duo
Sinto o não e o sim [...]
Porque é tudo tão breve e tão longo, não sei.
Tenho os olhos fechados de abertos de ternura.
António Ramos Rosa in CICLO DO CAVALO - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
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Sinto o não e o sim [...]
Porque é tudo tão breve e tão longo, não sei.
Tenho os olhos fechados de abertos de ternura.
António Ramos Rosa in CICLO DO CAVALO - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Recém-chegado da tropa no ultramar, no início dos anos 70, António ainda não pertencia ao meio musical. Mas, pela forma de estar, de vestir, e de ser, começava a ser um Extraterrestre, num país onde era pecado ser diferente, numa sociedade que tranquilizava os seus terrores arcaicos com a estandardização. «Sempre Ausente», um poema do álbum Anjo da Guarda, ilustra estes tempos e esta busca:
Diz-me que solidão é esta
Que te põe a falar sozinho
Diz-me que conversa
Estás a ter contigo
Diz-me que desprezo é esse
Que não olhas p'ra quem quer que seja
Ou pensas que não existe
Ninguém que te veja
Que viagem é essa
Que te diriges em todos os sentidos
Andas em busca dos sonhos perdidos
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)
Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Quanto a ela, ver de fora significava ver o corpo gasto de pessoa que a vida moldou para o torto.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
Publicações Dom Quixote (2018)
Waiting for a Client, c.1879
Edgar Degas
a maneira como as pessoas vivem quando julgam que não olham para elas sempre me surpreendeu, tudo aquilo que se esconde à vista
António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)
Publicações Dom Quixote (2018)
homem ouve o dia
que há nos teus olhos
António Ramos Rosa in ATLAN - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
e eu de olhos fechados e nuca apoiada na parede a rezar uma Avé Maria que tinha obrigação de pôr as coisas em ordem e não punha
António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)
Publicações Dom Quixote (2018)
Um Mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu jovem discípulo, quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre, e resolveu fazer uma breve visita.
Durante o percurso ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e das oportunidades de aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos.
Chegando ao sítio constatou a pobreza do lugar, sem acabamento, casa de madeira e os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas sujas e rasgadas. Aproximou-se do senhor, que parecia ser o pai daquela família, e perguntou: “Neste lugar não há sinais de pontos de comércio, nem de trabalho. Como vocês sobrevivem”?
Calmamente veio a resposta:
“Meu senhor, temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte nós vendemos ou trocamos na cidade mais próxima por outros gêneros de alimentos. Com a outra parte fazemos queijo, coalhada, etc., para o nosso consumo… e assim vamos sobrevivendo”.
O Mestre agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos, despediu-se e foi embora. No meio do caminho, em tom grave, ordenou ao seu fiel discípulo:
“Pegue a vaquinha, leve-a até o precipício e empurre-a lá para baixo”.
Em pânico, o jovem ponderou ao Mestre que a vaquinha era o único meio de sobrevivência daquela família. Percebendo o silêncio do Mestre, sentiu-se obrigado a cumprir a ordem. Assim, empurrou a vaquinha morro abaixo, vendo-a morrer.
Essa cena ficou marcada na memória do jovem durante alguns anos. Certo dia, ele decidiu largar tudo o que aprendera e voltar ao mesmo lugar para contar tudo àquela família, pedir perdão e ajudá-los.
Quando se aproximava, avistou um sítio muito bonito todo murado, com árvores floridas, carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou desesperado imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sítio para sobreviver.
Apertou o passo e ao chegar lá foi recebido por um caseiro simpático, a quem perguntou sobre a família que ali morou há alguns anos.
“Continuam morando aqui”, respondeu rapidamente o caseiro.
Surpreso, ele entrou correndo na casa e viu que era efetivamente a mesma família que visitara antes com o Mestre. Depois de elogiar o local, dirigiu-se ao senhor que era o dono da vaquinha que havia morrido:
- “Como o senhor conseguiu melhorar este sítio e ficar tão bem de vida”?
A resposta veio com entusiasmo:
- “Tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu. Daí em diante tivemos que aprender a fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos”.
E completou feliz:
- “Assim, conseguimos conquistar o sucesso que seus olhos vêem agora”!
Moral desta história:
Todos nós temos uma “vaquinha”, que nos dá as coisas básicas para sobreviver, mas que nos obriga a conviver com uma cega rotina.
As vezes precisamos empurrar uma vaquinha para vir as mudanças em nossas vidas.
Identifique a sua “vaquinha”.
Veja mais Mensagens: História da Vaquinha » Mensagem do Dia http://mensagemdodia.com/historia-da-vaquinha/#ixzz5KHgBuFwA
vache à lunettes
Se os outros não existissem, eu seria completamente feliz - feliz como uma pedra com olhos
George Sand – Diário Íntimo
Antígona (2004)
PASSAGEM DOS OLHOS - PEDRA DA GÁVEA
Ninguém olha a lua da tarde
Italo Calvino - Palomar (1983)
Planeta DeAgostini (2001)
fecho os olhos. vejo luzes de cidades distantes. a noite
distante. vejo o brilho de um sonho tão impossível.
a escuridão é absoluta. a escuridão é infinita.
todos os cegos sabem que a escuridão é a morte.
fecho os olhos. vejo aquilo que se vê com os
olhos fechados.
José Luís Peixoto in OLHOS FECHADOS - A Casa, a Escuridão (2002)
Quetzal Editores (2014)
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