bondade de quem
tinha a bondade de quem não percebe o que se passa à volta
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
Publicações Dom Quixote (2018)
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tinha a bondade de quem não percebe o que se passa à volta
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
Publicações Dom Quixote (2018)
amigos que falavam sem freio como o Nélson e por amigos como o Samuel, cujo silêncio dizia mais.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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PAR Impar 1 2 1 (1915-16)
Amadeo de Souza Cardoso
Quanto a ela, ver de fora significava ver o corpo gasto de pessoa que a vida moldou para o torto.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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Waiting for a Client, c.1879
Edgar Degas
A poucos metros, o Vila Galé, ocupado por gente com dinheiro para quartos de hotel e festas sunset, cuspia para a ruína. Ou, pior, parecia indiferente, sobranceiro ao sítio que, abandonado, vivia muito mais do que os capados que alugam suítes, bebem cocktails, fodem assim ao de leve e trabalham em matadouros de alma como a Deloitte ou a PWC.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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O Samuel devia ter razão, talvez a felicidade seja só ponto de vista.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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O Caso Gisberta motivou uma espécie de levantamento nacional que acabou por morrer sem grandes consequências, como quase tudo o que é português.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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persistia como as tareias que se apanham na infância e nos deixam o corpo dorido até ao fim da vida.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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Kim Phuc
08 de junho de 1972
Em 1989, o quarteirão enfaixado entre a Avenida de Fernão de Magalhães, a Rua Abraços e a Rua da Póvoa abrigava umas quantas pessoas escondidas em prédios do século XIX. Sobreviviam nas cozinhas, nos quartos, nas salas, onde quer que os prédios dessem calor (...)
Nesse Inverno, os buldózeres executaram a ordem de despejo. Os que lá tinham ficado foram acordados pelos operadores que berravam «Fujam, a máquina é cega!». Deram com as paredes destruídas, as camas esmagadas, as molduras das fotografias partidas, conformaram-se e seguiram pelas ruas, uns de roupão, outros de casaco vestido à pressa. Em três dias ninguém se lembrava deles.
O empreiteiro queria construir em tempo recorde por medo de que a Câmara inventasse novas burocracias (...) Depois chegaram as retroescavadoras, que entregaram pazadas de entulho aos reboques dos camiões. E assim cavaram fundações com quinze metros de profundidade protegidas por taipais com placas que avisavam para o óbvio: perigo (...)
Era evidente que a Fernão de Magalhães não merecia o hipermercado pensado para aquele espaço. Veja-se os prédios em volta. Tudo feio, menos os azulejos antigos e o Vila Galé, a torre mais alta da cidade. Dito isto, cuspiam para o chão, concluíam «A vida é assim, o nosso Porto não aprende» (...)
As gruas ainda levantaram um torreão de cinco andares na fachada que dava para a avenida. E então soube-se. Em 1992, as obras pararam por imbróglio jurídico, excesso burocrático, corrupção ou falta de dinheiro, enfim, um dos cenários a que estamos habituados.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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Calei-me porque achei ridículo, angustiante também, que o lixo de um fosse o entusiasmo de outro.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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Certo dia perguntei ao senhor Xavier porque lhe chamou Piccolo e ele respondeu que gostava muito do Pinóquio, «Piccolo como tu», e eu fiquei a perceber tanto como antes.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
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