sagradas famílias
e o meu pai, descalço, a exilar-se no sofá da sala de membros encolhidos como um gafanhoto numa haste a protestar
- Quase não há dia que não fique para aqui senhores
a coçar a nuca com as patas de cima, a minha mãe
- Hoje estás impossível
e até o sol me trazer de novo mais nada, apenas resmungos parecidos com um tractor em ponto morto ele que de manhã em calças de pijama se barbeava a cantarolar, de bocadinho de algodão colado à bochecha porque se cortou, por baixo do algodão um traço vermelho que teimava em não secar e a minha mãe na cozinha a aquecer o leite de costas para toda a gente, abrindo e fechando gavetas com força
- Onde pára o teu babete?
António Lobo Antunes – Para Aquela Que Está Sentada No Escuro À Minha Espera (2016)
Publicações D. Quixote | Leya (2016)