a barreira que une
Se o Raimundo, o pai dele, não lhe tivesse dado biberões de vinho, talvez fosse um homem como outro qualquer (...)
Tudo isso podia ter acontecido se o pai não se tivesse intrometido entre ele e os seus objectivos. Era a sua ideia de que a beber leite o filho não se fazia um homem que o tinha condenado a viver daquela forma. Mas esse ódio não era de agora. Já em pequeno sentia que ele era o empecilho que não o deixava ter uma vida melhor. Desejava que ele não existisse, mas logo a seguir fechava as mãos e fazia força para contrariar esses sentimentos.
«O pai merece perdão». pensava. «O pai merece perdão.»
Era uma coisa má, aquilo que sentia. E ele sabia disso. Tinham-lhe ensinado que era preciso amar o próximo porque os homens eram todos irmãos. Percebia que isso criava uma barreira entre o bem e o mal, entre o que se podia e o que não se podia fazer em benefício de todos.
Hugo Mezena – Gente Séria (2017)
Planeta Manuscrito (2018)