sonho e memória
Acabada a escola, tinham à sua espera o complemento do trabalho familiar. Dar de comer ao gado, ajudar no campo, e mais e mais. Todos os dias. Os relatos sobrepõem-se e não chegam do fundo dos tempos. São frescos de uma arrepiante contemporaneidade:
- Lá em casa dividíamos uma sardinha por quatro.
- Nós dividíamos uma sardinha por sete.
- Eu passei muita fome.
[...]
- Mas quando tocava a brincar, era uma alegria! Era tudo da nossa imaginação e do nosso engenho. Dançávamos, cantávamos, bailávamos. Foram tempos que ninguém sonha como eram. E, contudo, éramos alegres, divertíamo-nos com nada, construíamos os nossos brinquedos. Tristes das crianças de hoje a quem entregam tudo feito e não aprendem a sonhar.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)