instruções para não se mexer. Porém, Diallo levou a mão ao bolso para tirar a carteira com a identificação. Esse gesto foi confundido com o sacar de uma arma. Foi morto com cerca de 40 tiros. Vejamos a este propósito uma linha de pesquisa experimental replicada em vários países, incluindo Portugal, com a participação de estudantes universitários brancos.
Nesta linha de pesquisa, é pedido aos participantes que identifiquem um objeto (uma arma ou uma ferramenta) que é apresentado no ecrã do computador por um brevíssimo espaço de tempo. As respostas são registadas como certas ou erradas. Acontece que antes de o objeto (arma ou ferramenta) ser apresentado no ecrã é colocado no mesmo ecrã ora a foto de uma pessoa negra ora a de uma pessoa branca. Isto é feito de forma tão rápida que os participantes não se dão conta da foto - uma exposição subliminar. O que se verifica é que os participantes brancos confundem mais vezes uma ferramenta com uma arma quando subliminarmente são expostos à foto de um negro. De forma inversa, quando uma arma aparecia na sequência de uma foto de um branco era mais vezes confundida com uma ferramenta. Se com os resultados desta experiência refletirmos sobre o assassinato de Amadou Diallo, apreenderemos melhor o potencial de violência inscrito nos estereótipos.
Jorge Vala – Racismo, Hoje, Portugal em Contexto Europeu (2021)
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Jorge Vala (2021)