lx 1808
O INTENDENTE GERAL
DA POLICIA
DO REINO DE PORTUGAL
Considerando o perigo que póde
seguir-se da multidão de Cães
vagabundos, que girão pelas
ruas de Lisboa no tempo
dos grandes calores;
Considerando outrosim nos des-
agradaveis acontecimentos, que
dahi muitas vezes resultão, prin-
cipalmente de noite; e que os
seus ladros, ao mesmo tempo
que perturbão o socego dos Ha-
bitantes, advertem os Roubado-
res do seguimento da justiça,
ORDENA O QUE SE SEGUE:
(...)
VII. As cautélas prescriptas
para fornecer, nos tempos camo-
sos, agua aos Cães, para os pre-
servar da Hydrophobia, são ago-
ra renovadas, e confirmadas de-
baixo das penas existentes contra
os transgressores.
VIII. Os Regulamentos, que
prohibem conduzir Vacas e Ca-
bras pelas Ruas de Lisboa depois
das onze horas do dia, para se
mugirem ás portas das Casas, são
igualmente renovados com as Mul-
tas, e Penas nelles mencionadas.
IX. He igualmente prohibido
que se deixem vagar pelas Ruas,
e encruzilhadas Bois, Vacas, e
Cabras sem Campainha, sob pena
de serem tomadas, e confiscadas
em beneficio dos Hospitaes. Aque-
les, que nestes casos as apanha-
rem, conduzillas-hão imediata-
mente ao Palacio da Intendencia
Geral da Policia do Reino (no
Rocío), onde receberão, se ti-
ver lugar, huma recompensa, ti-
rada do producto da venda.
(...)
Lisboa, nove de Abril de 1808
O INTENDENTE GERAL
da Policia de Lisboa e do Reino de Portugal,
P. LAGARDE.
Dona Beatriz reponta contra a crueldade dos franceses. Dom António admite, sem o dizer, que Lisboa é uma estrumeira. E Henrique considera que os franceses não têm legitimidade para lhes darem ordens nenhumas. Talvez estejam os três cheios de razão.
Álvaro Guerra – Razões de Coração (1991)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)