pedro(a)s
Conheci a maturidade infantil
das crianças, mas também não é isso
(...)
fartei-me de tentativas.
Desejo antes a ferida sólida
que não sara, o enigma, essa coisa
que se transporta inteira pelo Universo
como o irreprimível grito
do sangue no vento avisando
o futuro de que não ficámos ilesos
à espessa rede do Amor
(...)
Aperta-me esse mitigado anel tão alto
(...)
porque a angústia, doce angor, e a esperança
informam o meu sangue
do regresso da tua ausência.
Barbeio a infâmia do nosso desencontro,
o homem pode punir-se numa higiene
precária, pode pintar-se e eu
cumpro imenso os rituais
do disfarce.
Fumo a tirania do meu medo, para mim
é sede de ser tarde
a vinda do teu húmido oásis
sotto voce e eu,
eu reduzido a nada.
A morte avança, ama-me sob a luz
da tua voz
cobrindo a terra elementar onde prometidos
potros de crinas soltas e alma leve
se opõem ao vazio.
Paulo da Costa Domingos in Cabeças
Paulo da Costa Domingos – Carmina (1971-1994)
Antígona (1995)