Recém-chegado da tropa no ultramar, no início dos anos 70, António ainda não pertencia ao meio musical. Mas, pela forma de estar, de vestir, e de ser, começava a ser um Extraterrestre, num país onde era pecado ser diferente, numa sociedade que tranquilizava os seus terrores arcaicos com a estandardização. «Sempre Ausente», um poema do álbum Anjo da Guarda, ilustra estes tempos e esta busca:
Diz-me que solidão é esta
Que te põe a falar sozinho
Diz-me que conversa
Estás a ter contigo
Diz-me que desprezo é esse
Que não olhas p'ra quem quer que seja
Ou pensas que não existe
Ninguém que te veja
Que viagem é essa
Que te diriges em todos os sentidos
Andas em busca dos sonhos perdidos
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
O rapaz de calças de ganga era, afinal, uma pessoa séria. Tinha estudado muito, no seminário. O pai era um lavrador com posses, como o senhor Rodrigues, e ele só se tinha formado por devoção. Podia ter ido para médico, engenheiro ou professor. Com os conhecimentos do pai, podia estar muito bem na vida. Podia ter investido num negócio ou arranjado um tacho na câmara municipal. Se fosse uma pessoa menos decente, era o que teria feito. Tantos que queriam e não podiam!
Sem se esquecer de referir o pormenor da indumentária devida a uma pessoa que ocupava a posição dele, o meu pai dizia o mesmo (...)
As calças de ganga eram o defeito do qual ninguém, a não ser Deus, se conseguia eximir. Estávamos servidos para a vida. Que pedíssemos a Deus que o estimasse, todos os dias, nas nossas orações.
Em Portugal, segundo informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa média de suicídios está acima da média global, nomeadamente 13,7 por cem mil habitantes, face a uma taxa mundial de 10,7. Ainda segundo a OMS, suicidam-se diariamente em todo o mundo cerca de 3000 pessoas, uma a cada 40 segundos. E por cada pessoa que se suicida, 20 ou mais cometem tentativas de suicídio. O número anual de suicídios representa cerca de metade de todas as mortes violentas registadas no mundo, estimando-se que, em 2020, esse número atinja 1,5 milhões, revela a OMS.
Este ato de desespero está comumente associado a depressões, alcoolismo, desordens bipolares, esquizofrenia e ansiedade extrema. Estima-se que cada tentativa de por termo à vida afeta pelo menos seis pessoas circundantes e, portanto, milhões sofrem com este problema todos os anos.
(...)
Ajude essa pessoa a pedir ajuda
O suicídio é evitável.
(...)
Mantenha-se a par e em contacto regular com o individuo, continuando a apoiá-lo sem julgamentos. Deixe-o sentir que está disposto a falar e ouvir. Pode ser difícil e, ao mesmo tempo, avassalador dar apoio a alguém que enfrenta problemas de saúde mental e pensamentos suicidas. Perceber a doença mental que têm pode ser muito útil para os ajudar. Tente encontrar informação junto de fontes fidedignas.
Mas não se esqueça, o processo é tão traumatizante para quem tem a doença, como para os que estão por perto a tentar ajudar, movendo forças e fundos na tentativa de ajudar um amigo, familiar ou colega. É, nesse sentido, aconselha-se também a que a pessoa não descure de si. Procure apoio especializado de forma a que o seu esforço seja eficaz e não o afete em demasia.