fazer o mal com o bem
Ao ir embora, o padre disse que a mãe estava agarrada ao tio Carlos. Era ela quem o mantinha vivo. Era por estar sempre a pensar nele que o tio não partia. Mesmo enquanto não estava à cabeceira da cama, a mãe não parava de rezar [...] E durante todo aquele tempo em que se esgotara a fim de ajudar o tio, a minha mãe não tinha feito mais do que prejudicá-lo.
«Não pode ser», pensava. «A mãe é boa. Era ela quem se levantava a meio da noite para ver se ele precisava de alguma coisa.»
A mãe estava do lado do bem. Mas era por ser tão boa que o sofrimento do tio não tinha acabado mais cedo. Tinha acabado de ser convertida numa pessoa desprezível por se ter esforçado tanto a fim de manter alguém vivo.
Hugo Mezena – Gente Séria (2017)
Planeta Manuscrito (2018)